Em agosto deste ano, o Governo Federal, por meio da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), tornou possível a realização de um antigo desejo dos campinenses: contar com um sistema de transporte sobre trilhos. Após a assinatura de um termo de concessão envolvendo a operadora Ferrovia Transnordestina Logística (FTL) e a Prefeitura Municipal de Campina Grande, tiveram início as obras de revitalização da malha ferroviária local, que, em breve, receberá um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).
Com um histórico marcado pelo desenvolvimento econômico e social, após a chegada do trem — o que impulsionou o Ciclo do Algodão na região —, no ano de 1907, Campina Grande deposita, agora, expectativas que o VLT desempenhe um papel semelhante, contribuindo para a mobilidade e a infraestrutura da cidade.
O novo sistema de transporte público percorrerá 15 km no perímetro urbano da Rainha da Borborema, interligando 18 bairros. O trajeto permitirá que os passageiros desloquem-se de Aluísio Campos até o Araxá, conectando duas extremidades do município. De acordo com Mariana Damasceno, secretária-executiva da Secretaria Municipal de Obras (Secob) de Campina, a rede do VLT contará com 14 estações de embarque e desembarque para atender a população.
“O intuito não é romper com o sistema de ônibus já existente, mas trabalhar em conjunto com ele, por meio das estações modais. Estamos dando início a um processo de pesquisa para definir onde há mais fluxo de carros, por exemplo, e onde seria importante haver uma estação para desafogar o trânsito viário daquela área. É um estudo bem técnico, para que tudo possa seguir de forma organizada e verdadeiramente útil para a população”, explicou a representante da Secob.
Há, contudo, obstáculos à aceleração da revitalização da malha ferroviária campinense. Um dos principais é a presença de ocupações irregulares ao longo dos trilhos. Segundo Mariana, o diálogo com os moradores dessas áreas será conduzido de maneira cuidadosa e respeitosa. Ela ressaltou que o projeto do VLT envolve diversos órgãos, em um trabalho multidisciplinar, e a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) ficará responsável por realizar o cadastramento das famílias que vivem nesses lugares. “É fundamental reforçar que ninguém ficará desabrigado, o município jamais permitirá isso. Existe todo um processo estruturado para garantir a melhor forma de realocação dessas pessoas”, frisou a secretária-executiva.
Expectativa é desafogar o trânsito local
Enquanto a Secob acompanha e fiscaliza o avanço das obras de recuperação dos trilhos, a Superintendência de Trânsito e Transportes Públicos (STTP) de Campina Grande analisa os pontos de maior movimento no município, para definir onde a passagem do VLT será essencial no alívio do tráfego.
“Será um marco importante para a cidade, deixando um legado em qualidade de vida para a população. O VLT representará mais uma alternativa de deslocamento para o trabalho, o lazer ou outras atividades. Já contamos com um mapa de calor que indica as áreas de maior fluxo e, a partir dele, estamos planejando o número de estações, sua localização e a estimativa de demanda de passageiros”, detalhou o superintendente da STTP, Vítor Ribeiro.
Com o objetivo de aprimorar o planejamento, representantes das secretarias envolvidas no projeto têm visitado municípios que já utilizam esse tipo de transporte, como Sobral (CE) e Rio de Janeiro (RJ). A previsão é que, até julho do próximo ano, toda a malha ferroviária seja revitalizada.
Nos trechos em que a linha precisar de intervenções, equipes da STTP organizarão eventuais ajustes no tráfego de veículos e de pedestres. Cruzamentos importantes, como os das avenidas Costa e Silva, Floriano Peixoto e Assis Chateaubriand, serão contemplados com novas obras. A orientação é que essas intervenções ocorram, preferencialmente, no período noturno, para minimizar transtornos à população.
“O andamento do projeto está bastante positivo. Até o fim deste ano, deveremos finalizar as licitações para as estações de passageiros e, em meados de 2026, teremos a previsão da chegada do material rodante. A partir daí, poderemos estabelecer um prazo mais preciso para a entrada em operação do VLT em Campina Grande”, acrescentou Vítor.
Museu exibe memórias dos velhos trilhos
Uma das novidades que geram mais expectativa, dentro das obras previstas para a instalação do VLT, é a revitalização da Estação Nova, construção histórica da Rainha da Borborema, entregue em 1961. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep), em 2001, o espaço passará por um projeto de requalificação completa, sendo transformado no Parque Estação Nova — o qual, além de integrar o sistema do VLT, também será aproveitado como ambiente de convivência social, produção cultural e lazer.
E, enquanto Campina Grande se prepara para uma nova etapa em sua infraestrutura de trânsito e mobilidade, outra “estação” preserva vestígios de um dos períodos mais importantes da história local. É o prédio da Estação Velha, inaugurado em 2 de outubro de 1907 e testemunho da chegada do trem ao município — um marco de 118 anos que mudou para sempre os rumos da cidade.
O revolucionário meio de transporte não apenas aproximou Campina do Litoral e de outras regiões do estado, mas também impulsionou o Ciclo do Algodão, integrando a Rainha da Borborema às principais rotas comerciais e consolidando-a como um dos principais polos de produção do chamado “ouro branco”, no Brasil e no mundo.
A história dessa época pode, aliás, ser revivida na Estação Velha, que abriga, atualmente, o Museu do Algodão, espaço que preserva a memória do auge econômico da cidade. Administrado pela Prefeitura de Campina Grande, por meio da Secretaria Municipal de Cultura (Secult), o museu guarda objetos, documentos, maquinários e peças emblemáticas do período — entre elas a icônica locomotiva Maria Fumaça. A visitação é gratuita e aberta ao público, de segunda a sexta-feira, das 8h às 13h e, aos sábados, das 8h às 12h.
“O Museu do Algodão preserva uma parte fundamental da história de Campina Grande. Muitas pessoas, entre elas estudantes, visitam o local para conhecer o acervo, especialmente os maquinários e a Maria Fumaça, que encantam crianças e adultos. É uma oportunidade de se conectar com as raízes econômicas e sociais da cidade”, pontuou Betânia Andrade, historiadora e gerente do museu.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 03 de Outubro de 2025.