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PICADAS DE ESCORPIÃO

HU tem mais de 200 casos por mês

publicado: 13/09/2024 08h57, última modificação: 13/09/2024 08h57
Desmatamento e acúmulo de lixo são os principais responsáveis pela proliferação do aracnídeo nas cidades
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Nenhum dos dois tipos mais comuns encontrados no estado oferece risco potencial para os humanos | Fotos: Carlos Rodrigo

por Marcella Alencar*

O número de picadas de escorpião sextuplicou na Paraíba, ao longo das duas últimas décadas. É o que atesta Hemerson Iury Ferreira, coordenador do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). “Por volta de 2007, a gente registrava uma média de 400 casos por ano; hoje, esse número passou para quase três mil casos anuais”, diz ele, ressaltando que esses dados se referem somente ao Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW).

Ele explica que esta variação ocorre devido a múltiplos fatores, como o aumento populacional da cidade e a sua crescente urbanização, o que incorre na diminuição do hábitat natural desses animais. “Além, claro, do descarte inadequado de lixo”, ressalta. De acordo com um relatório da unidade de vigilância do HU, foram registrados, entre janeiro e agosto deste ano, 2.009 casos de picadas de escorpião. No entanto, desse total, apenas 30 pessoas precisaram do soro antiescorpiônico.

"Por volta de 2007, a média era de 400 casos por ano; hoje, esse número passou para quase três mil casos anuais"
- Hemerson Ferreira

Apesar de, popularmente, as pessoas atribuírem à chuva e ao tempo quente o aumento do número de escorpiões, Hemerson, que também é professor do Departamento de Farmácia da UFPB, diz que, na realidade, o número de acidentes com esses bichos pouco varia, ao longo do ano. “Não há muita variação no número de casos assistidos no HU. A média fica entre 200 e 230, por mês. Ou seja, a alteração não é significativa”, explica. Ainda de acordo com ele, a adaptabilidade dos escorpiões é muito alta, então, a variação de temperatura não interfere na sua proliferação.

Para ele, o aumento dos acidentes escorpiônicos — e com outros animais peçonhentos, em geral — se deve às mudanças ambientais provocadas pela urbanização. Com a diminuição das áreas verdes, que são o seu hábitat natural, aumenta a possibilidade de migração desses bichos para as casas dos paraibanos. “O acúmulo de entulhos, materiais de construção e lixo garante espaço a sobrevivência dos escorpiões, que têm, ali, abrigo e alimento, ao longo de todo o ano”, alerta.

Tipos

Na Paraíba, conforme Hemerson, já foram registradas quatro variações de escorpiões do gênero Tityus: o neglectus, o martinpaechi, o pusillus e o brazilae. Mas os dois tipos predominantes (tanto no estado quanto no restante do Nordeste) são o Tityus stigmurus e o Bothriurus rochai. Conhecidos apenas como escorpiões amarelos, nenhum deles oferece risco potencial para os humanos.

Outros tipos de escorpiões não são comuns no estado. No entanto, o professor alerta que é possível ocorrer o aparecimento, devido à movimentação de carga entre os estados, por exemplo. Por isso, sempre que houver casos de picadas, é necessário buscar auxílio de profissionais para o tratamento adequado

O que fazer

A aplicação do soro antiescorpiônico é indicada para apenas 10% dos casos de picadas de escorpião. Os outros 90% são tratados com analgesia. “A não ser que a pessoa tenha uma sintomatologia sistêmica e um grau aumentado na análise da escala de dor; então, o soro se faz necessário”, diz. De acordo com ele, os sintomas envolvem náuseas, vômito e dor abdominal.

"Minha mãe colocou gelo, mas quando chegamos ao hospital, o médico disse que não tinha nada a ver"
- José Caio Alves

Embora as picadas de escorpião causem dor e parestesia (dormência no local da picada), o professor diz que a pessoa deve ficar tranquila, pois dificilmente haverá evolução do quadro. Ela deve aplicar uma compressa morna no local da picada e procurar um hospital, para o tratamento adequado. Lá, os profissionais de saúde entrarão em contato com o Ciatox, responsável pelo suporte em casos de intoxicações — inclusive aquelas causadas por animais peçonhentos.

Casos simples, portanto, são os mais comuns. Foi o que aconteceu com José Caio Alves, auxiliar de documentos da divisão médica do HULW. Ainda criança, ele foi pinçado por um escorpião — não chegou a ser a picado. “Tenho uma lembrança muito forte da minha mãe colocando gelo no local afetado. Mas, quando chegamos ao hospital, o médico explicou que o gelo não tinha nada a ver, então recebi o tratamento para a dor”, conta.

Aonde ir

Na Paraíba, além do HULW, há outros hospitais de referência para casos de picadas de animais peçonhentos. Em Campina Grande, o atendimento ocorre no Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, onde também se localiza o Ciatox da cidade. Em Patos, é realizado no Complexo Hospitalar Regional Deputado Janduhy Carneiro (CHRDJC).

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 13 de setembro de 2024.