Com suas formações rochosas únicas e uma tradição culinária baseada no umbu, o município de Dona Inês sediará, de 14 a 16 de novembro, a etapa local da Rota Cultural Raízes do Brejo, oferecendo aos visitantes a oportunidade de degustar vários pratos com esse ingrediente e passeios ao ar livre, entre outras atividades. O circuito é uma iniciativa do Fórum Regional de Turismo Sustentável do Brejo Paraibano (FRTSB--PB), com o apoio do Governo do Estado e da Prefeitura Municipal, e deverá reunir de 12 mil a 15 mil pessoas nos três dias de programação. As atrações previstas para o festival prometem proporcionar ao público a vivência de novas experiências, envolvendo áreas como cultura e turismo de aventura.
“Nós estamos preparando um evento cultural, para que possamos resgatar nossos grupos de cultura popular. Eu entendo que o turismo aliado à cultura é uma política permanente. O bom é que a gente está proporcionando espaço para aqueles grupos de cultura popular que estavam esquecidos. É isso que estamos preparando: o resgate das raízes, da identidade do nosso povo, aliado às trilhas de turismo do nosso município”, ressalta o prefeito de Dona Inês, Antônio Justino.

- Visita à comunidade do quilombo Cruz da Menina também faz parte do circuito | Foto: Divulgação/Destino Brejo
Já o secretário de Cultura e Turismo do município, Josenildo Fernandes, frisa que, de fato, o foco na cultura popular é um fator diferencial da agenda festiva em Dona Inês. Além disso, Josenildo aponta que os visitantes poderão conferir práticas como a torra artesanal de café e passar uma tarde em uma comunidade quilombola local.
Mobilização
Localizada a cerca de 140 km de João Pessoa, Dona Inês é a quarta cidade a fazer parte da Rota Cultural Raízes do Brejo, que proporciona aos 10 municípios participantes mostrar seu potencial turístico. Para Josenildo Fernandes, o festival oferece visibilidade ampliada aos atrativos da localidade. “É uma forma de o município mostrar-se para os turistas, atrair seus olhares, trazê-los para as cidades e, a partir daí, mover investimentos para o Brejo paraibano”, comenta. Portanto, a iniciativa não proporciona apenas uma programação cultural, mas também uma ocasião de busca de aporte financeiro para cidades paraibanas que, normalmente, não dispõem de tanto destaque como destino de viagem.
Por meio de treinamentos, a população inesense — que, de acordo com o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 10.380 habitantes — vem se preparando para receber os visitantes do evento. “Agora, por exemplo, está no município a carreta do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial [Senac], para trabalhar justamente as questões da gastronomia, de higiene, de manipulação de alimentos, para que quem venha para o festival esteja realmente ciente de que vai comer algo preparado com muito cuidado e zelo”, detalha o secretário de Cultura e Turismo.
Além das capacitações, o fomento aos empreendedores locais tem sido uma prioridade da gestão municipal, como forma de incentivar o crescimento econômico. “A gente vem trazendo linhas de crédito para os empreendimentos da cidade, por meio do Banco do Nordeste e do Empreender Rural, para fomentar esse pessoal, para que eles possam ganhar dinheiro e ter um retorno com o festival”, comenta o secretário.
Itinerário
Com o tema “Versos e contos que retratam nossa história”, a edição deste ano do Raízes do Brejo começou em outubro e já passou por Lagoa de Dentro, Alagoinha e Serra da Raiz. Depois de Dona Inês, o circuito seguirá para Juarez Távora (de 21 a 23 de novembro), Guarabira (de 28 a 30 de novembro), Pirpirituba (de 5 a 7 de dezembro), Belém (de 12 a 14 de dezembro), Duas Estradas (de 19 a 21 de dezembro) e Pilõezinhos (de 26 a 28 de dezembro).
Atividades combinam música, artesanato e outras tradições
A programação da rota cultural em Dona Inês começará antes mesmo da agenda oficial do evento. De amanhã até a próxima sexta-feira (7), ocorrerá um concurso de redação para estudantes do Ensino Médio. De quinta (6) a sexta-feira (7), o município promoverá um curso de fotografia de paisagens no celular. Já em 13 de novembro, o museu municipal Espaço da Memória será palco de uma noite de degustação de queijos e vinhos, com música ao vivo.
