por José Alves*
O dia 15 de junho marca o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. A data foi instituída em 2006 pela Organização das Nações Unidas (ONU). Mas na Paraíba e em João Pessoa a situação dos idosos ainda é preocupante. Uma média de 15 denúncias por dia são feitas na Delegacia Especializada no Atendimento ao Idoso na capital. A informação é da delegada Vera Lúcia.
Para Fabrício Oliveira, psicólogo e mestre em gerontologia, o dia 15 tem a finalidade de fazer com que os jovens reflitam sobre o processo de envelhecer e acabem com os estereótipos e preconceitos contra a pessoa idosa. “A velhofobia (medo de envelhecer) ainda é bem marcante nas mulheres e, principalmente, nas adolescentes que têm em seus conceitos uma velhice triste de doenças, incapacidades e limitações”, lamentou.
Por outro lado, explicou Oliveira, quando se fala em uma pessoa idosa do sexo masculino, nem se comenta idade, porém quando o sexo é feminino, torna-se um peso, soa de uma forma como sentença de inexistência ou exclusão de suas redes de amigos.
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial. Só no Brasil, existem quase 20 milhões de pessoas idosas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). As projeções apontam que em 2050, haverá duas vezes mais idosos do que crianças na sociedade brasileira.
Em comemoração à data (15 de junho), o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa- CMDI – deverá realizar uma programação pela manhã na Lagoa do Parque Solon de Lucena, no Centro de João Pessoa, com apresentações de grupos de idosos da capital, palestras e serviços comunitários, entre outros acontecimentos. A programação ainda está sendo organizada.
Abandono, agressão verbal e desprezo
Os principais tipos de violência contra a pessoa idosa em João Pessoa são os seguintes: negligência, exploração financeira, abandono, agressão verbal, agressão psicológica e desprezo. A delegada Vera Lúcia garantiu que todas as denúncias que chegam à sua pasta são investigadas. Só em 2021, ele disse que a Justiça protocolou 103 medidas protetivas, que culminaram na expulsão dos agressores de idosos de dentro de suas casas. Isso porque a maioria dos atos de violência acontecem mais dentro de casa pelos netos, filhos ou outros parentes.
Segundo especialistas, a casa tinha que ser o espaço onde a pessoa idosa deveria ter mais proteção, acolhimento e conforto. No entanto, pelos números de denúncias que chegam à delegacia de proteção ao idoso, muitas vezes o lar não é o lugar mais seguro. Em muitas das moradias, o que se encontra são pessoas sem amor, sem humanidade e sem a empatia da velhice em suas vidas.
Fabrício Oliveira revelou que, em alguns municípios da Paraíba, o que move a economia são as aposentadorias dos idosos. A negligência está no topo das denúncias, mas quando a situação envolve dinheiro, os netos, ou filhos desempregados acabam dando “um jeitinho” de ficar com as economias da pessoa idosa. E eles, por sua vez, acabam ficando sem dinheiro para comprar os próprios medicamentos ou a alimentação diferenciada devido aos problemas de doenças contínuas.
“O dinheiro do idoso acaba sendo saqueado pela própria família e, assim, a violência financeira entra no ranking das denúncias”, lamentou o psicólogo, complementando que os idosos, para se protegerem, têm a seu favor o Estatuto do Idoso, criado em outubro de 2003. E mesmo o estatuto sendo elogiado no mundo inteiro, a realidade ainda está distante de ser cumprida.
Segundo a delegada Vera Lúcia, “para garantir o envelhecimento da população de forma saudável e tranquila, com dignidade, e sem temor, precisamos trabalhar intensamente na prevenção da violência. Se uma criança tem o exemplo em casa de seus pais tratando bem os avós, eles tendem a fazer a mesma coisa no futuro. Afinal o homem é produto do meio”, refletiu a delegada.
Ainda segundo a delegada, “as violências contra a pessoa idosa podem ser visíveis ou invisíveis: as visíveis são as mortes ou lesões. Já as invisíveis são aquelas que ocorrem sem machucar o corpo, mas provocam sofrimento, depressão e medo. O abuso é praticado com atos como, agressões verbais, desprezo ou qualquer ação que traga sofrimento emocional”, concluiu.
Onde denunciar
O Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, acolhe denúncias que envolvem direitos de toda a população, especialmente os grupos sociais vulneráveis, como crianças e adolescentes, pessoas em situação de rua, idosos, pessoas com deficiência e população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). O serviço funciona diariamente das 8h às 22h, inclusive nos fins de semana e feriados.
Outro número que a população de João Pessoa pode ligar para denunciar este tipo de violência é o 3218-9816, do Conselho Municipal dos Direitos do Idoso. O serviço funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
Já a Delegacia Especializada no Atendimento ao Idoso funciona na Avenida Francisca Moura, 36, no Centro de João Pessoa. O telefone para denúncia é o 32186762.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 28 de maio de 2022