A segunda edição do Festival de Cultura Indígena da Paraíba será realizada hoje, das 9h às 19h, na aldeia potiguara São Francisco, no município da Baía da Traição, no Litoral Norte do estado, a pouco mais de 5 km do centro da cidade. O cenário será um espaço conhecido como Terreiro Sagrado, onde só os indígenas normalmente têm acesso. O evento, realizado pelo Governo da Paraíba, através das secretarias da Mulher e da Diversidade Humana e da Cultura, foi construído por indígenas de 32 aldeias potiguaras e três tabajaras dos municípios de Baía da Traição, Marcação, Rio Tinto e Conde, e deve reunir um público superior a duas mil pessoas.
“O objetivo é celebrar a cultura indígena que é rica porque dentro dela há também diversidade, mas, sobretudo, é um festival que busca conferir protagonismo. Esse festival foi construído por eles”, ressalta o secretário de Cultura, Pedro Santos. O festival é resultado de muito diálogo, visitas e reuniões. O Governo do Estado atua como agente de mediação e está coordenando a parte logística.
Público terá acesso ao Terreiro Sagrado, espaço não acessível a não indígenas, com várias atividades
O secretário comenta que o festival será extremamente participativo porque todas as aldeias potiguaras e tabajaras estão envolvidas e, este ano, será de forma diferente. Em 2022, aconteceu na cidade de Rio Tinto, no território da Aldeia Jaraguá, mas dentro da cidade. Desta vez, será realizado dentro da aldeia potiguara São Francisco, no Terreiro Sagrado, que é um espaço ancestral.
“Esse é o grande atrativo do evento porque é uma oportunidade de pessoas não indígenas entrarem no universo indígena, em um território sagrado e, durante todo o dia, vivenciarem várias experiências. Teremos uma oferta muito grande de atividades e é um momento de troca e celebração. Quem for ao evento vai ter o privilégio de pisar num território que geralmente os não indígenas não pisam. Então, realmente é um momento muito simbólico”, ressalta.
Aberto ao público, o festival conta com o apoio das prefeituras da Baía da Traição, Rio Tinto e Marcação, que são cidades onde existem aldeamentos. Esses municípios estão disponibilizando ônibus para que as pessoas possam participar. Serão quase 10 horas de atividades ao longo de todo o dia, incluindo, pintura corporal indígena, gastronomia indígena, o toré de várias aldeias, coco de roda, música e o comércio de artesanato.
O Governo do Estado, a Secretaria de Cultura, a Secretaria de Mulher e da Diversidade Humana estão atentos e legitimam essa população, mostrando o valor que ela tem. O secretário declara que, na medida em que o estado traz esse compromisso de realizar um evento desse porte, traz também o compromisso de que os indígenas estão na agenda política da Paraíba e o festival reflete exatamente isso.
Este ano, inclusive, tem uma questão peculiar. Em Rio Tinto, está acontecendo o Encontro Nacional de Estudantes Indígenas e, por isso, o Festival de Cultura Indígena deve receber muitas pessoas de fora da Paraíba porque esses jovens também devem se deslocar para lá.
"Este festival foi concebido por meio de uma colaboração entre a Secretaria da Mulher e da Diversidade Humana e a Secretaria da Cultura. O seu propósito é promover e celebrar a rica herança cultural dos povos originários que desempenharam um papel fundamental na formação da Paraíba. Nossa região é conhecida por sua cultura diversificada, crenças multifacetadas e conhecimentos ancestrais. É fundamental que nos conectemos com essas raízes, bebendo dessa fonte de sabedoria para enriquecer ainda mais o nosso Estado", declara a secretária da Mulher e da Diversidade Humana, Lídia Moura.
A expectativa da secretária é que as práticas culturais indígenas sejam conhecidas e reconhecidas por mais pessoas, e que os artistas, artesãos e artesãs indígenas possam divulgar seus trabalhos, tendo valorização. A secretária espera ainda que a segunda edição conte com uma participação ainda maior de indígenas em relação à primeira. “Que seja um evento rico em diversidade artística”, destacou.
