Notícias

Dezembro vermelho

Casos de Aids têm queda na Paraíba

publicado: 01/12/2023 08h47, última modificação: 01/12/2023 08h47
Dados da SES apontam que em 2022 foram 319 novos registros da doença, e esse ano o número foi de 154
foto 2.jpeg

Dia Mundial de Combate à Aids foi instituído há 35 anos, no dia 1o de dezembro, data que se descobriu o vírus - Foto: Freepik

por André Resende*

No dia em que é lembrado o combate ao vírus HIV e à Aids em todo mundo, a Paraíba apresenta recuo no número relativo de casos. Dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES) indicam redução tanto no número de diagnósticos de HIV (quem contraiu o vírus) por grupos de 100 mil habitantes, como também na quantidade de pessoas que têm Aids (quem desenvolveu a doença).

Considerando apenas os dados de novos quadros de pessoas convivendo com a Aids, a redução foi significativa. Em 2022 foram 319 novos casos de paraibanos com Aids, enquanto em 2023 foram 154, uma queda de 58%. Quando considerada a taxa de casos da doença por grupos de 100 mil habitantes, o número passa de 7,4 para 3,8, a menor da série histórica iniciada em 2020.

A SES também apontou queda no número de casos diagnosticados com HIV por grupos de 100 mil habitantes, mesmo a população tendo crescido. O montante registrado no ano passado era de 20,1 casos a cada 100 mil pessoas, e esse ano passou para 15 a cada 100 mil habitantes. Isso corresponde a uma queda de 25% na taxa.

“No ano de 2023, todas as regiões de saúde registraram queda na taxa de detecção de Aids, configurando um cenário importante na qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV”, aponta o relatório da SES. A maior parte dos casos é de pessoas na faixa etária dos 30 aos 39 anos (31,4% do total).

Perfil

A maior parte dos casos, considerando as informações fornecidas no diagnóstico, aponta que foram de pessoas com orientação heterossexual, correspondendo a 35,4% do total. O perfil, no entanto, fica comprometido porque 39% dos novos registros de pessoas convivendo com a Aids não forneceram informações sobre o assunto.

A taxa de novos casos de HIV por 100 mil habitantes é a menor dos últimos três anos. Porém, a queda não deve ser motivo a população relaxar com relação à prevenção.
O mesmo estudo aponta um aumento de 28,1% no número absoluto de novos casos de HIV. Em comparação ao mesmo período do ano passado, os diagnósticos passaram de 476 para 610 em 2023.

João Pessoa, Campina e Santa Rita lideram casos

O Dia Mundial de Combate à Aids foi instituído há 35 anos no dia 1° de dezembro, data em que foi feita a descoberta do vírus pelos cientistas. Naquela época, em todo o mundo, 65,7 mil pessoas já tinham sido diagnosticadas com o vírus e 38 mil já tinham falecido, conforme dados apresentados pelo Ministério da Saúde.

A maior parte dos novos casos, aliás, foram detectados em João Pessoa, com cerca de 46% do total de diagnósticos positivos neste ano. Campina Grande, com 14% do total, e Santa Rita, com 4%, fecham as três cidades com mais casos novos de HIV no estado.

Para ajudar no trabalho de prevenção, com o fortalecimento de campanhas educativas, bem como no acolhimento de pessoas que passam pela detecção do diagnóstico, a SES conta com uma lista de 18 ONGs que atuam diretamente na área: Associação das Prostitutas da Paraíba (Apros-PB), Ação Social Arquidiocesana (ASA), Associação dos Homossexuais de Campina Grande, Centro da Mulher 8 de Março, Casa da Mulher Renasce Companheiras, Cordel Vida, Grupo de Apoio a Vida (GAV), CIPMAC, Movimento do Espírito Lilás (MEL), Astrapa-PB, Amazona, Esperança no Amanhã (ENA), Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids - RNP/CG, Grupo LGBT de Campina Grande, Missão do Desenvolvimento Social (MDS), Grupo de Mulheres Maria Quitéria. Fórum ONG/Aids, Diversidades, Gapev, Missão e Desenvolvimento Social, Grupo Diversidades.

Discriminação é um dos principais desafios dos pacientes

Estigma e discriminação estão entre os principais obstáculos para prevenção, diagnóstico e tratamento de pessoas vivendo com HIV/Aids. Esse comportamento pode gerar violência e afastar as pessoas dos serviços de saúde. Neste dia 1º de dezembro, Dia Mundial de Luta Contra a Aids, o Ministério da Saúde Alerta que a epidemia ainda representa um importante problema de saúde pública no Brasil. No Complexo de Doenças Infectocontagiosas Clementino Fraga, referência no Estado para a doença, de 2020 a 2023 foram confirmadas 2.109 pessoas com novos diagnósticos de HIV/Aids.

