por Beatriz Alcântara*
Tradicionalmente celebrado no segundo domingo do mês de agosto, hoje é, portanto, o Dia dos Pais. A data diverge de outros países do mundo, porque teve um surgimento mais mercadológico e comercial no país. Contudo, ao falar sobre paternidade, como definir o que é ser pai? Essa é uma pergunta que não possui apenas uma resposta, pois cada um, a partir da própria realidade, pode ter uma definição diferente acerca do assunto. Para alguns, é sinônimo de responsabilidade. Para outros, tornou-se saudade. E, em alguns casos, é um sentimento de algo que não se teve.
Segundo registros históricos, acredita-se que o “primeiro” Dia dos Pais aconteceu na Babilônia há mais de quatro mil anos. Na ocasião, um rapaz chamado Elmesu produziu um cartão feito de argila para entregar ao seu pai com felicitações de saúde, sorte e vida longa a ele. Já na Roma Antiga, sempre houve homenagens aos pais ao longo do mês de fevereiro, mas elas tinham o foco naqueles que já tinham partido.
No século 20, a primeira comemoração do Dia dos Pais aconteceu em 5 de julho, no ano de 1908, na Igreja Metodista de Fairmont, nos Estados Unidos. Mas, foi somente a partir de 1910, com Sonora Louise Smart Dodd, que o Dia dos Pais foi instaurado oficialmente. O dia escolhido foi a data de nascimento do pai de Louise, o dia 19 de junho. A partir disso, os americanos passaram a se interessar pela data e a celebração se espalhou pelo país inteiro, levando Lyndon Johnson, em 1966, a considerar o dia dos pais no terceiro domingo de junho e Richard Nixon oficializar em 1972.
Quanto ao Brasil, tudo começou a partir do interesse comercial. O responsável foi o jornalista e também publicitário Sylvio Bhering, em 1953, que sugeriu a comemoração do primeiro Dia dos Pais no país. A ideia era que a data atraísse comerciantes e publicidades para o jornal em que ele trabalhava na época, o “O Globo”. A data se popularizou e, até então, era celebrada todo dia 16 de agosto, conhecido como o dia de São Joaquim, considerado como o pai de Maria e avô de Jesus Cristo.
O problema é que a data caía frequentemente em dias de semana e, logo, dias úteis de trabalho. Por conta disso, houve a transferência da comemoração para o segundo domingo do mês de agosto, porque isso possibilitava que os pais pudessem celebrar com seus filhos em um dia de folga.
Paternidade produz idealizações e mudanças na vida
De acordo com o dicionário Oxford Languages, existem duas definições para o termo “paternidade”, sendo eles “qualidade ou condição de pai” e “vínculo sanguíneo que liga pai e filho”, mas, na prática, isso vai mais além. Enquanto as mães passam por todas as transformações da gestação, sendo como uma espécie de momento em que a ficha cai à medida que as semanas passam, para os pais esse momento, geralmente, acontece apenas quando o bebê nasce. É ali que a paternidade se materializa, pode-se dizer.
Severino Borges, 55 anos, lembra que levou algum tempo até a ficha cair de que realmente tinha se tornado pai. “Enxerguei que (agora) havia pessoas que dependiam exclusivamente de mim. Com o aumento das responsabilidades, passei a rever alguns conceitos. Ser menos ‘eu’ e mais ‘nós’. Meus filhos me fizeram ver a família como prioridade”, contou ele.Ele afirma que sempre pensou em ser pai e imaginava como seria a vida com os filhos. “Pensava que seria de muitos momentos de diversão, parceria, troca de conhecimentos e de uma convivência intensa” e não só isso aconteceu, mas cada um dos filhos o moldou de maneiras distintas. “Assim como cada filho tem a própria individualidade, cada um me ensinou e ainda ensina coisas diferentes; além de que, a paternidade me fez ser mais tolerante, amoleceu o meu coração, mas ao mesmo tempo me tornou mais destemido, mais corajoso; capaz de ter atitudes que jamais imaginei”, explicou Severino.
