Com a aproximação do verão, não são apenas as temperaturas que sobem em todo o país — as populações de ratos nas cidades também tendem a crescer. Por isso, em João Pessoa, a Gerência de Vigilância Ambiental e Zoonoses (Gvaz) tem intensificado o combate a esses roedores, com aplicação de venenos para controle das pragas e ações de educação ambiental. O trabalho é feito em comunidades, parques e órgãos públicos da capital, além dos pontos de maior proliferação dos animais — como a orla, locais com concentração de lixo e de material reciclável, o Distrito Mecânico e o Bairro das Indústrias.
Pollyana Dantas, diretora da Gvaz, explica que, a depender do local de aplicação, são utilizados três tipos de raticida: granulados, em pó ou pastosos. “A gente faz esse processo de maneira segura, tanto para os outros animais como para as pessoas que moram naquelas regiões, como crianças e idosos, para que não haja nenhum tipo de contato com esse veneno. E essa aplicação é feita exclusivamente por nossos agentes de combate a endemias, que são qualificados e capacitados para isso e tomam todos os cuidados necessários, por meio do uso de EPIs [Equipamentos de Proteção Individual]”, esclarece Pollyana.
Outra preocupação da Gvaz é com a redução dos impactos ambientais causados pelos venenos. Nesse sentido, são feitos estudos para direcionar a melhor forma de aplicar os raticidas, de acordo com as características físicas dos locais e com a época do ano. “A gente evita fazer a aplicação do veneno em período chuvoso, para que não haja nenhum tipo de contaminação do solo, porque não se pode aplicar um pó numa área encharcada, senão ele vai contaminar aquela terra”, complementa a gestora.
Ainda segundo Pollyana, a Gvaz atua na conscientização da população, especialmente durante as intervenções nas comunidades. O órgão também promove palestras educativas junto a penitenciárias, hospitais e unidades de educação da cidade. O foco é na prevenção de uma das doenças mais frequentemente transmitidas pelos roedores: a leptospirose, adquirida pelo contato com a urina de animais infectados. “Muitas pessoas acham, por exemplo, que, se um rato rói a lateral de uma melancia, elas podem só retirar aquela parte e comer o restante. Mas não podem, porque onde o rato come, ele urina. Então, se ele teve acesso a uma fruta, a fruta inteira tem que ser jogada no lixo”, orienta.
Riscos de saúde
Além da leptospirose, outra patologia recorrentemente transmitida pelos ratos é a peste bubônica, adquirida após a picada de pulgas que parasitam o animal. As duas infecções têm sintomas comuns, como febre alta e dores musculares, mas diferem em outros sinais. Na primeira, podem ocorrer dor de cabeça, vermelhidão nos olhos e icterícia — coloração amarelada na pele, nas mucosas e nos olhos. Já a pessoa acometida pela peste pode sentir calafrios e inchaço dos gânglios linfáticos.
Infecções
Por meio de palestras e intervenções educativas, prefeitura alerta população sobre o perigo de mazelas como leptospirose e peste bubônica
O clínico-geral Felipe Gurgel explica quando é necessário procurar acompanhamento médico. “É crucial buscar atendimento ao apresentar qualquer um desses sintomas, especialmente febre alta, ou após contato direto com ratos ou com seus excrementos, mesmo sem sintomas imediatos. Também recomendo buscar atendimento de emergência se houver mordida, para prevenir infecções”, afirma.
Outras ocasiões em que pode ser necessário recorrer a um especialista são casos de sintomas gripais ou gastrointestinais, quando a pessoa mora ou trabalha em uma área com infestação de ratos, ou, ainda, se o paciente tiver o sistema imunológico comprometido e suspeitar de exposição aos roedores.
As infecções, porém, não são os únicos transtornos que esses animais causam. De acordo com o clínico-geral, os pelos e os excrementos dos ratos podem contaminar alimentos e provocar alergias. Além disso, a presença constante desses roedores no ambiente doméstico pode levar à ansiedade e à perturbação do sono, ou mesmo danificar estruturas, como fiações elétricas.
Cuidados dentro e fora de casa são essenciais
Para evitar os riscos e aborrecimentos causados pelos ratos, é necessário cuidar dos espaços de convivência. “O lugar onde você vive ou onde você trabalha não pode ter frestas, entulhos no quintal, buracos onde os ratos entram e se acumulam, ou aqueles ‘quartos de tralhas’, que todo mundo tem em casa. Se você mora vizinho a um terreno baldio, com um ‘mato’ malcuidado, você tem que limpar esse terreno e tirar pelo menos 2 m da vegetação que está perto de sua casa. Isso vai lhe fazer bem e evitar ratos e outros bichos”, aconselha Felipe Gurgel.
"Jogam lixo no terreno baldio ao lado da minha casa. Não adianta eu limpar e o vizinho não fazer o mesmo"
- Maria da Silva
Além disso, é preciso ter senso de coletividade, como demonstra o relato de Maria da Conceição da Silva. Ela mora no Bairro das Indústrias, área com alta concentração desses roedores em João Pessoa, e trabalha como ambulante na Praia de Tambaú, junto com seu marido. Conforme Maria, o casal costuma ter dificuldades com a presença desses animais, em parte, por má vontade da vizinhança. “Na minha rua, o carro do lixo passa três vezes na semana, mas parece que o povo tem preguiça de colocar o lixo no saquinho e esperar ele passar. Aí, jogam tudo no terreno baldio ao lado da minha casa. Eu até limpo tudo direito, só que a gente vive trabalhando na praia e só chega em casa à noite. Então, não adianta eu limpar e o vizinho não fazer o mesmo”, desabafa a vendedora.
O esforço individual na prevenção à disseminação dos ratos deve, então, unir-se à ação conjunta de vizinhos e à intervenção institucional. De acordo com Pollyana Dantas, se a infestação de ratos ocorrer em espaços coletivos, a população pode acionar a Gvaz. Para isso, há dois números de telefone disponíveis: 3213-7781 e 3213-7782. “Quando a gente recebe um chamado, faz a visita técnica e o estudo daquele quarteirão e já inicia o combate, por meio da aplicação de venenos na parte externa das casas — como caixas de gordura, rede de esgoto, calçadas e muros”, conclui a gestora.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de outubro de 2024.