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Desvio de recursos

Gaeco investiga diretores do Padre Zé

publicado: 06/10/2023 08h49, última modificação: 06/10/2023 08h50
Força-tarefa apura se padre Egídio, Jannyne Dantas e Amanda Duarte praticaram enriquecimento ilícito e outros crimes
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Um dos endereços alvos da operação é um condomínio de luxo no Cabo Branco - Foto: Street View

por Cardoso Filho*

Os ex-diretores do Hospital Padre Zé, padre Egídio de Carvalho Neto, Jannyne Dantas (ex-diretora administrativa) e Amanda Duarte (ex-tesoureira) foram alvos de uma operação realizada ontem, pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público da Paraíba (MPPB), em parceria com a Polícia Civil.

Na Operação Indignus, que apura supostas irregularidades na gestão dos recursos da instituição de saúde e da Ação Social Arquidiocesana (ASA), a força-tarefa cumpriu 11 mandados de busca e apreensão, sendo oito deles em João Pessoa, um na cidade de Conde, na Região Metropolitana da capital, e dois no estado de São Paulo. Caixas com garrafas de vinho avaliadas em R$ 1,6 mil e um fogão avaliado em R$ 80 mil também foram apreendidos em uma granja pertencente a padre Egídio, que foi afastado oficialmente de suas atribuições religiosas pela Arquidiocese da Paraíba no último dia 27.

No levantamento realizado pelo Gaeco, foram contabilizados oito apartamentos localizados nos bairros do Cabo Branco, Bancários, Jardim Cidade Universitária e Bessa. Além disso, uma granja no Conde também está sob o bojo da operação.

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Um fogão avaliado em R$ 80 mil foi apreendido na granja do religioso, em Conde - Foto: Reprodução de redes sociais

A investigação, segundo o Gaeco, aponta para uma absoluta e completa confusão patrimonial entre os bens e valores de propriedade das referidas pessoas jurídicas com um dos investigados, com uma considerável relação de imóveis atribuídos, aparentemente sem forma lícita de custeio, quase todos de elevado padrão, adornados e reformados com produtos de excelentes marcas de valores agregados altos. As condutas indicam a prática, em princípio, dos delitos de organização criminosa, lavagem de capitais, peculato e falsificação de documentos públicos e privados.

O escândalo foi descoberto após denúncia do desaparecimento de celulares doados ao Hospital Padre Zé pela Receita Federal do Brasil. A denúncia foi registrada pelo próprio Egídio de Carvalho Neto, até então diretor da unidade hospitalar. Os equipamentos seriam leiloados para que os recursos fossem revertidos para a manutenção da instituição de saúde. Um funcionário do hospital chegou a ser preso, mas teve a detenção convertida no cumprimento de medidas cautelares. Ele tentou fazer acordo de delação premiada, mas a proposta não foi aceita pelo Ministério Público.

A apuração apresentou indícios de suposto enriquecimento ilícito do padre Egídio, que seria o proprietário de imóveis de luxo em João Pessoa, São Paulo e outros estados. O fato chamou a atenção das autoridades pelo alto valor dos imóveis. O religioso foi afastado do comando do hospital, da ASA e da paróquia onde atuava por decisão da Arquidiocese da Paraíba, assinada pelo arcebispo Dom Manoel Delson, que tem colaborado com as investigações.

A força-tarefa é comandada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPPB, em parceria com a Polícia Civil, com as secretarias da Fazenda, Segurança e da Defesa Social, e Controladoria-Geral, todas do estado da Paraíba.

A persecução penal objetiva apurar os fatos que indicam possíveis condutas criminosas ocorridas no âmbito do Instituto São José, do Hospital Padre Zé e da Ação Social Arquidiocesana/ASA, em João Pessoa, em que as informações descrevem possíveis desvios de recursos públicos destinados a fins específicos, por meio da falsificação de documentos e pagamento de propinas a funcionários vinculados às referidas entidades.

O advogado Sheyner Asfora, responsável pela defesa de padre Egídio, informou que o investigado está em Recife (PE), mas segue à disposição do Ministério Público da Paraíba para prestar eventuais esclarecimentos. Além disso, a reportagem de A União tentou, sem êxito, contato com a ex-diretora administrativa do Hospital Padre Zé, Jannyne Dantas. As tentativas de contato aconteceram via telefone e através do aplicativo de conversação WhatsApp. Já Amanda Duarte não foi localizada e o hospital não está autorizado a divulgar o contato dos envolvidos.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 05 de outubro de 2023.