Os celulares são, atualmente, muito mais do que ferramentas para fazer e receber ligações. Eles se transformaram em instrumentos de trabalho e itens essenciais para executar diversas tarefas no dia a dia. Por isso, quando o aparelho é furtado ou roubado, além da perda material, gera-se transtorno na rotina diária da vítima. Nesse cenário, buscando dar respostas efetivas à população e coibir esses crimes, foi lançada, em dezembro de 2024, a Operação Recupera, da Polícia Civil da Paraíba (PCPB). A ação consiste em um amplo trabalho de investigação para identificar autores dessas ocorrências e receptadores de celulares roubados, retomando esses bens e reavendo-os aos seus proprietários. Prestes a completar um ano de atuação, a iniciativa já devolveu mais de dois mil dispositivos em todo o estado.
O trabalho acontece de forma constante, por meio de quatro núcleos espalhados pela Paraíba, atendendo diversas regiões. Eles acompanham os Boletins de Ocorrência (B.O.) relacionados a esse tipo de crime, rastreiam a localização dos aparelhos a partir de seus números de Imei (International Mobile Equipment Identity, na sigla em inglês) e entram em contato com quem está de posse de cada item subtraído, intimando essas pessoas a entregá-lo à polícia. Segundo o delegado titular da 1a Superintendência Regional da Polícia Civil (SRPC), Cristiano Santana, aqueles que efetuam essa devolução voluntária não são processados criminalmente — o que é considerado uma das razões do êxito da operação.
“Se a pessoa vem aqui e devolve o bem, a gente entende que tinha boa-fé quando comprou esse aparelho e ela não responderá por receptação. Mas, se ela dá evasivas, furta-se a comparecer, diz que não está com o bem, não atende mais às ligações da polícia, partimos em busca ativa e, salvo alguma circunstância muito plausível, que justifique ela não ter trazido o celular, formalizamos um TCO [Termo Circunstanciado de Ocorrência] por receptação”, explica. No âmbito da 1a SRPC — que abrange João Pessoa e adjacências —, até o momento, foram 1.250 celulares apreendidos e 1.000 já devolvidos por meio da iniciativa; no núcleo polarizado por Campina Grande, os números chegam a 1.024 aparelhos apreendidos e 1.016 devolvidos; a região de Guarabira soma 430 apreendidos e 120 devolvidos; e no núcleo localizado em Patos, por sua vez, foram 79 celulares apreendidos e 55 devolvidos.
Influência positiva
Ao apontar que o número de denúncias registradas acerca de roubo ou furto de celulares vem crescendo no estado, o titular da 1a SRPC observa que a Operação Recupera tem exercido influência sobre essa tendência. “Hoje, de 10 boletins, oito já vêm com a informação do Imei do aparelho. Houve a conscientização da população sobre a importância de incluir esse número e o aumento da credibilidade no trabalho da polícia. Também se pode pensar que cresceu a criminalidade, mas não, porque verificamos o número de procedimentos instaurados nas unidades. O que houve mesmo foi um aumento dos registros de ocorrências”, ressalta Cristiano Santana.
Os dados relativos à região de João Pessoa servem de exemplo: de janeiro a outubro de 2024, dos 3.056 Boletins de Ocorrência registrados por roubo ou furto de celular, 1.077 continham o Imei; no mesmo período deste ano, o código de identificação foi incluído em 4.303 dos 7.717 boletins formalizados. O crescimento é superior a 150% nos registros de ocorrência e de mais de 290% na inclusão do Imei.
O delegado continua: “Houve um grande aumento de Boletins de Ocorrência porque começou, justamente, a se acreditar que esses aparelhos seriam recuperados. Antes, esse crime ficava subnotificado; os aparelhos eram roubados e as vítimas não denunciavam, porque achavam que não ia dar em nada”.
