Caturité é um município paraibano, situado na microrregião do Cariri, que guarda a memória dos seus antepassados indígenas. O próprio nome do lugar significa “Catu” e “retê”, que na linguagem dos povos originários significa “bom e ilustre”. Os principais pontos turísticos giram em torno das belezas naturais, especificamente da Serra de Caturité, de visual imponente e que foi dividida pelos moradores da região em dois pontos de visitação - a Pedra do Tanque e a Pedra D’água.
“A Serra de Pedra D’água, como é mais conhecida por ter uma comunidade situada logo no início dela, é bastante frequentada nos fins de semana por grupos de amigos e das igrejas que, às vezes, passam a noite acampados. Tem uma vegetação muita variada, típica da região. No meio da serra existe uma fenda grande e, segundo as pessoas mais antigas, era a morada de um indígena”, comentou o secretário de administração da cidade, Anderson Barbosa.
Já na Pedra do Tanque, uma continuação maior dessa unidade de relevo, ciclistas e adeptos da prática de rapel costumam frequentá-la para apreciar a vista, fazer ecoturismo e conferir as iguarias do tradicional restaurante batizado com o mesmo nome desse atrativo turístico.
Vale lembrar que no entorno da Serra de Caturité há alguns lugarejos. Segundo o professor de Geografia e músico, Wagner Alves Cabral, 25 anos, ela tem início numa comunidade chamada Pitombeira, à Leste da cidade, e se estende até o extremo Oeste do município, na comunidade Pedra D’Água. “Eu já consegui catalogar até 980 metros de altitude e a serra, realmente, tem dois pontos de visitação. Esse espaço é um laboratório a céu aberto para ser estudado, do ponto de vista das ciências naturais e humanas. Já tive a oportunidade de levar alunos para aulas de campo na Serra de Caturité, que tem um grande potencial educacional”, comentou Wagner, que é campinense, mas desde criança mora na cidade.
Pelo fato de o município estar situado no Semiárido paraibano, o clima é quente e, geralmente, seco. “A vegetação é dominada pela Caatinga, uma vegetação xerófila, adaptada a esse clima. Nos meses de outubro a dezembro, as pessoas se deparam com uma paisagem bem acinzentada, porque é comum da Caatinga esse tipo de resiliência. E nas primeiras chuvas fica tudo verde novamente”, contou Wagner.
Um dos rios importantes da região é o Bodocongó, também chamado de Rio São Pedro, que dá um importante suporte hídrico aos produtores rurais e aos empreendedores da agropecuária.
Um dado curioso é que, no entorno da Serra de Caturité, há pouco mais de um ano, foram achadas ossadas humanas em comunidades como Serraria. Na comunidade de Campo de Emas também foram encontrados esses registros humanos, próximo das terras do sítio pertencente à família de Ana Carolina Duarte.
“Nós encontramos pedaços de fósseis recentemente na Serra de Caturité, quando subimos pelo lado de Serraria. E a próxima etapa seria investigar - através de escavação -, a quantidade, e datar esses fósseis para aproveitá-los de alguma forma como potencial turístico”, contou Carolina.
Como os achados ainda não foram, oficialmente, identificados e catalogados por um órgão capacitado para essa finalidade, por enquanto há a suspeita de que pertençam aos antigos indígenas.
Economia é baseada na produção e industrialização do leite
Além dos atrativos turísticos que gera receita para o local, o secretário Anderson Barbosa declarou que a economia é baseada na produção leiteira, especificamente o de vaca, contando ainda com algumas fábricas de queijo, como a Lebon, que beneficia o leite para industrialização de seus produtos. Ainda vale citar a fabricação de tapetes artesanais, que gera emprego e renda aos moradores da cidade.
Fundação e religiosidade
No período em que a produção algodoeira era forte na região de Campina Grande, no início do século 19, um núcleo familiar comandado pelo senhor Manuel Nunes Cabral comprou uma bolandeira, máquina de descaroçar algodão que atendia as demandas da produção da atual Caturité e região. A novidade, além de ajudar na economia local, atraiu pessoas para a realização de atividades religiosas.
“Na casa onde estava a bolandeira, famílias se reuniam para rezar as novenas e celebrar as missas”, contou o professor de Geografia Wagner Alves Cabral.
Foi o senhor Nunes quem trouxe a primeira imagem de Nossa Senhora da Conceição para o local e, com a ajuda da população, construiu uma pequena capela, onde hoje se encontra a Igreja Nossa Senhora da Conceição. Antigamente, a antiga capela também servia para sepultar moradores da comunidade.
Lenda
Quando lembramos das origens do município, é importante ressaltar que a palavra Caturité foi o nome de um bravo guerreiro da Tribo Botopitá, que figura na lenda indígena narrada em 1892, pelo jornalista, escritor e advogado Irineu Joffily. A história diz que o guerreiro liderou toda Nação Cariri contra os portugueses invasores na época da colonização do Brasil. Vendo toda sua gente exterminada, ele ainda reuniu forças para resgatar sua filha Potira (Bonita Flor) das garras dos inimigos. E ao vê-la ferida e moribunda em seus braços, pulou em um despenhadeiro, atual Serra de Caturité.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 17 de março de 2024.