As queimadas que, nos últimos dois meses, vêm devastando várias regiões do Brasil e afetando biomas como o Cerrado, o Pantanal e a Amazônia, acedem o alerta para o que pode acontecer na Paraíba, com a chegada da primavera. A previsão de temperaturas que podem ultrapassar os 36°C, no Sertão, e de umidade do ar abaixo de 15%, em regiões como o Cariri e o Alto Sertão, somada ao tradicional período de estiagem e às características da vegetação local, aumentam significativamente o risco de incêndios florestais no estado. Segundo a meteorologista Marle Bandeira, da Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa), o período mais seco do ano está apenas começando.
Nos próximos meses, a expectativa é de que as condições climáticas permaneçam desfavoráveis, com pouca ocorrência de chuvas e aumento gradual de temperaturas, principalmente nas regiões mais distantes do litoral. Segundo a especialista, embora chuvas isoladas possam ocorrer na área próxima ao mar, a expectativa é de clima seco, especialmente no interior do estado. Não é à toa que a umidade do ar também pode cair a níveis críticos, nesse período. “Na Paraíba, a umidade pode chegar a níveis bastante baixos, como 12%, em regiões como Patos, inclusive durante a tarde. Já a média de temperatura esperada no Sertão é 36°C, mas em alguns dias pode ser ainda maior”, alerta Marle.
A situação é preocupante, especialmente quando se observa o aumento de 26% na área queimada acumulada na Paraíba nos últimos 10 anos, segundo o MapBiomas. Apenas em 2023, o estado contabilizou mais de 15 mil hectares queimados, sendo a maior parte no Sertão. Marcelo Cavalcanti, diretor-superintendente da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), relembra que a Paraíba já enfrentou picos de queimadas significativos, como em 2003, quando cerca de 70 mil hectares foram consumidos, e em 2019, com 44 mil hectares. “Atualmente, estamos na faixa de 12 a 15 mil hectares. Somos o quarto estado do Nordeste em relação às queimadas, mas a situação aqui não é tão grave quanto em outros lugares do Brasil, sobretudo, no Cerrado”, reflete.
Para garantir que isso não aconteça, a Sudema está prestes a assinar um convênio com o Ministério da Justiça, por meio do Programa Brasil M.A.I.S. — Meio Ambiente Integrado e Seguro, que permitirá o monitoramento do território com imagens de satélite, a cada hora. “Teremos informações praticamente em tempo real. E esse sistema aponta tanto a supressão vegetal quanto a ocorrência de queimadas”, celebra o superintendente.
Assim que o convênio for oficializado, a Sudema terá acesso imediato aos recursos que reforçarão a fiscalização no estado, trabalhando em conjunto com o Batalhão de Polícia Ambiental (BPAmb) e o Corpo de Bombeiros.
Operação dos bombeiros reforça vigilância
A situação no Sertão é especialmente complexa — e pode ser pior, neste ano. De acordo com o coronel Saulo Laurentino, comandante do 3º Comando Regional de Bombeiro Militar (CRBM), de janeiro até setembro deste ano, a corporação já registrou 602 ocorrências de incêndios na região, número que se aproxima rapidamente do total registrado no ano passado, de 813 casos. “A projeção é que tenhamos um ano com o maior registro de ocorrências relacionadas aos incêndios florestais”, alerta o coronel.
A maior parte dos incêndios florestais que acontecem no Sertão paraibano não é intencional. Segundo o coronel, muitos produtores ainda usam o fogo para preparar o solo e limpar o terreno, o que eleva o risco de provocar incêndios. E as consequências, como ele ressalta, podem ser graves, já que o clima seco da região favorece a propagação das chamas. A prática, inclusive, é considerada crime ambiental. “O uso indiscriminado do fogo é o que provoca essas ocorrências em grande quantidade e, às vezes, em grande proporção”, explica.
O cenário é crítico em toda a região, muito em razão das suas características naturais, com fortes ventos, altas temperaturas, baixa umidade e estiagem, fatores que dificultam muito o trabalho das equipes de combate ao fogo. “Todas as áreas têm, de maneira uniforme, ocorrências de incêndio florestal, mas, naturalmente, nos atentamos bastante para as reservas florestais e propriedades rurais”, completa o comandante.
De modo geral, o monitoramento dessas áreas acontece de forma constante, em todo o território paraibano. A Operação Queimadas, que já está em andamento, vem para reforçar essa vigilância. Preparada para atuar em qualquer área da região, essa força-tarefa regional conta com o suporte de quadriciclos e caminhões com alta capacidade de água, prontos para enfrentar incêndios de grandes proporções.
No Sertão, a corporação já enfrentou queimadas de mais de 10 dias de duração, sendo o maior recorde uma ocorrência de 19 dias, que englobou a Zona Rural de quatro municípios. Ao mesmo tempo, a operação também foca na prevenção, com ações de conscientização nas comunidades rurais da região, onde o uso do fogo representa um grande risco não só à vegetação, mas também à população.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 21 de setembro de 2024.