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Grandes corredores da cidade estão hoje sem vegetação, o que impacta o meio ambiente e a saúde da população

Cenário em cinza e preto: verde perde espaço em JP

publicado: 22/11/2021 08h38, última modificação: 22/11/2021 08h38
2021.11.02_avenidas sem arvores_avenida cruz das armas © roberto guedes (29).JPG

Foto: Roberto Guedes

tags: cenário em cinza , bancários , avenida josefa taveira , avenida cruz das armas , árvores

por Alexsandra Tavares*

Apesar de receber títulos como “Cidade Jardim”, ou “Cidade das Acácias”, e apresentar a maior reserva urbana de Mata Atlântica do país, é notório que João Pessoa já perdeu parte do seu verde nas últimas décadas. Há ruas, inclusive, corredores principais da capital, que são verdadeiros tapetes de concreto e asfalto. Isso pode ser visto na avenida Flávio Ribeiro Coutinho, conhecida como Retão de Manaíra; na rua principal do bairro dos Bancários; Avenida Josefa Tavaeira, em Mangabeira; ou em alguns trechos da Avenida Cruz das Armas. Essa realidade traz inúmeros prejuízos ao meio ambiente e à população.

A bióloga e ecóloga Anne Falcão de Freitas afirmou que a carência de vegetação na zona urbana, somada ao adensamento das construções, pode ter impacto no solo, nos cursos hídricos, na atmosfera, na fauna, na flora e também na saúde pública.

Um dos problemas acarretados pela falta de arborização nos centros urbanos são as chamadas ilhas de calor. Trata-se de um fenômeno térmico constituído pela concentração de materiais como concreto, ferro e asfalto presentes nas cidades, aliado à ausência de vegetação e outros ambientes naturais, como áreas abertas mais ventiladas.

Esses ambientes formados por materiais da construção civil impermeabilizam o solo e evitam a livre circulação dos ventos. Com isso, não é difícil sentir uma temperatura mais alta nesses locais, que tornam-se mais abafadas se comparadas a trechos bem arborizados e sem grandes volumes de prédios.

Segundo a ecóloga, vale salientar que a formação das ilhas de calor depende das condicionantes urbanas e geoambientais (geologia, geomorfologia, solo, vegetação e clima). “Estudos realizados em nossa cidade (João Pessoa) demonstram que a intensidade da ilha de calor varia de acordo com os diferentes usos e cobertura do solo. Durante o dia é mais intensa, formada pela incidência dos raios solares sobre o material e geometria do ambiente urbano. Enquanto a noturna é menos intensa. Forma-se pela troca de calor entre o material e geometria do uso e cobertura do solo urbano, com o céu”, declarou.

Anne Falcão ressaltou que a alteração do campo térmico e a formação da ilha de calor contribuem diretamente para alterações no balanço da radiação, diminuição da umidade, aumento do calor nas cidades, ou seja, a degradação das condições naturais, gerando consequências no que se refere à interferência nas dinâmicas ambientais. “Por exemplo: maior evaporação da água do solo e uma possível mudança no regime de chuvas”.

Riscos à saúde

As interferências também se dão sobre a vida das pessoas, animais e plantas. “As altas temperaturas podem influenciar no ciclo reprodutivo e na saúde da população, podendo dar origem a problemas respiratórios e no desconforto térmico dos indivíduos”, completou.

De acordo com ela, esse processo pode ser amenizado com o estabelecimento de políticas eficientes de planejamento urbano e de legislação de uso e ocupação do solo, conservação da vegetação nativa das áreas urbanas e criação de áreas verdes nas cidade”, frisou. 

Outro problema trazido pela falta de plantas no solo dos centros urbanos é o surgimento de um processo chamado lixiviamento, ou seja, com o período chuvoso, as águas acumuladas vão “lavando” a terra que, sem ter vegetação para reter seus nutrientes, vão ficando inférteis.

Quando a carência de vegetação ocorre às margens de rios urbanos pode resultar no aumento da velocidade do curso das águas, trazendo assoreamento (a terra é arrastada para dentro do rio), desbarrancamento (escavações profundas); interrupção do ciclo da evaporação natural da água retida em folhas e solo; e o aumento da temperatura das águas dos corpos hídricos inseridos nas cidades. Anne ainda cita a formação de bolsões aquecidos que recebem água vinda dos calçamentos, que são prejudiciais à vida aquática, fomentando a proliferação de bactérias desses rios e lagos. 

Cidade ganhará novas árvores

O engenheiro agrônomo e diretor de Controle Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente de João Pessoa, Anderson Fontes, explicou que não há como quantificar as perdas de árvores viárias (situadas nas vias públicas) na capital paraibana, mas concorda que, ao longo dos anos, as principais artérias da cidade vêm enfrentando perda de algumas espécies. Os motivos para essa ausência vão desde a infestação de fungos, desprendimento do solo (queda de árvore) até abalroamento.

A quantidade de verde nos bairros da capital, porém, deverá aumentar. Segundo Anderson, há um projeto para se plantar mais de cinco mil árvores em diversas ruas da cidade. “Existe um programa da atual gestão em que as atuais ruas que estão sendo pavimentadas vão receber uma unidade arbórea na calçada, de forma disciplinada. Vão ser mais de 500 ruas e um universo que vai de cinco mil a sete mil árvores a serem plantadas dentro desses espaços públicos”, revelou.

Quando se refere especificamente à Avenida Epitácio Pessoa, a qual ele chama de “avenida shopping”, pelo volume de estabelecimento comercial existente na rua, Anderson lembrou que no planejamento inicial da avenida, na década de 1960, a ideia era se plantar árvores de grande porte. Segundo ele, a Prefeitura vem tentando mantê-las até os dias atuais. “Temos hoje 232 árvores no local. E existe um projeto de reposição de 80 árvores somente na Epitácio Pessoa”.

Já com relação ao bairro de Manaíra, (onde está o Retão de Manaíra), ele salientou que este é o bairro onde tem o menor índice arbóreo em vias públicas da capital. “O planejamento para a vegetação do Retão foi voltado para o bosque que há vizinho ao canal, próximo à UPA, e às pistas de rolamento”.

Em outras áreas da cidade, ele salientou que, mesmo com a campanha da prefeitura de incentivo ao plantio de árvores, alguns moradores resistem em não plantar.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 21 de novembro de 2021