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Caminhoneiros paraibanos descartam adesão à greve geral

publicado: 05/12/2025 08h43, última modificação: 05/12/2025 08h43
2025.12.04 Pralização nacional caminhoneiros © Leonardo Ariel (13).JPG

CNTTL disse que não compactua com manipulação política | Foto: Leonardo Ariel

por Íris Machado*

O presidente do Sindicato dos Condutores e Empregados de Empresas de Transportes de Combustíveis e Produtos Perigosos da Paraíba (Sindconpetro-PB), Hermerson Galdino, negou a adesão à paralisação nacional programada para ontem.  A manifestação foi convocada na última segunda-feira (1o) pelo ex-desembargador Sebastião Coelho e pelo representante da União Brasileira dos Caminhoneiros (UBC), Francisco Dalmora Burgardt — o Chicão Caminhoneiro. A associação estima que 20% dos 1,2 milhão de caminhoneiros autônomos devem participar da movimentação inicial.

“Uma greve da categoria é de grande proporção. A gente sabe do transtorno que ela pode trazer para a economia do país e do nosso estado. Para a gente aderir a uma manifestação dessa, precisamos ter um ritual, uma discussão para definir as pautas de reivindicações, coisas que não aconteceram. A gente vem estudando a possibilidade de fazer uma paralisação de advertência, mas não tem data prevista”, explica o líder do Sindconpetro-PB.

Para ele, a greve prevista teria interesses políticos independentes das reivindicações dos motoristas. “A gente vê que a discussão de algumas pessoas que se apresentaram como líderes é a anistia de quem participou do ato de 8 de janeiro. Não tem nada a ver com a pauta dos caminhoneiros, com as dificuldades que a gente enfrenta, as nossas necessidades. Isso a gente vem discutindo na Câmara Federal, no Senado”, revela.

Esse pensamento é compartilhado pelo presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, conhecido como Chorão. “Estão levantando esse movimento para defender político A ou B. Eu não posso usar a categoria para fazer esse tipo de manifestação. Nós lutamos pelo sistema de transporte”, argumentou em vídeo publicado na última segunda (1o).

Na terça-feira (2), a UBC protocolou uma petição na Presidência da República com 18 demandas da categoria, a exemplo da estabilidade contratual, a reestruturação do Marco Regulatório do Transporte Rodoviário de Cargas e a garantia de aposentadoria especial após 25 anos de atividade. Outro pedido é a regularização da situação de motoristas envolvidos em movimentações anteriores.

Apesar desse movimento promovido pela UBC, a Abrava e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) negam indicativo de greve.

Em nota, a CNTTL reafirmou que “não compactua com movimentos de manipulação política que utilizam uma das categorias de transporte mais importantes do país para tal finalidade”.

Manifestações anteriores

Em maio de 2018, caminhoneiros bloquearam rodovias em pelo menos 24 estados e no Distrito Federal para exigir a redução nos preços do óleo diesel, a isenção de impostos como o PIS/Cofins sob o combustível e a fixação de uma tabela de preço mínimo de frete.

Os trabalhadores organizaram-se por meio de grupos de WhatsApp, frente aos aumentos sucessivos no preço do diesel nas semanas que antecederam a mobilização. Alguns manifestantes também cobraram por uma intervenção militar e pediram a saída do então presidente Michel Temer do Poder Executivo Federal.

Consequências

Nos 10 dias de manifestação, cirurgias eletivas no Complexo Hospitalar Tarcísio de Miranda Burity, o Trauminha de Mangabeira, e no Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), em João Pessoa, foram suspensas. Cerca de 95% dos pontos de venda do estado ficaram sem gás de cozinha, de acordo com o Sindicato dos Revendedores de Gás da Paraíba (Sinregás-PB). Além disso, por conta das interdições, não havia combustível disponível para abastecer aviões nos aeroportos Castro Pinto, na capital, e João Suassuna, em Campina Grande, segundo a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).

Os efeitos da crise incluíram ainda frotas de ônibus reduzidas, falta de combustíveis e alta de preços em postos de gasolina, cancelamento de aulas em escolas e universidades, prateleiras vazias em supermercados e a interrupção da produção em fábricas. Na época, o governo levantou a suspeita de locaute, tipo de paralisação ilegal promovida por empresários. A greve só se encerrou após os caminhoneiros e a União estabelecerem um acordo capaz de atender às solicitações da classe.

Outra movimentação da categoria aconteceu em setembro de 2021, liderada por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. A mobilização não foi reconhecida por entidades que representam os caminhoneiros.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 5 de dezembro de 2025.