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Celulares não são recomendados para presentear

publicado: 10/10/2024 09h08, última modificação: 10/10/2024 09h08
Crianças pedem aparelho porque gostam de imitar os adultos; para quem já comprou, é preciso monitorar
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Arthur adora atividades ao ar livre, e sua mãe faz questão de levá-lo: “Ajudam no desenvolvimento” | Foto: Arquivo pessoal

por Emerson da Cunha*

As crianças, que são naturalmente miméticas, querem fazer tudo o que os adultos fazem. No contexto social atual, em que as telas e as mídias digitais dominam o tempo e a atenção de todos, não é à toa que, entre os pedidos de presentes para o próximo Dia das Crianças, um dos principais seja o telefone celular. Mas esses dispositivos podem ser um bom presente para as crianças?

A resposta da psicóloga clínica Moiseth Neves é taxativa. “Não é um presente recomendável para crianças abaixo de 12 anos. É algo que peço encarecidamente aos pais: esperem um pouco mais. Acho que vocês têm uma batalha para travar, não vai ser fácil, mas é necessário”.

De fato, não foi uma decisão fácil para Edna Oliveira, mãe de Arthur, de cinco anos. De início, ela não gostaria de dar um celular de presente ao filho, que insistia pelo dispositivo desde os três anos. Mas o menino acabou ganhando um, dos avós, pouco depois do último aniversário. “É complicado a criança entender o porquê de ela não poder ter um celular quando vê outras crianças e seus pais com o dispositivo o tempo inteiro na mão. É muito difícil, diante de tamanha tecnologia, manter a criança longe do aparelho”, coloca Oliveira.

A grande questão é o tempo que os pequenos gastam vidrados nas telas. Segundo a psicóloga, pesquisas e estudos estabelecem o tempo de uso de tela por faixa etária de crianças e adolescentes, mas o contexto dificulta a concretização dessas recomendações. “Muitas vezes, as telas fazem o papel de babá. A mãe, superatarefada, recorre a elas para, pelo menos, dar o tempo de terminar uma comida ou tomar um banho. Mas o ideal, segundo a ciência, é que crianças de zero a dois anos não tenham nenhum acesso às telas; a partir daí, a gente pode ir liberando, aos poucos: de três a cinco anos, depois de cinco a sete... Até chegar ao máximo de três horas por dia”, explica.

 Prejuízos

Como o celular pode prejudicar a formação dos pequenos e das pequenas? Moiseth argumenta que muitas crianças estão apresentando problemas de insônia, nutrição, vínculos afetivos e resolução de conflitos por causa do uso do celular — há casos até daquelas que viram a noite no aparelho.

Com isso, habilidades socioemocionais têm se perdido, com prejuízos ao desenvolvimento infantil e sequelas para toda a vida. “Crianças, pré-adolescentes e adolescentes não têm capacidade orgânica de lidar com algo tão viciante, tão estimulante. Eles não fazem isso de teimosia, por birra; mas simplesmente porque não estão preparados cerebralmente para esse momento”, pontua a psicóloga.

O grande receio de Edna sobre o filho ter celular vem, principalmente, por ele ser uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que tende a ficar mais isolada. “A tela acaba limitando ainda mais a socialização, porque, se deixar, como ele prefere estar só, a tela é ótima para ele. Mas isso atrapalha outras funções de desenvolvimento. Sendo uma criança atípica, é ainda mais grave”, acredita.

 O que fazer

Moiseth Neves reforça que crianças só tenham celular a partir dos 12 anos. Além disso, é recomendável uso de ferramentas de controle parental. São aplicativos que, baixados nos celulares das crianças e dos pais, permitem regular o tempo de uso dos dispositivos.

Para Edna, a saída é apresentar outras formas de diversão, além do uso do celular, como é o caso de jogos educativos. “Temos brinquedos que incentivam e fazem com que o dia da criança seja mais atrativo. Ou jogos como basquete, travinha de futebol, patinete e bicicleta, que têm dado certo. Também fazemos pintura em gesso, por meio da qual a criança se diverte pintando e se sujando, o que é muito bom para o seu desenvolvimento”, reforça.

As atividades em áreas externas também são uma opção. “Eu sempre faço isso com Arthur. Ele se sente muito à vontade, em parques e praças. A gente sabe que, em alguns lugares, o acesso não é tão fácil, mas esses ambientes ao ar livre, maiores e mais arejados, são uma excelente alternativa”, conclui Edna.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 10 de outubro de 2024.