É uma casa verde, pequena, quase não vê quem passa na rua. A não ser pela placa bem alta indicando: “Hospital dos Brinquedos”. Desde 1982, ajustando, arrumando, trocando e consertando brinquedos, está o técnico em mecânica Francisco Cavalcanti — “com ‘i’, viu?”, reforça. Com mais de 25 mil clientes atendidos, nos mais de 40 anos de atuação, Francisco viu as mudanças não apenas dos brinquedos, mas também dos interesses das crianças e de pais e mães. Considerando as festas de fim do ano e os presentes escolhidos aos pequenos e pequenas, são nesses últimos meses que a demanda aumenta. Segundo Francisco, é o momento em que dobra o trabalho, mas também o orçamento.
“É, no fim do ano, tudo aumenta. Basicamente nosso trabalho é conserto. Vez ou outra, a gente vende alguns brinquedinhos, mas é muito raro. Então, chega final do ano, trabalho é dobrado, como se diz, para a demanda. Tenho clientes que trazem esses carrinhos eletrônicos, é o momento de muito movimento no fim do ano. Está vendo aquele papai-noel ali? Eu tenho clientes que têm coleção. E, no fim do ano, trazem tudinho, já em outubro. Porque sabem que, se for muito em cima, não dá tempo de entregar para o Natal”, coloca o proprietário.
"Isso aqui é um divertimento para mim, é prazeroso! Nunca será um peso. Foi daqui que eu criei meus filhos"
- Francisco Cavalcanti
A presença do papai-noel em meio aos brinquedos pode ser até estranha. Mas, de toda forma, se trata também de um boneco precisando de ajuda — principalmente para trabalhar no Natal. “Eu tenho clientes que têm coleção. Eu tinha uma cliente que possuia seis mil papais-noéis. Ela tinha dois quartos para eles em casa. O ano todo guardados lá. No fim do ano, ela trazia, eu consertava, ela já trazia em outubro, para dar tempo”, lembra Cavalcanti.
Na opinião dele, a preferência pelo conserto de brinquedos para dar de presente nas festividades de fim de ano é a de que os antigos têm mais qualidade. Reforça que atualmente esses objetos lúdicos, em sua maioria, como carrinhos de controle, eletrônicos, e mesmo as próprias bonecas, são mais frágeis, principalmente pela importação em larga escala de produção na China que chega ao Brasil. “Quem tem seus carrinhos mais antigos ou é colecionador prefere consertar e dar à criança a tentar comprar outro. Se ele já tem aquele que está consertado, é melhor. Também há pessoas que consertam para doar para outras pessoas”, explica Francisco.
História
O ainda único hospital de brinquedos de João Pessoa foi inaugurado no ano de 1982 e funciona até hoje na mesma sede, no bairro de Jaguaribe. A proposta era reproduzir o modelo de um hospital de bonecas de São Paulo. A iniciativa fora de Francisco Cavalcanti e do irmão, mas o mesmo não se dedicava tanto quando ele. Depois do irmão falecer, foi Francisco quem ficou cuidando de tudo — e cuida até hoje.
Se dependesse da família, diz que teria se aposentado na pandemia. “Mas por que não fecha?”, pergunto. “Porque isso é um divertimento para mim, é prazeroso! Nunca será um peso. Foi daqui que eu criei meus filhos, paguei estudo, começaram a trabalhar comigo também, até se formarem e irem para as profissões deles”.
Como cuidar dos brinquedos?
No caso de brinquedos com problemas eletrônicos e elétricos, que é a especialidade do Hospital dos Brinquedos, as crianças – ou adultos – podem ter que esperar de uma a três semanas para ter seu mimo retomado – isso a depender de cada caso. Por isso, é bom sempre manter cuidado com os brinquedos para evitar dores de cabeça. Francisco dá duas dicas: “Primeira, brinquedo parado, você tira as pilhas. Não se guarda com pilhas nenhum produto que não está em uso. Se estourar, é um líquido corrosivo que afeta os circuitos. Segunda, baterias recarregáveis: manter carregada. Brincou, recarrega, guarda. Vai dar mais vida útil”, finaliza Francisco.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 05 de dezembro de 2024.