Segundo a Gerente Operacional Condições Crônicas e IST da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Ivoneide Lucena, a Paraíba tem uma rede de atenção às pessoas com HIV/Aids no Estado. São sete serviços para atender novos casos, duas maternidades (federais) para fazer o pré-natal, 15 maternidades de referência para realização do parto, 12 unidades para dispensação de medicamentos (o usuário pode escolher onde pegar essa medicação), 13 locais de referência para a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) e seis locais de referência de Profilaxia Pré-exposição (PrEP). “Além disso, fizemos a aquisição de dois milhões de preservativos com recursos próprios e aquisição de fórmula infantil para crianças expostas ao HIV/Aids e ao HTLV, que recebem mensalmente até completar 1 ano de idade”, explicou.

HIV X Aids

A diretora clínica e médica infectologista do Clementino Fraga, Adriana Cavalcanti, explicou que Aids é o termo em inglês para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, ela é a manifestação da infecção pelo HIV.

“A gente se depara com a doença em dois espectros. Um é quando tem HIV, quando tem o vírus e a doença ainda não tem manifestação. A Aids é quando tem a manifestação da doença, com todos os sintomas conhecidos”, disse.

A especialista explicou ainda que o vírus ataca as células de defesa das pessoas e, por isso, ficam mais suscetíveis a doenças. “Infecções oportunistas como pneumonia grave ou meningite por agentes atípicos, perda de peso intensa, candidíase oral ou no esôfago, lesões de pele com frequência, coceira intensa no corpo”, exemplificou.

Para haver a transmissão, o líquido contaminado de uma pessoa tem que penetrar no organismo de outra. Isto se dá através de relação sexual sem o uso do preservativo (camisinha), ao se compartilhar seringas, em acidentes com agulhas e objetos cortantes infectados, na transfusão de sangue contaminado, na transmissão vertical da mãe infectada para o feto durante a gestação ou o trabalho de parto e durante a amamentação.

Tratamento é disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde

Medicação HIV (1) - Divulgação.jpeg
Paraíba tem 12 unidades de dispensação de medicamentos - Foto: Divulgação

O tratamento é ofertado pelo SUS, por meio da Rede Estadual de Saúde, e pacientes com HIV/Aids têm acesso gratuito aos medicamentos antirretrovirais. Os 223 municípios da Paraíba disponibilizam o teste rápido para a detecção do vírus nos postos de saúde e em 20 minutos é possível receber esse resultado. Em casos positivados, o usuário é encaminhado para os serviços de referência da Paraíba, orientado a fazer exames laboratoriais e acompanhado por um infectologista.

Como medidas de proteção, os usuários têm a facilidade de acesso aos preservativos nas unidades básicas de saúde em todos os municípios paraibanos, além da disponibilização de forma descentralizada das tecnologias para prevenção e o tratamento que inclui o tratamento antirretroviral como medida de prevenção; a Profilaxia PósExposição ao HIV (PEP), que é o uso de medicamentos diante de uma situação de risco; e a Profilaxia Pré -Exposição ao HIV (PREP), que consiste no uso diário de medicamento antirretroviral para evitar a infecção pelo vírus.

A infectologista Adriana Cavalcanti explicou que o tratamento é baseado em evitar que a imunidade do paciente caia. “O tratamento antiretroviral é para impedir que o vírus se multiplique no organismo, impedir que a imunidade caia e apareçam os sintomas e também para evitar a transmissão. Quanto mais vírus tem, maior a chance de transmitir para outra pessoa. Com o tratamento correto, a chance de transmissão é reduzida”, pontuou.

Discriminação

De acordo com o Ministério da Saúde (MS), atitudes negativas (estigma e discriminação), muitas vezes enraizadas em mitos e medos infundados, não apenas prejudicam o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas já afetadas, mas também contribuem para a disseminação do vírus e exacerbam desigualdades já existentes, especialmente entre as populações mais vulneráveis. Para barrar o preconceito, a gerente operacional da SES, Ivoneide Lucena, explica que a SES oferta cursos na metodologia de Ensino a Distância (EAD) para professores e alunos da Rede Estadual com várias temáticas e informações voltadas ao HIV e Aids.

Referência

No Complexo Clementino Fraga, pelo menos metade dos pacientes que procuram diagnóstico e tratamento chegam em um estágio avançado da doença, com perda acentuada de peso e febre contínua, por exemplo. A outra metade chega para fazer o exame e detecta o vírus.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 01 de dezembro de 2023.