Pelas calçadas largas, a caminho do trabalho, da igreja ou mesmo de casa, uma multidão circula em busca de itens diversos, vendidos no comércio local. São pessoas que disputam espaço com os vendedores ambulantes, cujos pontos já se tornaram tradicionais, naquele espaço, e com inúmeros anunciantes de ofertas, que ficam em frente às lojas, tentando atrair possíveis clientes.
Esse é o cenário da Rua Duque de Caxias, uma das mais antigas de João Pessoa. Localizada no Centro Histórico da cidade, a velha rua guarda parte da história da Paraíba, em memórias que convivem com o agitado dia a dia dos tempos atuais. Nela, é possível encontrar quase tudo: agências bancárias, brechós, restaurantes, consultórios, cafés, lojas — de roupas, de calçados, de utensílios domésticos, de decoração e de material de informática, entre outras — e até moradias. É nela, também, que se situa o famoso Shopping Centro Terceirão.
A Duque de Caxias marcou o início da antiga cidade de Nossa Senhora das Neves (hoje, João Pessoa) e foi palco de várias transformações, além de precursora de equipamentos modernos, como a instalação do calçamento com pedras vindas do Rio de Janeiro, dos postes de luz elétrica e do bonde elétrico. Pioneira em relação a outras áreas da cidade, suas edificações antigas, igrejas históricas e praças ajudam a recontar parte dessa história — que, hoje, mescla-se ao frenesi do comércio local.
Quem tem ponto comercial nessa rua conta que muitas pessoas que trabalham na região aproveitam para fazer as suas compras ali, principalmente no horário da tarde, quando o movimento se intensifica. “Aqui, é aquela muvuca, de segunda--feira a sábado. Isso aqui não para. Mas, antes, a feira era ainda maior, tinha mais de 20 carroças”, lembra a vendedora de frutas Silene da Silva Barbosa, que trabalha como ambulante no local, há seis anos.
Ela conta ainda que, por ser muito agitada, a Rua Duque de Caxias promove a integração entre as pessoas. “Eu não deixo isso aqui por nada. Aqui, eu sou a patroa, eu mando. E a gente faz amizade, conhece muita gente, vem muito turista. Gosto demais daqui. Nunca saí do país, mas minhas fotos já foram para os Estados Unidos, para a França... Conheci muitos turistas, gente de todo canto”, destaca.
Outro comerciante, Janilson Medeiros, responsável pela JM Lanches, está há 18 anos nessa rua, sempre vendendo salgados e caldo de cana. Ele conta que tem uma clientela fiel, que compra lá quase todos os dias, e que também fez muitas amizades. “Nesse tempo todo, sempre trabalhei aqui. Graças a Deus, eu vendo bem, já sou muito conhecido”, afirmou.
Moradores
Além dos comerciantes e transeuntes, o espaço também costuma ser um local de socialização entre as pessoas, que aproveitam os bancos da praça e a sombra das árvores para trocar conversas ou, simplesmente, passar o tempo, como se diz, popularmente. Mas há também quem escolha a Duque de Caxias como o seu endereço de moradia, a exemplo do jornalista Carlos Alberto Vieira Cavalcanti, que vive na região há 20 anos.
Segundo ele, o Centro Histórico de João Pessoa está carente de mais investimento e cuidados, pois o comércio local vem se reduzindo, com muitos prédios fechados ou abandonados. Mesmo assim, ele gosta de morar no local. “Tem uma vantagem muito grande: à noite, o silêncio é total. Aqui, moram poucas pessoas, é muito calmo. Em relação ao dia, eu já me acostumei com o barulho dos carros e com o vai e vem das pessoas. É um verdadeiro televisor, por onde passam todos os tipos de pessoas diferentes”, conta.
Outro residente, o corretor de imóveis e seguros Jorge Augusto Sereno, mora no local há cerca de 16 anos. Ele também gosta da região. “Só acho ruim no fim de semana, porque é tudo muito parado. Aqui ao lado tem um café, então a rua fica mais movimentada durante a noite. Além disso, tudo é muito fácil; as lojas, os bancos, tudo está aqui pertinho”, destaca.
A aposentada Maria do Livramento da Silva Ferreira se mudou para a Duque de Caxias há dois meses, em busca de um ambiente mais acessível para as suas atividades e as do seu marido. “A gente morava no Jardim Planalto, mas eu preciso fazer pilates e outras atividades, e aqui tem o Sesc, bem pertinho, aí a gente veio para cá. Estou gostando de morar aqui, é perto de tudo. Vou ao médico, à aula, a uma loja — tudo rapidinho”, elenca. Ela também aproveita as programações culturais da região, como o Sabadinho Bom, e costuma frequentar as igrejas, como a da Misericórdia, e outras que ficam naquele perímetro urbano. “A cada domingo, eu vou a uma diferente”, diz.
Com o Programa Viva o Centro, a Rua Duque de Caxias deve passar por restauração e revitalização, o que promete deixá-la ainda melhor. Para Maria do Livramento, que, junto com o seu marido, tem planos de comprar uma residência lá, esse programa não poderia ter vindo em melhor hora. “Não pretendo sair daqui nem tão cedo”, afirma.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 16 de outubro de 2024.