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Esquema de fraude no Trauminha

publicado: 08/08/2023 08h51, última modificação: 08/08/2023 08h51
Funcionários do hospital ofereciam serviços particulares por até R$ 5 mil, alegando falta de materiais na unidade
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Devido à denúncia da prática de atuação criminosa no hospital, a direção demitiu 20 servidores - Foto: Secom-JP

por Michelle Farias*

Um esquema criminoso para venda de cirurgias particulares a pacientes internados no Complexo Hospitalar Tarcísio de Miranda Burity, o Trauminha de Mangabeira, foi denunciado ontem pelo diretor da unidade hospitalar, Alexandre César da Cruz. Mais de 20 servidores já foram demitidos ou exonerados das funções acusados de integrarem o esquema, que cobrava entre R$ 4 mil e R$ 5 mil por procedimento cirúrgico.

O crime foi denunciado pela direção ao Ministério Público da Paraíba (MPPB) e à polícia para que investiguem o caso. A negociação de cirurgias veio à tona após o marido de uma paciente denunciar que teria pago para fazer uma cirurgia por falta de material necessário no hospital. O diretor afirmou que a direção percebeu que muitos pacientes estavam pedindo alta do Ortotrauma e realizando as cirurgias em outras unidades hospitalares. Ao investigar, foi descoberto o assédio feito a pacientes. 

"Peço a quem foi coagido por esse esquema que procure a direção, denuncie e fale o nome do médico porque a gente vai prender esse bandido"

“Existem na verdade certas pessoas no Ortotrauma de Mangabeira que por mais que a gente tente fazer um trabalho diferenciado, acolhedor e humano para a sociedade, há uma corja que eu já tento tirar do hospital há um ano e meio. Eu já demiti, pedi exoneração de alguns funcionários que tentam vender cirurgias e tentam passar o caos”, revelou o diretor.

Segundo Alexandre César, o esquema funciona da seguinte forma: ao perceberem que o paciente necessita de cirurgia possui uma condição financeira favorável é informado ao seu acompanhamento que o material cirúrgico está em falta e que o procedimento deve demorar entre 30 e 60 dias para ser realizado. Os criminosos então oferecem a possibilidade da cirurgia feita em um hospital particular por valores que chegariam a R$ 5 mil.

A direção disse que ainda busca identificar os médicos que podem ter participado do esquema. "O ser humano, em um momento de vulnerabilidade começa a ficar angustiado, preocupado e eles chegam com a ‘solução’: ‘Conheço um médico que faz a cirurgia fora daqui por R$ 4 mil’. Nós já tentamos várias vezes, mas ainda não conseguimos identificar o médico envolvido. Peço a quem foi coagido por esse esquema que procure a direção e denuncie, fale o nome do médico que a gente vai prender esse bandido porque o médico que faz isso é um bandido”, disse o diretor.

Ele garantiu que a unidade hospitalar tem capacidade para atender a demanda que recebe, tanto em relação à equipe médica, quanto em relação aos materiais necessários para procedimentos, garantindo a realização de cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O diretor afirmou que, a partir das denúncias, no período de um ano e meio foram exonerados maqueiros e recepcionistas por participação no esquema criminoso.

O diretor afirmou que outras exonerações podem ocorrer. “São bandidos que se aproveitam da angústia de um paciente, mentindo para gerar o caos”, concluiu.

O Conselho Regional de Medicina na Paraíba (CRM-PB) afirmou que até o momento não existem denúncias sobre a participação de médicos no esquema por assédio a pacientes internados no Trauminha. Em caso de envolvimento de médicos, a entidade alerta para que a denúncia seja feita também ao CRM-PB para apuração da parte ética.

“O Conselho Regional de Medicina acompanhou a fala do doutor Alexandre César, diretor do Trauminha, e reafirma: cobrar por um procedimento a um paciente que está internado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é crime. Qualquer pessoa, independente da profissão, que esteja fazendo isso, aliciando ou coagindo pacientes para fazer esse tipo de procedimento privado, quer seja em um hospital ou clínica, onde o hospital público deveria dar assistência, essas pessoas precisam ser denunciadas”, explicou o diretor de Fiscalização do CRM-PB, Bruno Leandro de Souza.

“Até agora não chegou nenhum nome de médico que tivesse participando de procedimento dessa natureza, mas se acontecer será aberto uma sindicância e um processo ético profissional para avaliação do caso”, concluiu.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 8 de agosto de 2023.