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CONECTIVIDADE

Cobertura limita alcance de sinal 5G

publicado: 30/09/2024 08h47, última modificação: 30/09/2024 08h47
Embora liberada pela Anatel em todos os municípios do estado, tecnologia está disponível somente em poucas cidades
2024.09.27 Intenet 5G © Leonardo Ariel (2).JPG

Antenas de transmissão 5G estão instaladas em apenas 11 municípios paraibanos | Foto: Leonardo Ariel

por Priscila Perez*

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) já liberou o 5G nos 223 municípios da Paraíba. Mas o que isso realmente significa? Na prática, apesar da liberação do uso da faixa de 3,5 GHz pelas operadoras, a realidade mostra que as antenas de transmissão estão instaladas em apenas 11 cidades do estado, com João Pessoa e Campina Grande liderando a cobertura. Enquanto a conexão de quinta geração só aumenta, nesses dois polos, em outras localidades do estado, o ritmo é bem mais lento do que o esperado.

"As operadoras priorizam cidades onde há maior retorno financeiro, o que explica a ausência de antenas em cidades menores"
- Cláudio Furtado

Além de João Pessoa e Campina Grande, as antenas de 5G estão presentes nos municípios de Gado Bravo, Prata, Arara, Guarabira, Sapé, Santa Rita, Bayeux, Conde e Cabedelo. Na capital paraibana, onde há 243 estações, a cobertura também não é uniforme. Bairros mais centrais, como Manaíra, contam com pelo menos 12 estações de transmissão, enquanto áreas mais afastadas, como Valentina Figueiredo, têm apenas duas. Em Campina Grande, que ostenta a segunda colocação no estado, o número também é reduzido: 41. As informações constam no painel da Anatel sobre planejamento e liberação do sinal 5G.

Sobre essa disparidade, o secretário estadual Cláudio Furtado, da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior, destaca que, apesar de João Pessoa ter boa cobertura, há áreas da capital onde o 5G ainda não pega. Ele aponta que a implantação da infraestrutura pelas operadoras ainda depende de investimentos e que, para cobrir adequadamente, é necessário espalhar mais estações, já que o raio de abrangência do 5G é menor. “É evidente que as operadoras priorizam cidades onde há maior retorno financeiro, o que explica a ausência de antenas em cidades menores e áreas rurais. Por isso, a cobrança deve existir por parte do Governo Federal e da própria Anatel, que precisam pressionar as operadoras para avançar com a infraestrutura necessária”, salienta.

 Liberação

Na Paraíba, o processo de liberação começou em junho de 2022 e foi concluído em maio deste ano, abrangendo os 223 municípios do estado. Segundo a agência, esse é o primeiro passo para que as prestadoras que adquiriram lotes implantem as suas estações nas cidades, mas a instalação efetiva depende do planejamento individual de cada empresa. O professor Michel Coura Dias, coordenador do Polo de Inovação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), explica do que se trata a liberação: “Uma coisa é a Anatel dizer que já liberou o 5G para ser implantado, outra coisa é a cobertura. A liberação significa que a faixa de frequência está limpa, mas isso não quer dizer que o 5G já funciona em todos os lugares”.

"A liberação significa que a faixa de frequência está limpa, mas não quer dizer que o 5G já funciona em todos os lugares"
- Michel Coura Dias

Segundo ele, a “limpeza do espectro” foi uma das etapas essenciais para viabilizar o 5G no estado. Basicamente, parte da faixa de frequência usada por antenas parabólicas foi liberada para o sinal de quinta geração. Com isso, quem tinha parabólicas na faixa de 3,5 GHz pôde trocá-las por antenas mais modernas, liberando o espaço necessário para que o 5G começasse a ser implantado pelas operadoras. Depois dessa fase inicial, surge o verdadeiro desafio: a cobertura. Michel explica que o 5G opera em uma frequência mais alta, o que reduz o raio de cobertura de cada antena. Ou seja, para cobrir a mesma área do 4G, é preciso instalar um número muito maior de antenas, tornando o processo de expansão mais lento e complicado, principalmente em áreas rurais ou menos povoadas. “Esse é o ponto. Quando utilizamos faixas de frequência maiores, a diminuição do nível de energia do sinal é maior, o que resulta em áreas de cobertura menores”, ressalta.

 No interior

Enquanto o 5G avança nas áreas urbanas da Paraíba, no interior do estado, a realidade é bem diferente. Em cidades como Gado Bravo, no Semiárido paraibano, com apenas uma estação de 5G, fica a dúvida: será que o sinal é suficiente para atender às necessidades da região?

A escassez de antenas é ainda mais evidente no interior, mas os produtores rurais já sabem que o 5G é uma tecnologia indispensável para aumentar a eficiência no campo. Com a conexão, eles podem integrar sensores, sistemas de irrigação e outras soluções automatizadas. No entanto, com tão poucas antenas, a cobertura ainda está longe de suprir a demanda.

Segundo o professor Michel, muitos deles já estão buscando alternativas, como a criação de redes privadas de 5G, regulamentadas pela Anatel, que podem ser a chave para conectar áreas remotas à internet ultrarrápida.

Ideia é massificar e diversificar a internet

Imagine ter uma Ferrari e dirigir em uma estrada de barro. Na prática, por mais veloz que o carro seja, você não terá o desempenho esperado, porque as condições de tráfego não são adequadas. A mesma lógica se aplica ao 5G, como explica o coordenador do Polo de Inovação do IFPB. Embora a tecnologia tenha um imenso potencial, sem uma infraestrutura adequada, ela não atinge a sua máxima performance. É por isso que, antes de liberar o sinal, foi necessário realizar a “limpeza do espectro”, liberando a faixa de 3,5 GHz, antes ocupada por antenas parabólicas, como destacou o professor.

Conexão
Embora a tecnologia 5G tenha um imenso potencial, sem contar com uma infraestrutura adequada, ela não atinge a sua máxima performance

Além da velocidade ultrarrápida, o 5G se destaca pela capacidade de conectar até um milhão de dispositivos por quilômetro quadrado, tudo com alta confiabilidade. Isso, segundo ele, abre caminho para a Internet das Coisas, na qual máquinas, sensores e sistemas podem funcionar de maneira integrada, revolucionando desde a gestão de casas inteligentes até operações em larga escala, como monitoramento agrícola e automação industrial. O professor ainda reforça que, com o 5G, a conectividade de dispositivos é tão massiva que transforma a forma como lidamos com a tecnologia no cotidiano.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 28 de setembro.