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Situação de rua

Censo atualizará dados na capital

publicado: 30/10/2025 08h26, última modificação: 30/10/2025 08h26
Levantamento do número de pessoas, conduzido pela Sedhuc-JP, deve orientar ações e políticas públicas
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Dados do ObservaDH, plataforma do MDHC, apontam que em todo estado existem 1.733 pessoas em situação de rua | Foto: Roberto Guedes

por Samantha Pimentel*

Na Paraíba, existem 1.733 pessoas em situação de rua, segundo dados do Observatório Nacional dos Direitos Humanos (ObservaDH), plataforma do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). As informações, baseadas no Cadastro Único (CadÚnico) de dezembro de 2024, apontam que João Pessoa concentra o maior número de pessoas nessa condição — 933 no total. Em segundo aparece Campina Grande, com 335, seguido por municípios como Cajazeiras, Santa Rita e Patos, que também apresentam índices expressivos.

Para atualizar esses dados e compreender melhor o perfil dessa população, a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania (Sedhuc-JP) está realizando o novo Censo da População em Situação de Rua. O último levantamento havia sido feito em 2023.

A ação já mapeou toda a área central da cidade e mais de 30 bairros, incluindo Jaguaribe, Torre, Bancários, Cristo, Geisel, Castelo Branco, Mangabeira I a VIII, Valentina, Paratibe e Portal do Sol. As equipes realizaram abordagens presenciais nas ruas, seguindo um roteiro planejado para cobrir todos os territórios. Durante o trabalho, foram aplicados questionários que servirão de base para traçar o perfil socioeconômico das pessoas em situação de rua.

Agora, o processo entra em uma nova etapa: o preenchimento das fichas pelos profissionais que atuam nas casas de acolhida, no Centro Pop e no Programa Chega Junto. Segundo o secretário de Direitos Humanos e Cidadania, Diego Tavares, essa atualização é fundamental para o aprimoramento das políticas públicas.

“Com essa atualização, é possível planejar e ampliar os serviços voltados a essa população. Queremos traçar um verdadeiro raio-x do perfil dessas pessoas — nome, idade, cidade de origem, motivos que as levaram às ruas, se estudam ou desejam estudar, se fazem uso de drogas —, de forma a orientar ações mais efetivas de proteção e promoção social em João Pessoa”, destacou.

O trabalho conta com a participação de equipes dos Serviços Socioassistenciais da Diretoria de Assistência Social, envolvendo profissionais de Proteção Básica, médias e de Alta Complexidade. A coordenadora da Vigilância Socioassistencial de João Pessoa, Katiana Cavalcante, explica que o processo tem sido minucioso e exige grande esforço logístico.

“Foram cinco equipes nas ruas e, todos os dias, recebemos uma grande quantidade de questionários para organizar. Ainda não iniciamos a tabulação dos dados, pois nossa equipe tem se dedicado à revisão e à ordenação das informações antes dessa etapa”, detalhou.

Atualmente, o foco está na análise e sistematização das informações coletadas, o que permitirá identificar o perfil e as principais demandas das pessoas em situação de rua na capital. Os resultados consolidados do Censo 2025 devem ser divulgados no primeiro semestre de 2026.

Semas-CG realiza monitoramento pelos dados do CadÚnico

Ainda segundo os dados do ObservaDH, a população em situação de rua na Paraíba aumentou 1.048% de 2015 a 2024. Em 2015, o estado contabilizava 151 pessoas nessa condição; já em 2024, o número chegou a 1.733.

Profissionais do CentroPop também fiscalizam e acolhem | Foto: Arquivo/CentroPop-CG

O crescimento é ainda mais expressivo nas duas maiores cidades. Em João Pessoa, o aumento foi de 1.694% — passando de 52 para 933 pessoas. Em Campina Grande, o salto chegou a 11.067%, com a população em situação de rua subindo de três para 335 indivíduos.

Na Rainha da Borborema, a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas-CG) não realiza um censo específico sobre essa população. O monitoramento é feito a partir das informações do CadÚnico e do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop).

De acordo com a coordenadora do Centro Pop de Campina Grande, Mônica Maria Loureiro, o espaço oferece serviços como alimentação, higienização e encaminhamento para a rede socioassistencial. Em setembro deste ano, o local registrou 395 atendimentos — sendo 347 homens e 48 mulheres. Desses, 330 frequentam a unidade com regularidade, pelo menos três vezes por semana. Entre eles, 293 declaram-se em situação de rua e 37 em condição de vulnerabilidade social.

Mônica explica que o perfil predominante é o de homens adultos, e cerca de 75% dos atendidos são usuários de drogas. “Pela dependência química, quebra dos vínculos familiares, conflitos e questões como desemprego, muitos acabam vivendo nas ruas”, afirma.

A maior concentração dessa população está na área central de Campina Grande, em locais como a Praça Clementino Procópio, o Sesc Centro e a Avenida Canal. “A maioria deles já tem cadastro aqui no Centro Pop”, acrescenta Mônica.

A coordenadora ressalta que a unidade funciona todos os dias, sem interrupção, com uma equipe multiprofissional composta por advogado, assistente social, psicólogos e educadores sociais. “Temos também uma equipe de abordagem noturna, que mapeia os locais onde esse público dorme. Quando os usuários aceitam o acolhimento, encaminhamos para a Casa de Acolhida Irmã Zuleide Porto e para algumas ONGs parceiras”, detalha.

Além do acolhimento, os usuários são direcionados, conforme a necessidade, para o Consultório na Rua, Centros de Atenção Psicossocial (Caps), CadÚnico e outros serviços públicos voltados à saúde, à assistência e à cidadania.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de outubro de 2025.