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Estudos revelam que, na última década, cerca de 100 milhões de pessoas foram a óbito por causa do cigarro

Dependência à nicotina: mais de oito milhões morrem ao ano

publicado: 31/05/2022 09h24, última modificação: 31/05/2022 09h24
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Foto: Ortilo Antônio

por Nalim Tavares*

Reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência à nicotina, o tabagismo mata mais de oito milhões de pessoas, a cada ano, segundo dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Como forma de contribuir para a diminuição desse número, hoje, 31 de maio, Dia Mundial Sem Tabaco, a OMS e outras organizações parceiras se unem na luta de combate ao fumo.

De acordo com o quarto relatório da OMS sobre as tendências globais do tabaco, divulgado em novembro de 2021, o tabagismo afeta cerca de 1,3 bilhão de usuários no mundo. Dados da empresa farmacêutica multinacional Pfizer estimam que, na última década, 100 milhões de pessoas faleceram por causa do cigarro, e, até 2030, a previsão de mortes ligadas ao uso de tabaco é de 10 milhões.

Conforme dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), em 2021, João Pessoa tinha um total de 7,52% de adultos fumantes, com idade maior ou igual a 18 anos, segundo um levantamento feito nas capitais dos estados brasileiros e no Distrito Federal. Em 2020, o número era menor: 5,11%.

Para o pneumologista Sebastião Costa, esse aumento no percentual de fumantes na capital paraibana, pode ter sido uma consequência do período pandêmico, que agravou os números do tabagismo. “A Covid trouxe muita ansiedade, e as pessoas passaram a fumar mais. Isso fez com que elas ficassem mais expostas à doença e a gravidade do vírus. As pessoas ficaram mais solitárias, mais enclausuradas e fumaram mais”, explica ele. “As pessoas que fumam têm mais chances de contrair a Covid, e o caso delas é sempre mais grave, não só pelas patologias pré-existentes, mas porque o pulmão do fumante já lida com um processo inflamatório muito grande. Um dos grandes problemas da Covid é justamente a tempestade de inflamações que ocorrem no pulmão. Quando chega a um pulmão já inflamado, a coisa é muito mais complicada.”

O pneumologista conta que o cigarro é capaz de provocar 56 doenças diferentes. No entanto, é possível destacar três delas: “o infarto do miocárdio, o enfisema pulmonar e o câncer de pulmão. Essas são as três patologias que mais causam a morte de fumantes.”. De acordo com dados do Hospital do Coração (HCor), o consumo do tabaco está associado a 30% das mortes por câncer, sendo mais de 90% deles de pulmão, 25% de infarto agudo do miocárdio, e quase metade dos casos de derrames cerebrais.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, 60% dos fumantes indicam querer parar de fumar, no entanto, apenas 30% deles têm acesso a métodos que ajudam a superar o vício que, além de físico, é mental. De acordo com Sebastião Costa, como a nicotina é uma droga psicoativa, que estimula o sistema nervoso central, “as pessoas que têm ansiedade, depressão, e também as pessoas mais estressadas, por exemplo, tendem a fumar mais e têm mais dificuldade de romper com a dependência. Então o tratamento exige uma abordagem cognitiva comportamental, que vai neutralizar essa dependência psicossocial.” O pneumologista explica que “depois disso, a gente vai começar um tratamento medicamentoso propriamente dito.

Na rede pública de saúde, é possível encontrar tratamento gratuito contra o tabagismo. “Há o acompanhamento psicológico, com reuniões de grupos de fumantes que ajudam muito quem quer parar de fumar”, relata Sebastião Costa. “É importante que se diga que o tratamento é todo gratuito. Existe a bupropiona, que é um comprimido que reduz a vontade de fumar, e existem adesivos de nicotina, que ajudam no tratamento, realizando uma redução gradativa da nicotina. Tudo isso ajuda a parar de fumar.”

O Dia Mundial Sem Tabaco foi criado em 1987. Em 2022, o tema da campanha é “Tabaco: Ameaça ao Nosso Meio Ambiente”. Estima-se que 600 milhões árvores cortadas e 22 milhões litros de água usados para produzir cigarros. Além disso, ao longo do seu ciclo de vida, o tabaco emite 84 milhões toneladas de CO2, que são liberadas no ar e contribuem para elevar a temperatura global. A expectativa da campanha é que o número de 1,3 bilhão de usuários de tabaco no mundo caia para 1,27 bilhão até 2025.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 31 de maio de 2022