A Polícia Civil confirmou em entrevista coletiva na manhã de ontem que o corpo encontrado na zona rural de Bananeiras era de Tiago Fontes, principal suspeito do desaparecimento da menina Ana Sophia, no dia 4 de julho, no distrito de Roma, naquele município do Brejo paraibano. A investigação aponta que Tiago matou a garota e ocultou o corpo dela. Ontem mesmo, o Corpo de Bombeiros retomou as buscas na área onde o corpo do suspeito foi encontrado.
O laudo pericial comprovou que Tiago cometeu suicídio por enforcamento, segundo o diretor do Instituto de Polícia Científica (IPC), Marcelo Burity. A identidade dele foi comprovada através de um exame necropapiloscópico e um exame necroscópico confirmou o enforcamento. O corpo dele foi encontrado na última sexta-feira (10).
Procura pelo corpo
O trabalho de investigação agora segue com a retomada das buscas pelo corpo de Ana Sophia. De acordo com o tenente-coronel Paiva Neto, do Corpo de Bombeiros, será estabelecido um raio de atuação próximo ao local onde Tiago Fontes foi encontrado enforcado.
“Não estamos trabalhando com achismo, estamos trabalhando com certeza. E com essa responsabilidade podemos afirmar que foi Tiago Fontes que assassinou Ana Sophia e não existe a possibilidade dela estar desaparecida, ela está ocultada”.
Conforme o tenente-coronel Paiva Neto, do Corpo de Bombeiros, as buscas serão centralizadas em dois pontos: próximo ao local onde o corpo de Tiago foi encontrado e o trajeto do condomínio onde Tiago trabalhava até o distrito de Roma.
“A região tem muitos detalhes: poços, cacimbas, caixas d’água, casas abandonadas. Desde o início fazemos buscas nesses locais, mas vamos ampliar para a área que ele fez o deslocamento”, explicou o oficial.
Delegado afirmou que assassino quase confessou o crime
- Corpo de Bombeiros retomou as buscas na tentativa de localizar corpo da menina - Foto: Redes sociais
Conforme o delegado Aldrovilli Grisi, Tiago quase confessou o crime por três vezes. Esse foi um dos principais indícios da autoria do crime, segundo o policial civil. Ele explicou que a análise das provas colhidas, como imagens de câmeras de segurança e depoimentos de testemunhas foram “fechando o cerco” sobre Tiago.
“As provas testemunhais de pessoas que viram Ana Sophia antes dos 15 metros da casa de Tiago e outras diversas testemunhas que não viram a menina após a casa de Tiago, a própria imagem foi trabalhada de forma científica e conseguiu determinar pelo caminhar, a altura, a semelhança, as provas testemunhais, inclusive do próprio Tiago que disse não saber quem era aquela pessoa que entra no imóvel. A criança de 14 anos, filha dele, que disse que não sabia quem era. A babá, que foi coagida dentro da delegacia a ficar em silêncio pelo próprio Tiago. Todos esses elementos foram fechando a linha de investigação”, detalhou Aldrovilli.
Depoimentos
O delegado ainda acrescenta que a esposa e a filha de Tiago foram convidadas a depor durante o processo, e enquanto elas eram ouvidas, Tiago compareceu à delegacia. “Esse foi o momento que ele esteve à beira de confessar o crime. Ele falou para mim por três vezes que tinha ‘acabado com a vida dele’ e que queria falar, mas em dado momento ele baixava a cabeça, refletia mais e dizia ‘eu não tenho o corpo’. Aquilo ali representava pra mim que ele tinha ocultado o corpo de uma forma extremamente segura e sabia que se não fosse por meio dele, possivelmente não acharíamos o corpo (de Ana Sophia)”, contou o delegado.
Segundo investigação, ele saiu de casa por trajeto diferente do usual
Uma atitude de Tiago levantou suspeitas da investigação: imagens de uma câmera instalada na casa dele mostram que a esposa chegou com o carro para que ele saísse minutos depois. Ele colocou o carro na garagem, algo que ele não costumava fazer, depois saiu de casa para ir trabalhar, mas muda o trajeto.
“Ele foi com o carro dele por uma rota distinta da comum, num período climático que impossibilitava o trajeto por uma via de barro, enladeirada. Ele vai pro trabalho e sai antes - pelo menos 1h30 - e acreditamos que nesse tempo ele se desfez do corpo”, disse o delegado.
Depois, segundo o delegado, ele foi visto limpando a garagem, possivelmente para remover quaisquer indícios do crime. “Ele estava extremamente preocupado que o localizassem, foi muito meticuloso, detalhista. Não foi uma investigação fácil”, afirmou Aldrovilli.
A casa de Tiago foi periciada, bem como celulares e computadores utilizados pela família. Um dos aparelhos encontrados pela perícia tinha sido formatado. Outro celular, que foi encontrado escondido dentro de um armário na casa do sogro de Tiago, segundo o delegado, forneceu provas incontestáveis do crime.
Tiago fez pesquisa
Nós acreditamos que, muito provavelmente, por ele ter tido contato físico com a vítima, ele se preocupou em vestígios dele serem localizados no corpo da criança - Aldrovilli
O delegado detalhou também que horas após a comunicação do desaparecimento de Ana Sophia, Thiago usou o celular no dia 5 de julho, por volta das 4h da manhã, para pesquisar sobre decomposição do corpo humano. Nos dias seguintes, prosseguiu com buscas sobre quanto tempo as moléculas de DNA permanecem em cabelos, além de casos de desaparecimento e morte da adolescente Júlia dos Anjos, em abril do ano passado.
“Nós acreditamos que, muito provavelmente, por ele ter tido contato físico com a vítima, ele se preocupou em vestígios dele serem localizados no corpo da criança”, disse Aldrovilli.
Uma pesquisa que também chamou a atenção da investigação foi a busca sobre o caso Bárbara, uma menina de Minas Gerais que foi estuprada e morta, além de ter o corpo ocultado, e após o autor ser identificado, cometeu suicídio. Segundo o delegado, esse fato pode indicar que a morte de Ana Sophia seria um crime sexual.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 15 de novembro de 2023.