No período que corresponde ao ano de 2020 até outubro de 2024, foram diagnosticados na Paraíba 4.047 casos do vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Somente em 2024, entre janeiro e outubro, o estado registrou 781 novos casos de HIV e o mesmo quantitativo de casos de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), segundo dados do último Boletim Epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (Ses-PB). Nos 12 meses do ano passado, foram 911 registros de Aids. Os números mostram que são, em média, dois pacientes por dia.
No comparativo por número de habitantes, os números mostram que este ano (até outubro) foram 19,2 casos/100 mil habitantes e no ano passado foram 22,4 casos a cada 100 mil habitantes. João Pessoa lidera em número de casos confirmados, sendo 406 diagnósticos de HIV (52% do total) e 98 de Aids, seguida por Campina Grande, com 52 casos de HIV e 17 de Aids.
Este mês é realizada a campanha Dezembro Vermelho, dedicada à sensibilização e prevenção ao HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), por isso as ações nesse sentido vêm sendo reforçadas. Segundo a gerente operacional de condições crônicas e IST da Ses-PB, Ivoneide Lucena, em entrevista ao Programa Fala Paraíba, retransmitida pelo Jornal Estadual, ambos da Rádio Tabajara FM, as ações de qualificação realizadas pelo Governo do Estado também vêm sendo intensificadas. “Por meio da Secretaria da Saúde, a gente vem qualificando trabalhadores da saúde dos 223 municípios para ofertar o teste rápido”, destaca.
Ivoneide explica também que o teste está disponível na atenção primária e em postos de saúde de todos os municípios paraibanos. “As pessoas podem ir lá, fazer o teste, é só um furinho no dedo, e em 20 minutos sai o resultado. E essa pessoa, caso dê reagente para HIV, vai ser encaminhada para fazer exames laboratoriais, tratamento, passar pelo infectologista, tudo de forma gratuita, pelo SUS. Nosso maior objetivo é que, a contar do diagnóstico até o início da medicação do tratamento, se passe menos de um mês. Para que, posteriormente, essa pessoa não contamine outras pessoas, mesmo tendo uma relação sexual sem camisinha”, afirma a gerente.
Preconceito
Segundo a gerente, devido à cultura e ao preconceito, a procura pela testagem nos postos de saúde ainda é pequena, e acontece, sobretudo, em casos em que as pessoas identificam algum sintoma, o que nem sempre acontece em casos de HIV. “Vai variar de pessoa para pessoa, mas podem se passar três, quatro, cinco anos, sem sintoma algum”. Contudo, ela explica que há ainda casos em que as mulheres vão fazer um pré-natal, por exemplo, é feito o teste, e em caso de diagnóstico, os parceiros também são chamados para fazer a testagem. “Então, geralmente os homens heterossexuais vêm por conta de um resultado reagente na gestante, na sua parceria”, comenta.
O preconceito ainda é uma barreira para que muitos procurem o diagnóstico e tratamento adequados para o HIV/Aids. Segundo a gerente operacional de condições crônicas e IST da Ses-PB, essa é a primeira coisa que passa pela cabeça da maioria da população que teme receber um resultado positivo e também tem medo da rejeição social que pode sofrer. “Num mundo tão tecnológico, tão cheio de informações, na palma da mão, a gente tem tanta informação, mas as pessoas acabam não buscando e têm preconceito por causa da desinformação”, afirma.
Segundo ela, é essencial quebrar esses tabus e fortalecer a adesão ao tratamento, que pode elevar a qualidade de vida dos pacientes e garantir que eles possam viver mais e melhor. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o tratamento é oferecido a todos que têm a confirmação do diagnóstico. A boa adesão à terapia antirretroviral (TARV) traz benefícios individuais, como aumento da expectativa de vida e o não desenvolvimento de doenças oportunistas, além da possibilidade de se tornar indetectável. Dessa forma, reduz, drasticamente, a possibilidade de transmissão do vírus, devido à supressão da carga viral.
Perfil
Embora, na maioria das vezes, os homens não tenham a iniciativa de fazer o teste, eles representam a maior parte dos casos. Entre 2020 e outubro de 2024, os casos de HIV em pessoas do sexo masculino somam 74,7% do total. No mesmo período, foram diagnosticados 1.608 casos de Aids em adultos na Paraíba, desses 1.241 (65,6%) em homens e 367 (34,4%) em mulheres. Quanto à faixa etária, a maioria dos casos de Aids foi detectado em pessoas na faixa etária de 30 a 39 anos (29,8%). No quesito orientação sexual há uma subnotificação quanto ao preenchimento dessa informação por parte do público, mas os dados apresentam maior percentual (557 casos) em pessoas heterossexuais, seguido de homossexual (299) e bissexual (41).
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 04 de dezembro de 2024.