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estudo da ufpb

Conde pode ter 12% de área alagada

publicado: 26/01/2024 08h56, última modificação: 26/01/2024 08h56
Caso o nível do mar chegue a 10 metros de elevação, afetará gravemente as paisagens urbanas e agrícolas, diz pesquisa
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Entre os locais mais afetados com a erosão estão as praias de Jacumã, Tambaba, Coqueirinho, Carapibus, Amor e Arapuca - Foto: Clóvis Roberto

A zona costeira do município de Conde, na Região Metropolitana de João Pessoa, tem perdido espaço para o mar. Foram cerca de nove metros (27 cm/ano) nos últimos 37 anos, e a taxa de erosão marinha se acelerou entre os anos de 2015 e 2022. Os fenômenos têm relação direta com o aumento do nível das águas marinhas, que, se alcançar os 10 metros de elevação, poderá inundar cerca de 12% de toda a área do município.

Estudo da UFPB aponta que, a cada ano, o mar avança 27 cm, e que em 37 anos a perda de espaço para as águas chegou a nove metros

É o que afirmam pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em um artigo publicado neste mês de janeiro no periódico internacional Science of The Total Environment, editado pela Elsevier, em que são analisadas mudanças históricas e projeções futuras da linha costeira do município.

Áreas afetadas

Os locais mais afetados com a erosão neste período são alguns dos cartões postais mais conhecidos da Paraíba, como as praias de Jacumã, Coqueirinho, Tambaba, Carapibus, Amor e Arapuca, e a tendência para as próximas duas décadas (2022-2032 e 2032-2042) é de intensificação da atividade erosiva nestas regiões.

Nível do mar

No estudo, também foram feitas algumas projeções para o litoral de Conde em diferentes cenários (um, dois, cinco e 10 metros) de subida do nível do mar, em consequência do derretimento do gelo polar por causa do aquecimento global e de outras mudanças climáticas.

Segundo os cientistas, a elevação das águas marinhas nos dois primeiros cenários (um e dois metros) pode ter efeitos moderados no curto prazo, limitando-se, por exemplo, a alterações de ecossistemas costeiros e entrada de água salgada em lençóis freáticos e áreas de água doce.

No entanto, nos dois piores – a elevação das águas marítimas em cinco ou 10 metros – os autores calculam que, a longo prazo, uma inundação significativa aconteceria, de cerca de 12% de toda a área do município, o que afetaria gravemente paisagens urbanas e agrícolas. Essa hipótese é classificada pelos pesquisadores como catastrófica, podendo causar deslocamentos forçados da população local, além de perdas ecológicas irreversíveis.

Para chegar a estas constatações, os pesquisadores empregaram uma metodologia com abordagens integradas, na qual foram utilizadas diversas ferramentas, como imagens de satélite, algoritmo para remoção de nuvens das imagens, sistema digital de análise costeira (DSAS, na sigla em inglês) e mapeamento de cobertura e do uso da terra, este último obtido a partir do Projeto MapBiomas.

Tempo

Em seguida, após o refino dos dados, os cientistas realizaram dois tipos de análise da dinâmica costeira: de médio prazo, no qual os dados foram reunidos em três grupos de 10 anos (1985-1995, 1995-2005, 2005-2015) e um de sete anos (2015-2022), estudados separadamente; e de longo prazo, no qual os dados foram analisados sem recortes temporais.
Foi a partir deste modelo que os pesquisadores também previram a dinâmica costeira do município para os próximos 20 anos, em que foi revelada a tendência de aceleração da erosão marinha.

Ação do homem contribui para a erosão marinha

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Hipótese da inundação é considerada catastrófica - Foto: Clóvis Roberto

Além da elevação das águas marinhas, já em andamento, os autores atribuem o aumento erosivo à intensificação da ocupação costeira, devido à urbanização, à industrialização e ao turismo. “Essa tendência é provavelmente acelerada por atividades humanas, ressaltando a interação entre processos naturais e antrópicos na dinâmica costeira, e representa um desafio significativo em áreas de alto valor turístico como o município do Conde”, afirma o professor Celso Santos, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental (Deca) da UFPB e um dos autores do estudo.

Segundo o docente, o estudo pode servir de alerta ao poder público, para que sejam desenvolvidas estratégias de gestão costeira proativas, a fim de minimizar os efeitos da erosão marinha e da elevação do nível do mar. “Os resultados deste estudo fornecem insights valiosos não apenas para o município de Conde, mas também para outras regiões costeiras globalmente, reforçando a necessidade de uma ação climática urgente e coordenada para mitigar os impactos adversos da elevação do nível do mar”, conclui o pesquisador.

Participantes

Da UFPB, além do professor Celso Santos, contribuíram para a elaboração do estudo os docentes Leonardo Vidal Batista, do Centro de Informática (CI), e Richarde Marques da Silva, do Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN). Gleycielle Rodrigues do Nascimento, egressa do curso de Engenharia Ambiental, e Luccas Matheus Torres Freitas, aluno de iniciação científica da Engenharia da Computação, também participaram do trabalho.

A pesquisa contou, ainda, com a contribuição das universidades Fakir Mohan, na Índia, e de Chlef, na Argélia, por meio dos professores Manoranjan Mishra e Bilel Zerouali, respectivamente. O artigo completo está disponível, gratuitamente, na internet até o dia 8 de março. Após este período, apenas a comunidade acadêmica contará com acesso irrestrito ao estudo.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 26 de janeiro de 2024.