por Mayra Santos*
A pandemia e a crise econômica que o Brasil vem enfrentando nos últimos anos ainda repercutem em vários cenários sociais. É o caso das instituições filantrópicas que sobrevivem por meio de doações voluntárias e, desde a pandemia, têm sofrido com essa conjuntura social. Em João Pessoa, existem algumas entidades que vivem de doações como a Vila Vicentina, a Casa da Criança com Câncer e o Hospital Padre Zé, todas sentiram o impacto dessa realidade com a quantidade de doações em baixa, sendo afetadas famílias que vivem em vulnerabilidade e que não podem deixar de receber essa ajuda.
A Vila Vicentina Júlia Freire é um abrigo que existe há 71 anos e que acolhe atualmente 61 idosos, sendo localizada no bairro da Torre. A instituição ainda vem sofrendo os reflexos da pandemia e do atual cenário econômico do país. O presidente do abrigo, José de Arimatéia, afirmou que com as restrições da pandemia, não foi mais possível receber a visita de pessoas que realizavam a doação de forma presencial, o que era de costume, por isso, a medida restritiva causou uma escassez nas doações que mantêm a instituição atuante.
Ele disse que, nos anos que antecedem a pandemia, a realidade era completamente diferente. “As prateleiras eram sempre cheias em nossa dispensa, hoje temos prateleiras vazias”, lamentou. Além disso, a economia não vai bem no país, o que só agravou a situação. “Do ano passado para cá, a partir do segundo semestre, essa questão econômica tem influído muito, porque está tudo mais caro.” E complementou, “embora a situação não esteja fácil, o estoque ainda está dentro da ‘faixa de segurança’”.
José de Arimatéia explicou que a equipe trabalha com estoque estratégico para três meses. “Quando começa baixar a quantidade de produtos, iniciamos uma ação com o objetivo de realizar arrecadação de insumos, tais como alimentos não perecíveis e materiais de higiene e limpeza”. Os insumos que a Vila Vicentina arrecada, além dos alimentos não perecíveis, são fraldas geriátricas, pasta de dente, sabonete, entre outros.
Além disso, informou que a despesa com medicação é alta. “Só para se ter uma ideia, a Vila gasta em torno de R$ 1.500 por mês com remédio”. Desse modo, ressaltou a importância de manter a doação por dinheiro, porque assim fica mais fácil comprar toda medicação, que é muito específica para cada idoso, sendo possível realizar a compra apenas via receita médica.
Arimatéia contou que, no auge da pandemia, a saída encontrada por eles foi aderir ao pix e usar as redes sociais para divulgá-lo com a finalidade de alcançar os doadores de uma forma que os mantivessem protegidos do então vírus. Assim, a Vila Vicentina voltou a receber doações, entretanto, o presidente ressaltou que essa modalidade de doação não resolveu o problema, mas amenizou a situação em que se encontrava a instituição.
Encontrando formas para repor a redução das contribuições
Já na Casa da Criança com Câncer, instituição também filantrópica, localizada na rua Deputado Odon Bezerra, 215, no Tambiá, atua em prol das crianças com câncer há 25 anos e assiste a 128 crianças e adolescentes, todos do interior do estado, por isso precisam passar a semana em João Pessoa, durante o período de tratamento e a instituição dá suporte a essas crianças e às famílias que precisam desse apoio.
Segundo Welma Carvalho, coordenadora da instituição, a situação da instituição também não é das melhores depois da pandemia e diante da situação econômica. “O cenário econômico tem afetado, sim, em relação às doações recebidas e, atualmente, no estoque conseguimos manter uma média em relação a alguns produtos como a cesta básica, mas em relação a outros, temos uma dificuldade maior como o leite, suplemento e fralda”, informou.
Ela contou que antes da pandemia, era mais fácil receber doações, tanto de pessoas jurídicas e como de pessoas físicas. “As pessoas faziam campanhas, vinham até a instituição e, durante a pandemia, ficou restrito para que as pessoas viessem até aqui, o que dificultou, provocando uma queda de 40% nas doações”, revelou.
