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setembro amarelo

Fórum em Campina Grande debate adoecimento no ambiente de trabalho

publicado: 19/09/2023 09h34, última modificação: 19/09/2023 09h34
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O psicólogo Rossandro Klinjey participou do evento e falou da necessidade descansar o corpo e a mente - Foto: Fabiana Veloso

por Giovannia Brito*

Nos primeiros sete meses do ano foram registrados 231 denúncias de assédio moral, sendo 13 com violência ou assédio sexual, segundo dados do Observatório da Segurança e Saúde no Trabalho, ferramenta do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Desse total, duas ações civis já foram ajuizadas. No mesmo período do ano passado foram 143 denúncias, sendo cinco com o uso de prática violenta ou assédio sexual. A problemática de pessoas adoecendo no ambiente de trabalho foi discutida ontem, no 1º Fórum de Saúde Mental e Trabalho, realizado em Campina Grande.

O Fórum integra as ações da Campanha “Setembro Amarelo – Ouvir é Acolher”, voltada à Saúde Mental. Com a mensagem “Quem cuida da mente, cuida da vida”, a campanha está voltada à prevenção e o combate aos vários tipos de assédio sofridos no trabalho.

“Tivemos um aumento significativo nos primeiros sete meses de 2023 no número de denúncias, e atribuímos isso a uma cultura arraigada na Paraíba, que é o terceiro Estado com maior número de denúncias, de que a prática do assédio é normal, comum. Precisamos desconstruir essa conduta. Muitas vezes conversamos com o assediador inquerido e ele nega, afirmando ter dado apenas uma ordem, que apenas chamou a atenção do seu funcionário por não ter feito uma tarefa, mas existe um limite para isso, não da forma como é praticada, com abusos”, afirmou a procuradora-geral do MPT, Andressa Ribeiro Coutinho.

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"Atribuo esse aumento das denúncias também ao fato de que o trabalhador tem tido um conhecimento maior dos seus direitos" Andressa Ribeiro Coutinho - Foto: Fabiana Veloso

Conforme explicou, o MPT tem a atribuição de investigar, se for o caso punir, as pessoas que cometem assédio moral que tanto adoecem os trabalhadores. “Atribuo esse aumento das denúncias também ao fato de que o trabalhador tem tido um conhecimento maior dos seus direitos. Ainda existe subnotificações, as vezes não denunciam por medo, mas temos pessoas mais conscientes dos seus direitos”, explicou.

O assédio é caracterizado por uma habitual e repetida conduta em que uma pessoa é humilhada, segregada, tem a dignidade ferida. “Em alguns casos isso ocorre para fazer com que o trabalhador peça demissão, por vingança, ou o assediador se sente incompetente diante da outra pessoa. Isso também acontece para alimentar o ego de quem a pratica”, afirmou. O assédio é punível com detenção de um a dois anos de prisão, com agravante se for contra um menor de 18 anos.

Alta carga de tarefas gera doença mental e tecnologia pode ser vilã

Um dos convidados do evento foi o psicólogo Rossandro Klinjey. Ele lembrou que a alta carga de trabalho tem sido também uma causa para o acometimento de doenças mentais, e que as pessoas precisam ter a noção do tempo que precisam dedicar as tarefas profissionais, e ao descanso do corpo e da mente. Rossandro destacou que as tecnologias surgidas para facilitar, podem se transformar em vilãs. “O WhatsApp por exemplo, temos que tratá-lo como se fosse o novo email. Só devemos abrir quando pudermos responder, porque cria uma ansiedade, vivemos constantemente como se estivéssemos trabalhando”, afirmou.

Para o psicólogo, as pessoas podem detectar alguns sinais de que está enfrentando problemas no ambiente de trabalho e que poderá acarretar problemas de saúde mental. “Infelicidade ao ir para o trabalho, queixas constantes relacionadas ao ambiente, toxidade no local, perda de memória, desânimo, tudo isso pode fazer o corpo adoecer. É como se ele afirmasse, você não quer sair desse lugar, mas eu estou querendo correr. O corpo é uma caixa ressonância das emoções, quando chega às queixas físicas, a mente está cobrando para você tomar uma atitude sobre aquilo há muito tempo”, explicou.

Sobre a campanha
A campanha “Ouvir é Acolher” conta com ações e eventos que estão sendo realizados em parceria com os Cerests de Campina Grande, Patos e João Pessoa e, ainda, o apoio de entidades parceiras. Conforme a gestora do Cerest, além do Fórum, as ações do Setembro Amarelo continuarão até a sexta-feira desta semana em empresas e hospitais locais.

Cartilha orienta sobre os riscos e prevenção

Durante o Fórum foi lançada a cartilha “Saúde Mental e Trabalho: Riscos e Prevenção”, editada pelo Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador (Cerest) de Campina Grande, com apoio do MPT.

A coordenadora do órgão, Anna Karla Souto Maior, afirmou que o Cerest tem recebido trabalhadores encaminhados por profissionais de saúde da rede municipal, mas em muitos casos, as pessoas chegam ao local sozinhas, assustadas, com pedidos de socorro, implorando ajuda por situações vivenciadas no ambiente de trabalho, com esgotamento mental. “A maior procura é de vítimas de assédio moral relacionado ao trabalho, que muitas vezes leva o indivíduo a um quadro de depressão, sensação de angustia, e em alguns casos com pensamento suicida”.

O orgão presta atendimento com equipe multidisciplinar, com enfermeiros, assistentes sociais, médicos e psicólogos, que realiza o diagnóstico do trabalhador. O Cerest funciona na avenida Dinamérica, das 7h às 13h, de segunda a sexta-feira.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 19 de setembro de 2023.