Dia 19 de outubro é dedicado à celebração do povo potiguara
Os povos indígenas potiguara e tabajara comemoram esse momento de mostrar um pouco de sua cultura. “Eu queria agradecer ao governador João Azevêdo pela sensibilidade que ele tem pela nossa causa e por estar promovendo, em seu mandato, o 2o Festival de Cultura Indígena com o nosso povo e trazendo também os tabajaras. É muito importante. Eu queria chamar toda a população paraibana para participar desse evento”, declara o capitão potiguara José Ciríaco.
Ele lembra que 19 de outubro é o Dia do Povo Potiguara e ressalta que é o único povo, entre mais de 300 espalhados pelo país a ter um dia feriado. Por conta disso, não haverá aula nas escolas dos municípios de Marcação, Baía da Traição e Rio Tinto e os estudantes vão poder participar. O evento será uma aula de campo. “Esse dia lembra a data da primeira demarcação das terras indígenas potiguaras de São Miguel, que abrangem os três municípios. Temos o 19 de abril, o 9 de agosto, que é o Dia Internacional dos Povos Indígenas e o 19 de outubro como Dia Oficial do Povo Potiguara”, destaca.
A liderança, Jacy Tabajara, também comemora a realização do festival. Ela afirma que é uma celebração muito importante para expressar e afirmar a diversidade cultural na Paraíba, principalmente, porque é um encontro das nações, envolvendo os povos tabajaras e potiguaras, grupos paraibanos conhecidos pela contribuição histórica e também pela resistência na diversidade cultural do estado. “Entendemos que é um momento muito importante em que estamos afirmando a nossa identidade e nossa diversidade cultural. Apesar de cada povo estar num ponto do Litoral, um no Norte e outro no Sul, nós partilhamos o mesmo tronco linguístico, as mesmas experiências de resistência, de luta e também vamos partilhar no festival”, afirma.
A secretária Lídia Moura destaca que o festival será um momento de celebrar essa data – o dia 19 de outubro – como também de dar visibilidade às expressões artísticas do povo indígena da Paraíba, mostrando que as manifestações indígenas não se resumem ao Toré e que há uma diversidade em meio aos povos originários.
Orientações
Quem quiser participar do 2o Festival de Cultura Indígena da Paraíba deve seguir algumas recomendações como levar boné e protetor solar. Caso queira se alimentar e comprar artesanato indígena, a orientação é levar dinheiro em espécie porque não há sinal de telefone, o que impossibilita transações em pix ou cartão. O secretário Pedro Santos afirmou que haverá distribuição de água mineral no local. O evento conta com duas estruturas grandes, uma delas é o pavilhão e, ao lado, uma grande oca que é onde, geralmente, acontecem os rituais, a pajelança, o toré. Também haverá um palco. No pavilhão, acontece uma série de manifestações culturais.
A primeira edição
A primeira edição do Festival de Cultura Indígena ocorreu em agosto de 2022, no município de Rio Tinto, localizado no Litoral Norte da Paraíba, com a participação de 32 aldeias potiguaras, e a programação contou com apresentações de dança, teatro, cantoria, lapinha, burrinha, Toré, ciranda, roda de coco, exposição gastronômica e artesanal. O evento foi realizado no pátio do antigo Casarão dos Lundgren, residência desta família, que inaugurou uma grande fábrica de tecidos, entre outros negócios, em Rio Tinto, no início do século 20, estando situada em território potiguara.
O Casarão e a antiga fábrica são tombados pelo Patrimônio Histórico da Paraíba e as construções retomadas pelo povo potiguara. A festa teve apoio de prefeituras de outros municípios da região como Marcação, Baía de Traição e Conde.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 19 de outubro de 2023.