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ABASTECIMENTO

Estado mantém boa situação hídrica

publicado: 07/10/2024 09h11, última modificação: 07/10/2024 09h11
Atualmente, dos 134 reservatórios monitorados pela Aesa, 96 estão com níveis satisfatórios de água, inclusive no Sertão
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Responsável pelo abastecimento de Campina Grande, Boqueirão mantém 57,4% de sua capacidade, nível considerado positivo | Foto: Roberto Guedes - Foto: Roberto_Guedes

por Priscila Perez*

Com a chegada da primavera e o aumento gradual das temperaturas, a Paraíba entra oficialmente no período mais seco do ano, com a expectativa de chuvas esparsas e baixa umidade do ar. A situação é naturalmente mais delicada no Sertão, onde as condições climáticas são mais severas. Não é por acaso que, durante o último trimestre do ano, o abastecimento de água preocupa muita gente. Mas será que há motivo para alarme?

Apesar da estiagem que está por vir, Alexandre Magno, gerente-executivo de Monitoramento e Hidrometria da Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa), traz uma perspectiva positiva: dos 134 reservatórios monitorados no estado, 96 estão em situação de normalidade — apenas 19 se encontram em estado crítico. “Em 2024, as chuvas foram relativamente acima da média. Então, estamos em uma situação muito satisfatória. Mesmo que venha um período muito seco, o impacto não será tão intenso, exceto em alguns pontos isolados”, ressalta Alexandre.

A Companhia de Água e Esgoto da Paraíba (Cagepa) reforça esse otimismo, garantindo que os níveis dos principais açudes e mananciais seguem controlados, na maior parte da Paraíba. Mesmo no Sertão, a situação está sob controle, como indica o diretor de Operação e Manutenção da Cagepa, Thiago Pessoa. “Hoje, não temos um problema grave de abastecimento, apesar da seca, até porque estamos recebendo água do São Francisco. Então, conseguimos manter os níveis dos mananciais com certa segurança”, analisa. Segundo ele, a transposição do Rio São Francisco contribui, e muito, para o equilíbrio hídrico do estado, especialmente em períodos de estiagem prolongada.

Entre os principais reservatórios do estado, o açude Gramame/Mamuaba, que abastece João Pessoa, está com 90,8% de sua capacidade, garantindo segurança hídrica para a capital. A situação é satisfatória no Litoral, de acordo com Thiago. “Os reservatórios estão em níveis que garantem tranquilidade no abastecimento de João Pessoa, e, se necessário, temos alternativas para reforçar o fornecimento de água na região”, reforça.

Já o açude Epitácio Pessoa/Boqueirão, responsável pelo abastecimento de Campina Grande, mantém 57,4%, nível considerado positivo para enfrentar a estiagem. Em Patos, os açudes Jatobá 1 e Farinha estão com 41,6% e 31,6%, respectivamente, proporcionando uma margem de segurança significativa para a região. Acauã, o maior reservatório da Paraíba, por sua vez, está com 72,2% de sua capacidade, número igualmente satisfatório para garantir o abastecimento durante o período mais seco do ano.

 Áreas críticas

No entanto, nem todas as regiões do estado compartilham do mesmo cenário positivo. O Cariri e o Curimataú, por exemplo, enfrentam desafios mais preocupantes, em termos de abastecimento. Nessas áreas, o racionamento de água já é uma realidade, em alguns locais, com o fornecimento limitado a três vezes por semana.

Alexandre Magno explica que os reservatórios da região são de menor porte e, devido à sua capacidade limitada, tendem a não sustentar volumes adequados de água por longos períodos. “Além de ser uma região onde chove menos, os reservatórios pequenos não mantêm os níveis adequados de água, de um ano para o outro”, ressalta o gerente-executivo. Para compensar essas limitações, ele destaca que a rede de adutoras tem sido essencial para garantir o abastecimento na região. “O fato de um reservatório estar em baixa não significa que o município esteja sem água, já que as adutoras trazem água de outras regiões”, complementa.

Já Thiago Pessoa alerta para situações ainda mais críticas no estado. Os sistemas que atendem os municípios de Desterro e Cacimbas já estão em colapso — com reservatórios completamente zerados —, pela falta de recarga, ao longo do ano. O município de Teixeira também está em estado crítico e demanda atenção especial.

Seca, calor e baixa umidade até o fim do ano; em janeiro, vem a chuva

Apesar dos desafios impostos pela estiagem, as perspectivas para o início do próximo ano são mais otimistas. Thiago aponta que as chuvas previstas para janeiro devem trazer o alívio necessário aos reservatórios, ajudando a estabilizar o abastecimento nas regiões mais impactadas pela seca. Além disso, os possíveis efeitos do fenômeno climático La Niña sobre a Paraíba não podem ser ignorados. Marcado pelo esfriamento das águas do Oceano Pacífico, esse fenômeno tende a se manifestar nos últimos meses do ano — por ora, ele ainda apresenta intensidade fraca.

Marle Bandeira, meteorologista da Aesa, explica que, ao contrário do El Niño, o La Niña tende a aumentar as chuvas na região da Paraíba. No entanto, como ainda estamos em um período de chuvas esparsas, o impacto real desse fenômeno ainda não pode ser determinado com precisão. “Embora ele possa trazer mais chuvas, a sua intensidade e a combinação com as condições do Oceano Atlântico são fatores cruciais para determinar o impacto real nas precipitações da Paraíba”, explica. Ela também destaca que o La Niña pode trazer temperaturas mais amenas nas madrugadas do Alto Sertão, oferecendo um alívio importante para os moradores. Ou seja, há a expectativa de que as chuvas se intensifiquem no início de 2025, mas a Aesa continuará monitorando de perto como o La Niña pode influenciar o regime de chuvas e o abastecimento de água no estado.

Enquanto a chuva não vem, o cenário atual é marcado por altas temperaturas e umidade do ar abaixo dos 30%, especialmente no Sertão e no Alto Sertão. Para se ter uma ideia, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu, ontem, um alerta de baixa umidade para mais de 70 municípios do estado, abrangendo justamente essas regiões. Segundo Marle, avisos como esses são normais para esta época do ano — outros são esperados para os próximos meses, devido às condições climáticas do período. Embora o alerta amarelo não represente um risco elevado para a saúde, é fundamental que a população beba bastante líquido, evite esforços físicos nas horas mais quentes e não se exponha ao Sol.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 05 de outubro de 2024.