O período de desova das tartarugas marinhas nas praias paraibanas termina em julho e a Associação Guajiru, que cuida da preservação da espécie, cadastrou, este ano, 238 ninhos em áreas como Bessa, Jardim Oceania, Manaíra, Seixas, Cabo Branco e Jacarapé, em João Pessoa. Também há ninhos na praia de Ponta de Campina, em Cabedelo; em Akajutibiró e Prainha, na Baía da Traição, e ainda na praia de Costinha, no município de Lucena. Atualmente, restam apenas três ninhos, em Intermares.
Até o final da temporada 2022/2023, a expectativa de nascimentos é de 20 mil filhotes, acompanhando o que ocorreu nas duas últimas, 2020/21 e 2021/22, que tiveram esta média. Antes, conforme a presidente da ONG, Danielle Siqueira, o número de filhotinhos era de 12 mil por temporada.
As praias paraibanas são bastante procuradas para desova pelas tartarugas marinhas. A grande maioria das que desovam no Litoral é composta pela espécie tartarugas-de-pente, mas também ocorreram algumas desovas da tartaruga verde. A tartaruga-de-pente chega a medir 1,20 metro e a verde alcança até 1,50 metro.
Esses animais vivem muito, chegando a alcançar 80 anos. “O fato delas reproduzirem tarde indica que é um animal que vive bastante”, ressalta a presidente da Associação Guajiru. As tartarugas, de modo geral, se alimentam de peixes, plantas aquáticas, algas e crustáceos. Também entram no cardápio águas-vivas, esponjas e moluscos.
Não é raro encontrar ninhos de tartarugas marinhas no Litoral paraibano. Aqueles localizados pela ONG Guajiru são demarcados e monitorados até o nascimento das tartaruguinhas. No entanto, alguns podem não ter sido vistos. Assim, a orientação para quem encontrar ninhos ainda sem demarcação, é sempre informar por meio do SOS Guajiru, sem alterar o local.
Danielle Siqueira afirma que a maioria dos ninhos é localizada pela equipe da Guajiru. Ela destaca ainda que preservar as espécies de tartarugas marinhas traz uma série de benefícios para a natureza.
Fotopoluição e aquecimento
Um dos maiores problemas enfrentados pelas tartarugas marinhas no Litoral é a fotopoluição. As fêmeas adultas se incomodam com a iluminação artificial e, por isso, algumas podem retornar para o ambiente marinho e desovarem no mar, o que leva à perda dos embriões. No caso dos filhotes, a fotopoluição acaba desorientando as tartaruguinhas que acabaram de nascer e elas seguem para o lado contrário ao mar. Assim, se tornam vulneráveis à desidratação e à predação, além de morrerem de exaustão ou atropeladas.
O aquecimento global ameaça o equilíbrio entre a quantidade de fêmeas e machos da espécie
O aquecimento global também interfere na sobrevivência das tartarugas. De acordo com informações da ONG, as tartarugas marinhas têm o sexo dos filhotes determinado pela temperatura da areia. Além disso, o aumento do nível médio do mar pode acarretar na diminuição da faixa de areia para desova.
Outra ameaça é a papilomatose, doença viral que acomete esses animais.
Predadores e armadilhas são obstáculos
Vinte mil filhotes por ano pode parecer um número considerável de novas tartaruguinhas indo em direção ao mar. No entanto, muitas delas não conseguem sobreviver e outras, que vencem os primeiros obstáculos, não chegam à vida adulta. Elas são vítimas de redes de pesca e também não resistem quando se alimentam do lixo jogado no mar, especialmente plásticos.
Além disso, embora o oceano seja a casa das tartarugas, elas acabam sendo vítimas de predadores naturais. Os filhotes, por exemplo, viram isca de qualquer peixe carnívoro. Já as adultas têm os tubarões como principais ‘inimigos’.
Para garantir a sobrevivência das tartarugas marinhas, a ONG alerta sobre a importância de não descartar lixo no meio ambiente, evitando que plásticos e outros objetos sejam levados para o mar e, consequentemente, engolidos pelas tartarugas, provocando a morte desses animais.
De acordo com informações da Associação Guajiru, a poluição marinha é, atualmente, uma grande ameaça às tartarugas marinhas. Elas podem ingerir acidentalmente uma grande quantidade de resíduos ao confundi-los com seus alimentos devido ao aspecto visual ou ao cheiro presente nos materiais. Sacolas plásticas, por exemplo, podem ser confundidas com águas vivas ou algas marinhas.
A pesca predatória, conforme a ONG, acontece especialmente para consumo e comércio da carne de tartarugas, o que constitui crime estabelecido em lei. Já a pesca acidental, um dos maiores problemas enfrentados por essas espécies, ocorre quando as tartarugas morrem afogadas ao se enroscar, ficando presas em redes de pesca armadas de forma irregular ou em local indevido.
A coleta de ovos, apesar de não ser tão frequente, ainda ocorre. Conforme a Associação Guajiru, antigamente, esta era uma prática comum por se tratar de uma fonte de alimento e também porque acreditava-se que os ovos tinham efeito afrodisíaco. A retirada dos ovos de seus ninhos contribuiu muito para que hoje elas estejam ameaçadas de extinção.
Projeto Tartarugas
O Projeto Tartarugas Urbanas, desenvolvido pela Associação Guajiru, atua na proteção das áreas de desova de tartarugas marinhas no Litoral da Paraíba. O trabalho começou em 2002 com o objetivo de evitar os efeitos nocivos da urbanização nas áreas de maior presença de ninhos das tartarugas. Diariamente, a equipe monitora mais de 13 quilômetros de praia nas áreas de maior ocorrência de desova de tartarugas marinhas. A intenção é localizar e proteger os ninhos para garantir que os filhotes cheguem ao mar em segurança.
A Associação Guajiru é composta exclusivamente por voluntários e conta com uma equipe de mais de 40 integrantes divididos em diversas áreas de atuação, com o objetivo de atender às demandas.
Espécies mais comuns
As espécies mais comuns no Litoral paraibano são a tartaruga-de-pente, cujo nome científico é Eretmochelysimbricata, e a tartaruga verde ou Cheloniamydas.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 27 de junho de 2023.