A Casa da Criança com Câncer também promoveu campanhas por meio das redes sociais como Instagram, Facebook e WhatsApp para arrecadação de alimentos não perecíveis e produtos de higiene e limpeza.
O cenário não é diferente no Hospital Padre Zé, que também fica em Tambiá. É mais uma instituição que vem sofrendo com as doações em baixa. A coordenadora do hospital, Jannyne Dantas relatou que “as doações tiveram uma queda muito grande, além dos preços que foram elevados, por isso muita gente que ajudava, não teve mais condições de ajudar. Houve uma queda de mais de 50% das doações financeiras”.
Ela contou ainda que antes da pandemia era completamente diferente. “Antes não precisávamos comprar uma fralda, um quilo de feijão, tudo era adquirido por meio de doação, então, foi diminuindo na pandemia, todo mundo ficou muito amedrontado, o que dificultou o recebimento de doações”, ressaltou.
Para doar, Jannyne informou que existe o setor de teledoações, que vai buscar doações em dinheiro na residência do doador. Há também o setor de doação em que o motorista vai buscar a doação em alimento, medicamento, roupas. “Temos um bazar que funciona na segunda e quarta, que também recebe doações que são revertidas em dinheiro para o sustento e para as ações sociais que o hospital realiza”, completou.
Amem teve que suspender novas acolhidas
O Hospital Padre Zé foi fundado há 57 anos, é uma instituição filantrópica de referência em saúde pública. Por meio de sua unidade de atendimento, serviços ambulatoriais e também por seus esforços de responsabilidade social com a comunidade, ajuda um número cada vez maior de paraibanos a ter uma vida melhor e mais saudável. Isso inclui os mais de 18 mil pacientes atendidos anualmente em suas instalações e também cidadãos que se beneficiam da cooperação pública, dos projetos de apoio ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Além dessas instituições, a Associação Metropolitana de Erradicação da Mendicância (Amem) existe há 51 anos e atualmente acolhe apenas 20 idosos. “Com a pandemia a associação não pode acolher novos idosos e alguns morreram, infelizmente. Já estamos fazendo visitas técnicas e pleiteando novos acolhimentos e nesse mês de setembro, muito provavelmente, haverá pelo menos mais 10 novos acolhidos”, afirmou a vice-presidente da Amem, Emanuelly Pessoa.
Antes da pandemia, recebíamos muitas doações de alimentos, material de higiene e limpeza. Com a pandemia, essas doações caíram bastante, sobretudo, as doações realizadas em conta bancária, porque nós temos uma despesa alta com a folha de pagamento e precisamos dos funcionários para que a instituição funcione e dê o melhor para os idosos, por isso precisamos de um corpo considerável de funcionários.
Esses funcionários traz uma folha de pagamento e estamos com dificuldades para honrar com esse compromisso. Além disso, todas as doações tiveram uma queda substancial.
Recebemos ainda alimento, fralda geriátrica, material de higiene pessoal como desodorante, lenço umedecido, pomada de assadura, sabonete líquido. Nós também temos idosos acamados, a gente usa bastante esses produtos que ajudam para cuidar melhor deles.
Como Doar?
• Vila Vicentina
Banco do Brasil
Pix: 03033073800001
Caixa Econômica Federal
Pix: vvjf@bol.com.br
Instagram @vilavicentinajp
• Casa da Criança
com Câncer
Pix: CNPJ: 02.229.875.0001-95
Banco do Brasil
Ag. 3502-5 c/c 1583-0
Instagram: @casadacriancacomcancerpb
• Amem
Banco do Brasil
Ag. 1636-5 c/c 63742-4
Pix CNPJ: 08.976.383/0001-40
• Hospital Padre Zé
Pix: CNPJ 08.667.206/0001-81
Banco do Brasil
Ag. 0011-6 C/C 15774-0
www.hospitalpadreze.com.br
Instagram: @hospitalpadreze
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 30 de agosto de 2022.