Finalmente, a sexta-feira (14) será oficialmente o primeiro dia de atrações do Raízes do Brejo. Às 14h, o público poderá assistir ao tradicional procedimento da torra de café artesanal; às 15h, será aberta a exposição das melhores fotografias do curso e também haverá a premiação dos três primeiros lugares do concurso de redação. A solenidade de abertura do festival está marcada para as 19h30, seguida dos shows dos cantores Laís Santos e Wagner Viana.
No sábado (15), os turistas e os inesenses poderão participar de trilhas ecológicas para as chamadas Marmitas do Lajedo Preto — formações rochosas naturais que se assemelham a piscinas —, além de visitar a Pedra do Letreiro, onde é possível ver inscrições rupestres, e o Açude de Mulungu, localizado no Riacho Mulungu. A hora do almoço será animada por um trio de forró pé de serra, no Bar Rancho Gomes.
Para a tarde, está programada uma visita à Associação da Comunidade dos Remanescentes do Quilombo Cruz da Menina. A região ainda abriga o Ateliê Sérgio Teófilo, que exibe peças de madeira e de cerâmica do artesão e escultor homônimo; a capela do quilombo, lugar de visitações e orações; e o Café Quilombola, onde se pode apreciar pratos típicos, como tapiocas, cocadas, beiju e geleias de frutas, entre outros quitutes. A agenda prolonga-se até a noite, com um concerto na Igreja Matriz de Dona Inês e shows com o forrozeiro Lindo Silva, a cantora Flay — também conhecida por ter participado do reality show Big Brother Brasil — e o cantor Doninho Oliveira.
Último dia de atividades, o domingo (16) começará com uma visita guiada, às 9h, que percorrerá o Espaço da Memória, o Mirante da Serra e o viveiro de mudas do Instituto Curimataú, finalizando o passeio com uma degustação do mel de abelha extraído no local. O Restaurante Flor de Cacto servirá o almoço para o grupo de visitantes, ao som de um trio pé de serra. Às 16h, uma corrida de rua marcará o fim da programação.
Roteiros locais prolongam imersão nas vistas e nos sabores do município
Os três dias de Raízes do Brejo não serão suficientes para os turistas conhecerem todos os atrativos que Dona Inês tem a oferecer. O município dispõe de roteiros variados, que englobam diversos pontos turísticos, focando em experiências culturais e de aventura.
Há, por exemplo, o Roteiro das Pedras, produto turístico voltado especialmente para quem aprecia esportes radicais, como o rapel. A Pedra de Chico Bento e a Pedra Lavrada são, a propósito, ótimos pontos para essa prática. O passeio inclui visita a uma casa de farinha e a duas cachoeiras da região.
Outra opção é o Roteiro Mata do Seró, que conduz os viajantes por uma reserva ambiental legal, para conferir as belezas da flora e da fauna locais, por meio de trilhas. É possível, ainda, praticar rapel na Pedra do Purgatório, que tem 13 m de altura, e tomar banho na cachoeira Salto do Seró.
O Roteiro dos Cânions do Rio Curimataú, por sua vez, propicia não apenas conhecer a Pedra do Letreiro, que fica próximo ao curso d’água, mas também banhar-se nas piscinas naturais da área. Já o Roteiro da Caatinga parte da Pedra do Capitão, passando pela Pedra do Mium, pela Pedra do Campinado — mais um ponto adequado ao rapel, que oferece uma vista deslumbrante da localidade — e pela Mata Doura, uma região de 200 hectares preservados de Caatinga que recebe esse nome porque, ao pôr do sol, suas folhas adquirem uma coloração dourada. O passeio termina na Pedra Guardiã, na qual se pode ver um rosto esculpido pela natureza.
Identidade
A culinária inesense é um atrativo à parte para os visitantes, destacando-se pelo uso do umbu como ingrediente de diversas receitas. “A identidade gastronômica da cidade é voltada para o umbu, então o visitante poderá degustar pratos que trazem a fruta como protagonista”, informa Josenildo Fernandes.
Risoto de umbu com carne de sol, mousse de umbu e um molho da fruta, utilizado em hambúrgueres e petiscos de bares, são algumas das experiências culinárias de Dona Inês. De acordo com o secretário de Turismo e Cultura, a individualidade desses pratos foi resultado de um trabalho feito em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e o Instituto Federal da Paraíba (IFPB), elaborando uma nova identidade gastronômica para a cidade, com base em um produto anteriormente banalizado na região. “Hoje, ninguém mais desperdiça essa fruta aqui, ninguém mais joga fora, todo mundo guarda a polpa do umbu para vender”, complementa Josenildo.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 2 de novembro de 2025.
