Cardoso Filho
Presença de baratas em enfermaria, falta de equipamentos, material de uso diário com validade vencida, falta de insumos na área de ortopedia e traumatologia, além de aparelhos sucateados, a exemplo do tomógrafo, que está quebrado há quase dois anos, são algumas das várias irregularidades encontradas durante fiscalização do Conselho Regional de Medicina no Complexo Hospitalar Governador Tarcísio Burity (Ortotrauma), o Trauminha, que funciona em Mangabeira e é administrado pela Prefeitura Municipal de João Pessoa.
Ontem mesmo foi encaminhado relatório relatando as irregularidades para o Ministério Público Estadual e também para a Secretaria Municipal de Saúde. O órgão da Prefeitura da capital tem prazo de 30 dias para solucionar os problemas do Trauminha.
Durante coletiva, ocorrida ontem no auditório do CRM, o presidente da entidade, médico João Medeiros Filho; o diretor de fiscalização, João Alberto Morais; o presidente do Sindicato dos Médicos da Paraíba, Tarcísio Campos e o ortopedista Remo Castro (plantonista do Trauminha) foram unânimes em opinar pela interdição daquele complexo hospitalar.
João Medeiros chegou a dizer que o hospital deveria estar fechado, pois não tem condições de atender a população, no entanto, segundo ele, isso poderia criar um caos na saúde da capital. Todas as irregularidades encontradas no Trauminha constam no relatório. “Esperamos providências urgentes”, disse o presidente do CRM.
Entre as denúncias constantes do relatório está a superlotação. Ontem, o médico João Medeiros revelou que a área vermelha, com capacidade para cinco pacientes, estava com 12. Ele sugeriu que a Secretaria Municipal de Saúde deveria locar leitos de outras instituições. “O que não pode é continuar como está”, disse.
Pacientes esperam chamada para cirurgia
O diretor de fiscalização do CRM, João Alberto, responsável pela inspeção realizada anteontem no Trauminha, disse que durante cinco horas conversou com pacientes, funcionários, médicos e todos foram unânimes em denunciar a falta de estrutura do complexo hospitalar Governador Tarcísio Burity e disse que, por ele, o local seria interditado.
João Alberto denunciou que alguns pacientes estão recebendo alta para aguardarem a cirurgia em casa. “Geralmente são cirurgias ortopédicas e com risco de sequelas”.
Na fiscalização foram encontrados o tomógrafo quebrado, já há dois anos, e raio X sem funcionar. O diretor do CRM disse ainda que a orientação seria a retirada de todos os médicos “pois não existe condições de trabalho”.
Durante a fiscalização não foi encontrado nenhum paciente com menos de 30 dias esperando por uma cirurgia e ao final da entrevista ele sugeriu o sequestro dos bens dos gestores.
Situação crônica
O presidente do Sindicato dos Médicos da Paraíba, Tarcísio Campos, numa posição mais dura, disse que o problema é crônico e que os médicos que prestam serviços no Trauminha trabalham em situação de guerra, e foi mais além afirmando que a entidade propõe ao Ministério Público para agir com força, por ser o fiscal da lei e denunciou que “não se pode gastar em outros setores, o que poderia estar se utilizando na área da saúde”.
Além do Trauminha, Tarcísio Campos revelou que os demais hospitais da rede pública administrados pela Prefeitura Municipal de João Pessoa apresentam problemas e falta de tudo no hospital do Valentina Figueiredo, no Hospital Santa Isabel, na maternidade Cândida Vargas, onde as pacientes, às vezes, têm que dividir leitos, ficam em cadeiras durante o pré-parto, entre outras irregularidades, e afirmou categoricamente: “Não se faz saúde com gambiarra”.
Já o ortopedista Remo Soares Castro, plantonista do Trauminha, disse que nos seus 33 anos de profissão nunca vivenciou um momento como esse e afirmou que o Trauminha está no fim do poço.
Remo Soares falou da pactuação firmada entre o Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena de João Pessoa, referência no atendimento em traumatologia e ortopedia, e o Complexo Hospitalar de Mangabeira Governador Tarcísio Burity (Ortotrauma) com o objetivo de otimizar o atendimento ortopédico na capital e organizar o fluxo de pacientes que são atendidos nas duas unidades.
O ortopedista disse que, pela pactuação firmada em julho de 2015, todas as fraturas de membros superiores e inferiores, localizadas abaixo do cotovelo ou do joelho, ficam tendo como referência para o atendimento o Ortotrauma de Mangabeira. Acima do cotovelo ou acima do joelho, a responsabilidade é do Trauma. Também serão referenciadas para o Trauma as fraturas mais graves, que apresentem lesão de vasos ou nervos.
Ele explicou que o acordo vem sendo cumprido pelo Hospital de Emergência e Trauma, o que não ocorre com o Trauminha pela falta de equipamentos e tudo aquilo que foi observado durante a fiscalização.
Uma audiência está marcada para o próximo dia 13 na Promotoria da Justiça de Defesa da Saúde com a presença da Comissão de Licitação da SES-JP, bem como dos representantes da Comissão de Licitação da Procuradoria-Geral de Justiça, com a finalidade de esclarecer o andamento do processo de licitação para a aquisição dos materiais cirúrgicos para a realização dos procedimentos eletivos.