“Eu nunca vi uma cidade tão escura como João Pessoa”. É o que diz o aposentado Manoel Orlando, que se queixa da iluminação precária, principalmente no Centro da cidade.
Ele não é o único a reclamar. Quem precisa usar o Terminal de Integração do Varadouro, após o entardecer, tem enfrentado à escuridão que deixa o local, pouco movimentado durante a noite, ainda mais perigoso. Furtos e assaltos são constantes, e a falta de iluminação aumenta a sensação de insegurança. É o que relatam comerciantes e usuários de transporte público que frequentam o local.
O comerciante Luciano Cardoso relatou que não mantém seu estabelecimento aberto à noite, mas, quando fecha, por volta das 18h, o local está escuro. Ele contou que já aconteceram algumas situações de falha na iluminação do terminal. Em um dos eventos, no qual a iluminação do terminal falhou, as luzes de uma das vias que ilumina o ambiente não acenderam, deixando o local na penumbra. Segundo ele, mesmo quando não há falhas, a iluminação da área é insuficiente, causando uma sensação de insegurança nas pessoas que precisam esperar o transporte público. “Ali em cima fica bastante esquisito”, informou, referindo-se à via mais alta do terminal.
Outro comerciante, que preferiu não se identificar, contou que costuma fechar cedo justamente porque o local torna-se perigoso à noite. Ele narrou que, há poucos dias, foi assaltado enquanto encerrava o expediente: o criminoso aproveitou-se de um momento de distração, quando guardava a mercadoria, e levou uma caixa de refrigerantes.
O vendedor também informou que, recentemente, um homem armado com uma faca tentou assaltar pessoas que aguardavam o ônibus, mas acabou sendo contido pela Guarda Civil.
Para ele, a falta de iluminação só piora a situação. “Acho que faz um mês que está assim e eu não sei por que não consertam. Muita gente já pediu, ouvi dizer que precisa de um projeto, mas não sei”, comentou.
Manoel Orlando lembrou que o problema atinge vários locais da cidade. “Faz bem um ano que eu noto isso. A escuridão está horrível, no Pavilhão do Chá, no Centro da cidade, Praça da Independência, é tudo escuro. Eu já falei até com o prefeito, pessoalmente, para ele iluminar o Pavilhão do Chá, que ali é um lugar onde ninguém pode passar, à noite é esquisito, dá muito marginal naquela localidade. A Lagoa [do Parque Sólon de Lucena] antigamente era uma beleza, a gente corria, fazendo exercício físico, durante a noite. Hoje em dia é uma escuridão. Quando coloca a lâmpada são aquelas de luz amarela, aquilo não serve de nada”, opinou.
Em visita noturna, a reportagem de A União também constatou iluminação insuficiente na Praça Antenor Navarro e seus arredores, no Centro Histórico.
Trecho de 13 km na BR-230 é o mais criticado
- Segundo cidadãos que transitam cotidianamente, o percurso tornou-se inseguro para condutores, pedestres e ciclistas
O problema da luz insuficiente não se restringe apenas ao Centro de João Pessoa. Na BR-230, a iluminação também é precária, principalmente no trecho que vai do km 0 ao km 13, em Cabedelo, que, atualmente, passa por obras de triplicação. Grande parte dos postes da área não acende durante a noite.
A psicóloga Helena Jaguaribe, que mora na região, afirmou que a situação vem deixando a população insatisfeita. Ela informa que o trecho transformou-se em uma zona de perigo e insegurança para motoristas, pedestres e ciclistas. A falta de sinalização adequada e, sobretudo, a iluminação precária tornaram-se fatores críticos que têm causado acidentes frequentes e colocam vidas em risco diariamente.
Helena comentou que, além da falta de iluminação, a sinalização precária da obra também representa risco. Segundo ela, os trabalhos, que se arrastam há anos, parecem não seguir um plano de segurança viária. “A sinalização é praticamente inexistente, com poucos cones, placas confusas e ausência de desvios claros, o que confunde motoristas e causa manobras arriscadas. Quando o sol se põe, o problema se agrava. A escuridão total em muitos pontos da rodovia impede que os condutores enxerguem buracos e desníveis, elevando o risco de colisões e atropelamentos”, relatou.
A psicóloga destacou, ainda, que a situação é mais crítica para quem vive às margens da rodovia, como os moradores do Condomínio Alamoana, no km 10, que precisam fazer manobras em meio ao caos para acessar suas casas. Para ela, os acidentes poderiam ser evitados com medidas simples, como instalação de iluminação pública nos trechos em obras, uso de placas e sinalizações luminosas, que indiquem os desvios, e aumento da fiscalização para garantir a segurança dos trabalhadores e dos usuários da rodovia. “É inaceitável que a busca por infraestrutura leve ao sacrifício do bem-estar e da segurança de quem vive e utiliza a BR-230”, finalizou.
O técnico de Informática Lauro Rodrigues relata vários meses de escuridão na área de Camboinha. “Cada dia piora porque, além da escuridão, ainda tem os buracos da BR, que fazem com que a gente tenha que triplicar a atenção para não acontecer nenhum tipo de acidente. Inclusive, já aconteceu comigo de um pneu do carro estourar por conta de um buraco. Devido à escuridão, não conseguimos enxergar quase nada, realmente é horrível. Após as 18h, o tráfego se torna extremamente complicado, só passamos porque é realmente necessário”, concluiu.
Órgãos são procurados para dar esclarecimentos
A Prefeitura de João Pessoa iniciou, há cerca de um mês, o projeto de modernização da iluminação pública que visa substituir todas as lâmpadas da cidade por LED. O projeto teve início no bairro dos Expedicionários e a previsão, na época, era de que toda a iluminação seria substituída em 10 meses.
A reportagem de A União procurou a Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) de João Pessoa, por telefone e pessoalmente, para saber sobre o andamento do projeto e também questionar a falta de iluminação adequada nos locais da capital que foram citados na matéria.
Durante visita presencial, a reportagem não foi recebida pelo secretário-executivo da pasta. Por meio de sua secretária, ele informou que estava em reunião e que a resposta seria encaminhada, posteriormente, pela assessoria de comunicação. No entanto, quatro dias depois, quando esta edição foi concluída, o posicionamento ainda não havia sido enviado.
No caso da BR-230, o setor de iluminação pública da Seinfra de Cabedelo informou que, desde o início das obras do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), não pode mais intervir na área. Nas imediações da Mata da Amem, os postes centrais foram retirados e ainda não foram instaladas redes de iluminação nas laterais. O setor reconheceu que tem recebido críticas e chamados sobre a situação, mas reforçou que não tem como agir.
O Dnit, por sua vez, informou que os trechos que estão sofrendo intervenção, com alteração da geometria da via, terão seu sistema de iluminação pública adequados a esta melhoria, logo, no trecho em questão, houve a necessidade de remoção da iluminação existente para a execução dos serviços de terraplanagem e pavimentação, para posterior implantação do novo sistema, que é uma das últimas etapas construtivas da obra.
Sobre a segurança, a Polícia Militar informou que mantém uma base fixa no Terminal de Integração do Varadouro, com efetivo presente das 7h às 19h. Durante a noite, o patrulhamento é realizado por meio de rondas de viaturas no local.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 14 de setembro de 2025.