Iniciativa busca operadoras para rastreio
Caroline Alves, integrante do Núcleo Recupera da região de João Pessoa, relembra que o setor foi instituído em 17 de dezembro de 2024, em cerimônia com o governador João Azevêdo, quando também houve o primeiro evento de entrega de celulares recuperados pela PCB. “Cada B.O. registrado chega até nós por um sistema integrado e, a partir de cada um deles, vamos atrás dos aparelhos, junto às operadoras”, relata.
Assim, se a vítima informar o Imei do celular, o núcleo oficializa as empresas de telefonia, para que informem se aquele dispositivo está vinculado a algum número em uso e quais dados de propriedade estão cadastrados junto à operadora — como nome, telefone e endereço. É possível obter essas informações sem o Imei, a partir do número de contato utilizado pela vítima no momento do roubo ou furto, mas o caminho até a localização do item será mais longo.
Com isso, a pessoa em posse do aparelho subtraído é intimada para entregá-lo ao Núcleo Recupera. Apenas como fruto do trabalho da equipe da capital, formada por quatro servidores, já foram promovidos seis eventos de devolução de celulares recuperados e uma nova edição deve ocorrer no próximo mês. “Juntamos uma determinada quantidade de aparelhos para realizar esses eventos e convocamos as vítimas para receber de volta seu bem”, comenta Caroline, relatando que, até então, só houve cinco casos em que os intimados não compareceram voluntariamente para devolver os itens rastreados à polícia — e foi preciso instaurar procedimentos contra eles.
“Na maioria das vezes, as pessoas não querem ficar com nenhum produto ilícito e comparecem para devolvê-lo. É até um processo educativo, elas dizem que confiaram em quem vendeu, mas que nunca mais comprarão um celular sem nota fiscal”, conta.
Outra integrante do mesmo núcleo, Caroline Albuquerque, destaca a gratidão das vítimas ao serem contatadas pela PCPB sobre a recuperação de seus dispositivos. “É a parte mais gratificante. As pessoas ficam muito felizes, agradecem pelo nosso trabalho, dizem que já tinham dado o item como perdido, querem vir logo buscá-lo”, destaca. “Já teve gente para quem conseguimos recuperar dois aparelhos. Um foi furtado em janeiro, outro, em fevereiro e, em abril, devolvemos ambos”, recorda Caroline Alves.
Equipes levam dois meses para retomar telefones
Segundo a PCPB, 99% dos celulares recuperados são devolvidos em perfeito estado, sem danos, permitindo que seus legítimos donos voltem a usá-los normalmente. “A Operação Recupera aproxima a polícia das pessoas e ajuda a resgatar nossa credibilidade”, pontua Cristiano Santana. “A devolução de um celular é algo muito pessoal, que afeta diretamente a vida delas. Elas fazem o B.O. acreditando no trabalho policial”, continua.
Em média, com os esforços da iniciativa, um aparelho subtraído é reavido em cerca de dois meses após o registro de seu roubo ou furto. “Tem que ter um tempo de o item ser vendido [para um terceiro], estar em uso e chegar, também, a resposta da operadora”, afirma Caroline Alves.
A partir das apreensões e dos relatos de quem devolve os celulares, vem sendo feito um mapeamento dos locais com a maior recorrência de venda de dispositivos roubados ou furtados. Uma nova etapa da força-tarefa será investigar esses espaços e vendedores.
Conforme Caroline Albuquerque, não há regiões específicas da capital que se destaquem quanto à ocorrência desses crimes. Porém, em épocas de festividades, como o Carnaval, os casos tendem a aumentar, pois os criminosos aproveitam-se da aglomeração e da distração da população. “Os furtos são mais comuns do que os roubos. Dentro dos ônibus também há muitas ocorrências”, ressalta. A orientação é que as pessoas evitem guardar o celular em locais de fácil acesso, sobretudo em bolsos de mochilas nas costas ou em bolsas laterais, onde elas podem não perceber movimentações suspeitas. “Se possível, mantenha o aparelho junto ao corpo, fica mais fácil visualizá-lo”, recomenda Caroline Alves.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de novembro de 2025.
