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Saúde Mental

Brasil tem população muito ansiosa

publicado: 26/06/2023 10h40, última modificação: 26/06/2023 10h40
País também é o quinto mais depressivo, segundo levantamento realizado pela Organização Mundial da Saúde

por Sara Gomes*

O Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Solidão, desigualdade social, salários baixos, falta de segurança pública, estresse no trabalho, relações tóxicas e história de vida são alguns fatores que aumentam o nível de estresse, podendo desencadear um transtorno de ansiedade. Estados de ansiedades frequentes e intensos desencadeiam sofrimento psicoemocional, aumentam também as chances do indivíduo desenvolver diabetes, pressão alta, câncer, infarto e Acidente Vascular Cerebral( AVC).

O psicólogo Moisés Ortega Anton, especialista em Bioenergética Humanista Integrativa, explica que esses fatores estão causando adoecimento na população. “Às vezes você está em um trabalho onde as condições não são tão boas. A exigência por produtividade, limite de prazo e múltiplas tarefas, acabam sobrecarregando o colaborador. A falta de políticas públicas para minimizar a desigualdade social também é outro fator desencadeante do transtorno de ansiedade. As pessoas vivem numa situação de muita dificuldade, com salários baixos que não dão para sustentar uma família de forma digna. Toda essa projeção de um futuro negativo gera ansiedade”, contextualizou.

Desde a infância, Jadleny Santos, 29 anos, cresceu em um lar conturbado. O fato de seu pai ser policial militar impactou muito na sua criação. Ele perpetuava de forma inconsciente, toda violência vivenciada na profissão para a sua casa. “Isso contribuiu consideravelmente para que eu me tornasse uma adulta ansiosa e insegura em determinadas áreas da minha vida, principalmente, no âmbito profissional. A partir do momento que decidi buscar ajuda, que no meu caso a indicação foi da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), tive avanços em todos os aspectos”, revelou.

No seu último emprego foi vítima de desvio de função. Ela foi contratada para exercer a função de secretária, mas sua ocupação na carteira de trabalho foi registrada como assistente administrativo, recebendo apenas um salário mínimo. Além de ser formada em jornalismo, Jadleny possui capacitações voltadas para área administrativa em seu currículo. "Meu chefe percebeu meu potencial e habilidade para comunicação organizacional, então começou a me sobrecarregar com funções que não eram minhas obrigações legais e, para isso, nem tive equiparação salarial para o cargo que fui contratada inicialmente de assistente administrativo. Posso dizer que me senti explorada intelectualmente e mentalmente”, contou.

Como a situação foi ficando insustentável, passou a ter crises de ansiedade recorrentes, uma delas evoluiu para crise de pânico, na qual precisou ser hospitalizada e sedada, pois ficou quase três dias sem dormir. “Devido ao estresse excessivo, este emprego afetou minha saúde física e mental. Posso dizer que devemos ficar atentos aos gatilhos. No meu caso, o local onde estava trabalhando foi um gatilho para minha ansiedade. Ainda me mantive no local por alguns meses pois havia fatores positivos na empresa, mas que não eram suficientes quando comparados aos prejuízos. Saí de lá muito mais fortalecida, porém, aprendi a priorizar minha saúde acima de tudo”, declarou.

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Foto: Reprodução/Pexels

Um conselho que Jadleny daria para quem sofre de ansiedade é aceitar e compreender que esse problema existe e também buscar ajuda do psicólogo e de outros profissionais atuantes na área da saúde mental. “Modificar os hábitos alimentares e fazer uma atividade física ajuda a controlar a ansiedade. Aceitar ajuda é o primeiro passo. Ninguém é obrigado a enfrentar esse problema sozinho. Ansiedade é um transtorno, e se tratado com a devida atenção é possível ter uma vida muito mais saudável”, concluiu.

O psicólogo Moisés explica que a história de vida atrelada a fatores externos pode desencadear um transtorno de ansiedade no indivíduo. “Se uma pessoa que sofre com ansiedade, nasceu em uma família acolhedora e funcional, ela terá mais chance de lidar com a ansiedade e estresse de forma mais madura emocionalmente. No entanto, pessoas que nasceram em uma família disfuncional são mais ansiosas e têm dificuldade de lidar com uma situação mais estressante”, analisou Ortega.

Mas o que leva uma pessoa a desencadear um estado de ansiedade ou até crise de pânico, segundo o psicólogo, é a sensação de medo e insegurança que faz acionar o sistema nervoso autônomo que ativa o sistema simpático. “Por isso é muito comum que a pessoa tenha taquicardia, falta de ar, tremedeira, frio, voz gaguejando, entre outros sintomas. São sintomas físicos dos órgãos que são regulados por esse sistema. Além disso, vai liberar muita adrenalina e cortisol (hormônio do estresse), deixando o indivíduo em estado de alerta. Além de desencadear sofrimento psicoemocional, a constância dessa condição, aumenta a predisposição de doenças crônicas não transmissíveis”, alertou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 25 de junho de 2023.