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Como lidar com moluscos invasores

publicado: 27/06/2024 08h53, última modificação: 27/06/2024 08h53
Caramujos africanos se proliferam na orla e são potenciais transmissores de doenças, como a meningite
CARAMUJOS © Edson Matos_Arquivo A Uniao   (38).JPG

Os caracóis ficam alojados entre 15 cm e 20 cm abaixo do solo, vindo à tona logo que tem início o período de chuvas | Foto: Edson Matos/Arquivo A Uniao

por João Pedro Ramalho*

Em João Pessoa, o período chuvoso costuma trazer alguns visitantes indesejados. São os caramujos-gigantes-africanos (Achatina fulica), espécie invasora de moluscos, cuja incidência é maior nos bairros da orla, como Bessa, Cabo Branco, Manaíra e Tambaú. Por serem potenciais transmissores de doenças, como a meningite, é importante combater o seu crescimento. A ação é de responsabilidade individual, caso o molusco esteja em propriedades privadas, ou de agentes vinculados à Gerência de Vigilância Ambiental e Zoonoses (Gvaz), se o animal for encontrado em espaços públicos.

"É fundamental colocá-los em um balde com água e sabão — até, pelo menos, a metade da vasilha — e deixá-los submersos"
- Pollyana Dantas

De acordo com a diretora da Gvaz, Pollyana Dantas, os caracóis africanos costumam ficar alojados entre 15 cm e 20 cm abaixo do solo, saindo com o começo das chuvas. Ela orienta que a catação deve ser feita com luvas, a fim de evitar o contato com a pele, e detalha como descartar os moluscos, tanto os adultos quanto os seus ovos. “Eles são animais que têm respiração pulmonar, então, é fundamental colocá-los em um balde com água e sabão — até, pelo menos, a metade da vasilha — e deixá-los submersos, entre 30 e 40 minutos. Depois disso, é preciso descartar a água e colocar os caramujos em sacos plásticos bem vedados, para só então eles serem dispensados no lixo”, explica.

Pollyana também diz que não se deve utilizar sal para matar esses moluscos, já que essa prática faz com que eles liberem um muco contaminado. Outra forma recomendada pelo Ministério da Saúde para descartar o caramujo e os seus ovos é por meio do esmagamento, com auxílio de um martelo ou por pisoteamento, com bota de borracha. Os restos devem, então, ser enterrados em valas com profundidade entre 80 cm e 1,5 m, revestidas por uma camada de cal virgem. Se não for possível usar a cal, indica-se deixar os animais já esmagados de molho por 24h em uma solução de cloro, formada por três partes iguais de água para uma de cloro.

Ela explica ainda que a Gvaz tem investido em ações educativas, para capacitar a população pessoense no manejo adequado dos caramujos. “Nós passamos tanto nos domicílios das áreas mais propensas como em parques públicos da orla marítima. Essas ações são constantes, principalmente, neste período chuvoso”, diz.

Doenças

Os caracóis da espécie Achatina fulica diferenciam-se das espécies nativas do Brasil pelo seu tamanho (entre 80 mm e 110 mm), concha rígida e coloração marrom-escura. Entre as doenças que podem ser transmitidas, estão a angiostrongilíase meningoencefálica humana — forma de meningite que leva à inflamação das membranas que revestem o encéfalo — e a angiostrongilíase abdominal, cujos sintomas principais são dores no abdômen e febre. As duas condições são causadas por parasitas presentes no muco que o animal libera para se deslocar.

O biólogo Ellori Mota explica que a infecção ocorre pela ingestão desses agentes etiológicos. “Quando você vê um caramujo se deslocando, inclusive por cima de hortaliças, como alface e coentro, fica aquele rastro brilhoso. Às vezes, as pessoas não lavam bem as hortaliças antes de se alimentar, e também acontece de as crianças, quando estão brincando em áreas que têm esse caramujo, botarem a mão no chão e a levarem à boca. Tudo isso causa contaminação”, alerta.

Para não contrair as doenças, portanto, é necessário evitar tocar no muco e higienizar bem as mãos, caso tenha entrado em contato com a secreção. Já a desinfecção dos vegetais, segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira, deve ser feita com uma solução de uma colher de sopa de água sanitária para um litro de água, deixando os alimentos de molho por 10 minutos.

Contato

É possível solicitar o recolhimento de caramujos africanos em espaços públicos pelo telefone 3213-7781, da Gvaz. Esse número também pode ser acionado para combate à leptospirose e ao mosquito da dengue.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 27 de junho de 2024.