Foi também a paternidade que fez com que Severino olhasse seu próprio pai com novos olhos. “Passei a entender certos comportamentos e atitudes que ele tinha comigo e com os meus irmãos. Percebi o quanto ele teve que se sacrificar, negando as suas vontades para satisfazer as nossas. Entendi o quão ‘duro’ ele deu para que nada nos faltasse”, completou ele.
A paternidade pode causar receio, logo de cara, como foi o caso com Marcos Fábio, 55 anos, pai de uma filha. Segundo ele, o sentimento era de medo da responsabilidade, “porque você vai ter esse compromisso de prover esse novo ser. É uma responsabilidade muito grande e eu tinha medo de como ia me sair”. Depois que sua filha nasceu, ele ressalta que se tornou mais maduro e mais responsável, pois “tinha um novo ser ali que ia depender de mim financeiramente e emocionalmente, então eu tive que ter essa consciência”. Apesar da separação, Marcos se manteve um pai presente e “hoje eu agradeço pelo resultado e pela filha que eu tenho e as suas conquistas”.
Tratando-se da percepção quanto ao seu pai, Adirson Alcântara, Marcos relembra que passou um pouco da criação que teve para a criação da filha, principalmente a questão de orientar os princípios, o que é certo e errado “e deixava ela tomar as próprias decisões. Eu trouxe um pouco dele na minha formação”.
Enquanto alguns sempre sonharam em ser pai, outros nunca tiveram esse pensamento, mas a chegada dos filhos foi transformadora e motivo de grande felicidade. “Mudou tudo para mim, foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Se eu pudesse, eu teria 10 filhos e queria ficar perto deles direto dando beijos o tempo todo”, disse Edézio Nóbrega, de 56 anos, pai de três filhos.
Em relação a sua visão quanto ao seu próprio pai, Edézio pontua que não houve nenhuma grande mudança na forma como enxergava ele, pois manteve o amor e o respeito que sempre houve. Além disso, destacou que seu pai é “o melhor pai que um filho pode ter”.
Parceria
Para o psicólogo e professor universitário Luis Augusto Mendes, 44 anos, pode-se pensar a paternidade como um conjunto de ações “que estão focadas no cuidado físico, emocional, afetivo e social da criança, independente da ligação sanguínea. Podemos pensar que hoje a paternidade está ligada a uma parceria que orienta, acolhe e cresce junto com o desenvolvimento dos filhos”.
Além da experiência enquanto profissional, Luis Augusto também é pai do pequeno Lucas e ressalta que, em geral, existe uma visão muito idealizada da paternidade antes dela se concretizar. “Ficamos pensando no que podemos seguir de exemplo ou no que não faríamos da mesma forma. É um período que falamos: quando tiver um filho eu vou fazer desse jeito ou daquele”, lembrou ele.
Contudo, quando a paternidade chegou, de fato, veio junto com ela a necessidade de adaptação. “Penso que temos uma ideia muito básica de como ser pai, mas, no meu caso, foi em conjunto o meu filho, a esposa e nossa rede de apoio que fui me ajustando para ser o pai possível”, justificou Mendes.
Justamente essa observação fez com que ele percebesse também que cada período permite vários modelos de pai, enxergando-o seu pai com mais gentileza. “Eu optei por uma paternidade mais participativa, colaborativa e afetiva. Meu pai foi um homem do seu tempo, que se esforçou para nos permitir uma boa condição de vida e esse era o melhor que ele podia nos proporcionar, nesse ponto, eu tive um grande aprendizado”, reiterou Luis Augusto.
Por outro lado, a definição de paternidade, por vezes, se estende também à forma como as mães enxergam a figura paterna. Apesar de ter perdido o seu pai, Severino Ferreira, a empresária Marta da Silva, 60, não esquece as lições que aprendeu como filha. Ela acredita que ser pai é ser provedor em todos os setores da vida de um filho e não somente no financeiro, como também educacional, emocional, psicológico, etc. “É se fazer presente, mesmo na ausência física (seja por trabalho ou separação). É ser protetor e participar como puder da vida do filho, passando a segurança necessária para o crescimento daquele que deve tê-lo como exemplo”, justificou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 14 de agosto de 2022.