Notícias

homem foi preso

Criança morta pelo pai é sepultada

publicado: 04/11/2025 08h44, última modificação: 04/11/2025 08h44
Corpo da vítima, que tinha autismo e deficiência visual, estava em uma cova rasa; suspeito confessou o crime

por Íris Machado*

O menino Arthur Davi, de 11 anos, com autismo e deficiência visual, foi enterrado ontem, no cemitério do bairro Cristo Redentor, em João Pessoa. Conforme investigações da Polícia Civil da Paraíba (PCPB), Arthur foi morto pelo próprio pai, Davi Piazza Pinto, que confessou o crime, cometido no fim de semana. O corpo da criança foi liberado ainda no último domingo (2) e o velório ocorreu de forma privada, reunindo familiares e amigos. Davi entregou-se às autoridades de Florianópolis (SC), para onde retornou após o assassinato do filho, e permanece sob custódia policial.

A vítima estava desaparecida desde a manhã da última sexta-feira (31). Seu corpo foi encontrado na noite do sábado (1o), em um saco plástico colocado dentro de uma cova rasa, próximo a uma região de mata do bairro Colinas do Sul, na capital. Conforme apurado pela PCPB, Arthur teria sido levado ao local, já morto, pelo pai, em um carro de transporte por aplicativo.

O resultado da necrópsia realizada pelo Instituto Médico Legal (IML) aponta que a causa da morte foi asfixia por sufocação. Exames complementares, como o anatomopatológico e o toxicológico, também foram solicitados para elucidar as circunstâncias do crime e serão divulgados posteriormente. 

Reaproximação

De acordo com informações da PCPB, Davi Piazza Pinto havia viajado de Santa Catarina, onde mora, para a Paraíba. Ele entrou em contato com a ex-companheira e mãe de Arthur, Aline Lorena, que reside na capital paraibana, alegando o desejo de se reaproximar da criança. A mulher permitiu o encontro, que ocorreu no bairro de Manaíra.

No entanto, as investigações indicam que Davi pode ter premeditado o crime e teria, inclusive, escolhido com antecedência o lugar de ocultação do corpo. Ainda no sábado (1o), segundo os relatos da mãe, Davi ligou para ela e admitiu ter “perdido a cabeça” e matado Arthur. Depois de confessar o crime às autoridades, ele revelou as coordenadas de localização da cova onde enterrou o garoto.

Subnotificação

Casos de maus-tratos contra crianças com deficiência sofrem com um elevado número de subnotificações. Isso acontece tanto por parte da família quanto de pessoas próximas, que tomam conhecimento de ocorrências do tipo e não informam às autoridades, como explica o juiz titular da 1a Vara da Infância e Juventude da capital, Adhailton Lacet.

De acordo com o magistrado, o artigo 227 da Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) asseguram os direitos fundamentais e os primados da prioridade absoluta, a proteção integral e o melhor interesse dos menores. “As providências são sempre as de se ter um cuidado redobrado, garantindo a essas crianças a devida proteção integral que preconiza o ECA, buscando sempre a formação continuada dos profissionais que lidam com esse público infantojuvenil, ou seja, capacitação permanente com fiscalização atuante dos órgãos competentes”, comenta.

Adhailton reforça a necessidade de a população denunciar episódios do gênero, caso haja algum sinal de dano ou maus-tratos a crianças com deficiência. O principal canal disponível é o Disque 100 (Disque Direitos Humanos). Além disso, os Conselhos Tutelares, o Ministério Público, as polícias Civil e Militar e a própria Vara da Infância e Juventude também possuem equipes preparadas para lidar com essas ocorrências.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 4 de novembro de 2025.