As condições de um dos principais pontos turísticos de Campina Grande — o Açude Velho — vêm sendo motivo de queixas dos moradores e turistas que passam pela região. Segundo eles, o local tem deixado de ser um ponto agradável para passeio e para a prática de atividades físicas devido à sujeira e ao mau cheiro.
Entre as principais reclamações dos campinenses em relação ao reservatório, está a morte dos peixes, o que causa mau odor no lugar. “Percebo que tanto durante o pico do período chuvoso como no verão o mau cheiro fica mais forte. Fica horrível, além de infestar de mosquitos no fim da tarde. Já houve períodos em que eu deixei de vir passear com o Thor, por aqui porque estava insuportável”, relata Fabiane Guimarães, moradora do bairro Açude Velho.
Para quem trabalha no local, também é difícil acostumar-se com o odor. Maria Luíza Vieira é caixa de um dos quiosques instalados no Açude Velho e conta que sempre ouve os clientes reclamando da situação. “Principalmente nessa época de fim de ano, em que o movimento é maior, todos os dias ouvimos alguém se queixar. No fim da tarde, o mau cheiro fica ainda mais forte, por conta do vento”, narra a trabalhadora. 
Construído de 1829 a 1831 para aliviar os efeitos de uma forte seca pela qual a região passou, o Açude Velho foi, por muito tempo, uma importante fonte de abastecimento de água para a Rainha da Borborema. Com a modernização e industrialização da cidade, caracterizada também pela construção, na década de 50, do Açude Epitácio Pessoa — mais conhecido como Boqueirão —, o reservatório institui-se como um espaço de lazer e cultura para os campinenses.
Hoje, no entorno do Açude Velho, estão localizados alguns símbolos arquitetônicos e culturais da cidade, como o Museu de Arte Popular da Paraíba (Mapp) e o Monumento Farra da Bodega. Na proximidade desses marcos, a população relata sentir o odor mais intensamente.
De acordo com a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos e Meio Ambiente (Sesuma), a falta de chuvas regulares no município agrava o problema do mau cheiro no açude. Com o baixo volume de água, há uma maior proliferação de algas e intensifica-se o processo de assoreamento — que consiste no acúmulo de sedimentos, como terra, lixo e outros detritos no fundo e no leito do manancial. Esse acúmulo reduz a profundidade e a capacidade de armazenamento de água do reservatório.
Para Etham Lucena, diretor do Instituto Nacional do Semiárido (Insa) e coordenador do Laboratório de Ecologia Aquática da Universidade Estadual da Paraíba (LAEq/UEPB), o Açude Velho também enfrenta um processo de eutrofização. O excesso de fósforo, causado pelo descarte de esgoto e resíduos, estimula uma proliferação descontrolada de algas e plantas aquáticas que cobrem a superfície da água, bloqueiam a luz solar e provocam desequilíbrios no ecossistema, resultando na morte de organismos aquáticos e na degradação do reservatório.
Apesar da gravidade, Lucena destaca que esse cenário é reversível. “Esse é um problema ambiental de longa data e a eutrofização, ou seja, a poluição orgânica, é um grande câncer das águas do meio ambiente. Mas o Insa tem projetos para despoluir a água, e a ação política é fundamental para angariar recursos financeiros e trazer a ciência como solução. Eu digo sempre que a água é um espelho que reflete o que está acontecendo na sociedade e a imagem que vemos no Açude Velho não é boa. A sociedade precisa ser parte da solução, exercendo uma pressão positiva e requerendo o investimento dos seus tributos para o bem-estar social”, declarou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 5 de dezembro de 2025.