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Evento debate transição energética

publicado: 13/11/2025 08h41, última modificação: 13/11/2025 08h41
Na Assembleia Popular, foi defendido um modelo de desenvolvimento em diálogo com a justiça socioambiental
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Encontro reuniu lideranças do MST, MPF, Insa, indígenas e comunidades tradicionais | Foto: Roberto Guedes

por Íris Machado*

O futuro da transição energética e da justiça climática na Paraíba levou líderes de movimentos sociais, representantes de instituições públicas e membros da sociedade civil à Assembleia Popular em Defesa da Natureza, realizada ontem, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A iniciativa está alinhada à Cúpula dos Povos, que acontece em paralelo à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém (PA). A proposta da assembleia foi ouvir as bases populares e pressionar as autoridades por soluções para os problemas ambientais.

O procurador do Ministério Público Federal na Paraíba (MPF-PB), José Godoy, afirmou que o Brasil vive uma transição energética injusta, que tem causado adoecimento e expropriação de agricultores do Semiárido devido ao arrendamento de terras para empresas privadas. Segundo ele, moradores próximos a parques eólicos sofrem com perda auditiva, problemas circulatórios e depressão provocados pelo ruído e pela vibração das turbinas, além de os empregos gerados serem temporários, enfraquecendo a economia local.

“O nosso Semiárido é manchado por um sacrifício cruel. Não existe defesa ambiental sem considerar as pessoas que vivem nesse ambiente”, destacou.

Godoy apresentou ações do MPF para reduzir esses impactos, como a criação de uma minuta de contrato justo para evitar a estrangeirização de terras e garantir o direito à consulta prévia; a elaboração de um protocolo contra o assédio de empresas a comunidades; e a definição de uma distância mínima de 2 km entre geradores e espaços essenciais, como casas, escolas e unidades de saúde. A programação do encontro reuniu falas sobre agroecologia, energia popular, justiça ambiental, arte e resistência. A cacica da Associação Cultural de Indígenas em Contextos Urbanos da Paraíba (Acicup), Josélia Potiguara, advogou pelo papel da população em lutar contra as mudanças climáticas. “Se há agressão à natureza, uma hora ela vai dar uma resposta. E, quando ela grita, todo mundo escuta. Infelizmente, o ser humano só escuta quando está quase irreversível. Mas ainda é tempo, ainda dá para salvar a gente”.

Para a líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na Paraíba, Dilei Aparecida, são vidas humanas que estão em jogo. Ela vê três pontos centrais no processo de degradação socioambiental: os danos do agronegócio, o extrativismo da mineração e a expropriação das comunidades tradicionais a título do desenvolvimento econômico.

“Só tem uma forma que a gente pode mudar as coisas. É conscientizando o nosso povo e fazendo luta. Assumindo o planeta como nosso. Os bens da natureza não podem virar um monopólio de poucos. Eles têm que ser propriedade do povo. Para isso, o Estado tem que assumir o comando, mas não a serviço das grandes empresas. O povo tem que decidir para onde vai”, argumenta.

Além da Acicup e do MST, a Assembleia Popular em Defesa da Natureza recebeu apoio do projeto Mãos Solidárias, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado da Paraíba (Fetag-PB), Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) e Levante Popular da Juventude. A escuta reuniu ainda professores  pesquisadores de campos relacionados ao meio ambiente e integrantes de comunidades tradicionais da região.

Cúpula dos Povos

Começou ontem, às 17h, na Universidade Federal do Pará (UFPA), a Cúpula dos Povos. O evento, realizado em paralelo à COP30, reúne movimentos sociais, redes e organizações populares de todo o mundo, e se estenderá até o dia 16 de novembro.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 13 de novembro de 2025.