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SETEMBRO AMARELO

Governo ressalta diversidade étnica

publicado: 10/09/2024 09h54, última modificação: 10/09/2024 09h55
Saúde mental de povos originários e políticas públicas antirracistas são discutidas na abertura da campanha
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Programação do evento voltado à conscientização e à prevenção do suicídio vai durar todo o mês | Fotos: Roberto Guedes - Foto:

por Samantha Pimentel*

A Paraíba é o estado brasileiro com o maior número de Centros de Atenção Psicossocial (Caps) por 100 mil habitantes, sendo 123 unidades, no total. O cuidado com a saúde mental do paraibano se interioriza e se fortalece em campanhas como a que se realiza durante este mês, dentro do Setembro Amarelo. Com o tema “Setembro de Todas as Cores: Estratégias de (re)Existências e Vidas”, a Secretaria de Estado da Saúde (SES-PB), por meio da Gerência Operacional de Atenção Psicossocial, abriu, ontem pela manhã, a programação do evento, que é voltado à conscientização e à prevenção do suicídio. A solenidade aconteceu no auditório da Escola de Saúde Pública da Paraíba (ESP-PB), no Bairro da Torre, em João Pessoa, com a participação de trabalhadores da Rede de Atenção Psicossocial de várias regiões do estado — em especial, dos Caps.

A primeira palestra, intitulada “Saúde mental da população indígena e políticas publicas antirracistas”, mostrou que o tema escolhido para a campanha deste ano evidencia a necessidade de olhar para a diversidade humana e para os vários fatores que levam ao sofrimento e ao adoecimento mental, como explicou a gerente operacional de Atenção Psicossocial da SES-PB, Iaciara Mendes. “O mês de prevenção ao suicídio vai muito além da consulta com um especialista e da aquisição de um medicamento. O acesso a políticas públicas é extremamente necessário, pois as questões implicadas nesse adoecimento são diversas, como a fome, a miséria, a falta de emprego e a falta de moradia digna, entre outras”, destacou.

"O mês de prevenção ao suicídio vai muito além da consulta com um especialista e do acesso a um medicamento"
- Iaciara Mendes

A segunda palestra foi proferida pela psicóloga Larissa Rodrigues, especialista em urgência e emergência em saúde mental — atualmente, ela atua no Distrito Sanitário Especial Indígena Potiguara. “Saúde mental da população indígena” foi o título da sua palestra. “Hoje, o índice de suicídio entre indígenas é três vezes maior do que na população em geral, não só porque a população é menor, mas porque passa por situações de invasão e, principalmente, de aculturação, que os levam a cometer o ato”, disse. Larissa sugeriu algumas ações aos trabalhadores da saúde, no momento de atendimento aos indígenas. “Por exemplo, fazer elogios às crianças indígenas e aos seus adereços, quando chegarem aos serviços. Pode parecer algo simples, mas tem um poder enorme no fortalecimento da identidade indígena”, pontuou.

Uma das debatedoras do evento, a chefe do Núcleo de Promoção e Educação em Saúde da SES-PB, Adélia Gomes, destacou que é preciso um olhar voltado para a construção e o fortalecimento de políticas públicas antirracistas. “Reconhecemos o racismo como um problema de saúde pública. Dessa forma, precisamos criar estratégias e ferramentas para enfrentá-lo. No campo da saúde mental, ele atinge a autoestima da vítima e interfere no acesso a bens, a educação, a moradia, a trabalho… Tudo por causa da vulnerabilidade social — e essa vulnerabilidade se origina no racismo”, ressaltou.

Duração

Para a gerente-executiva de Atenção à Saúde da SES, Izabel Sarmento, as ações e os debates voltados à saúde mental e à prevenção ao suicídio devem ser realizados durante todo o ano. “É uma luta de todos nós. Cada um que está aqui tem um propósito, dentro da ação que executa, seja no município, seja em algum serviço estadual. É um desafio que a gente tem de enfrentar durante todo o ano, não só na campanha Setembro Amarelo. Este mês serve para se debruçar na causa, mas sabemos da importância de dar continuidade a ações direcionadas à saúde mental das pessoas continuamente”, disse.

A programação da campanha deve prosseguir durante todo o mês, no qual serão realizadas atividades nos municípios, de acordo com o planejamento de cada equipamento ligado à Rede de Atenção Psicossocial local, como também ações voltadas aos trabalhadores da SES, como práticas integrativas e escuta qualificada. Serão realizadas, ainda, palestras em escolas, focando no cuidado com a saúde mental dos adolescentes e jovens.

Acesso

Para quem precisa buscar atendimento, o Caps é um serviço de porta aberta, disponível para a população. Basta ir ao serviço, portando os seus documentos, e passar por uma triagem. Se houver necessidade de acompanhamento, o Caps criará um projeto terapêutico singular e iniciará o processo. Em outros casos, quando a necessidade é apenas ambulatorial, a equipe fará o encaminhamento para o ambulatório do município. “O trabalho realizado nesses centros, cujas equipes multiprofissionais conseguem acessar esse usuário na sua integralidade, é muito importante para prevenir o risco ao suicídio”, destacou Iaciara.

No Edson Ramalho: atenção ao estado emocional dos pacientes

No Hospital do Servidor General Edson Ramalho (HSGER), as equipes multiprofissionais de saúde estão atentas ao estado emocional dos pacientes, sobretudo quando já há histórico de transtornos mentais que podem levar à ideação suicida ou à tentativa de suicídio.

"O racismo é um problema de saúde pública; então, precisamos criar estratégias e ferramentas para enfrentá-lo"
- Adélia Gomes

Conforme a coordenadora da Psicologia do HSGER, Rosemary Garcia, os profissionais do setor fazem visitas para identificar pacientes com sofrimento psíquico, mas as equipes multiprofissionais contribuem com esse trabalho, sinalizando se há um paciente ansioso ou deprimido. A assistência contempla uma tríade, que inclui pacientes, acompanhantes e equipe de saúde. No caso dos acompanhantes, os assistentes sociais também dão um suporte aos familiares.

Segundo a psicóloga Kércia Paulino, os pacientes com transtornos mentais deixam a equipe alerta por representar um grupo de risco. São os casos de pacientes com transtorno bipolar, esquizofrenia ou depressão grave, que chegam ao hospital por motivos clínicos.

Há um cuidado também com o paciente que tem acompanhamento psiquiátrico e toma medicação, para que haja manutenção do tratamento. “Às vezes, os familiares esquecem de falar sobre o uso de medicamentos, mas se o humor do paciente é alterado, a equipe percebe”, assinalou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 10 de setembro de 2024.