“Tive um dia tão complicado no trabalho, que precisei me reenergizar aqui no parque. Agora, depois de quase uma hora olhando para este cenário, já consigo enxergar meus problemas com um olhar mais calmo. Sabe que eles se tornaram menores, para mim, depois que relaxei?”, desabafa Maria da Penha, atendente de um dos restaurantes do entorno do Parque da Solon de Lucena (Lagoa).
Assim como ela, muitos paraibanos têm encontrado refúgio nos parques públicos, seja para a prática de atividades físicas ou, simplesmente, para contemplar a natureza. E, de acordo com um estudo realizado na Inglaterra e publicado em junho deste ano, na revista The World Journal of Biological Psychiatry, o bem-estar que esse hábito provoca vai além da sensação boa citada por Maria.
Mais do que uma percepção, a pesquisa mostrou que o contato com a natureza é capaz de alterar a estrutura cerebral e expandir a massa cinzenta no córtex pré-frontal — região envolvida no planejamento, na regulação das ações e no desempenho cognitivo —, além de aumentar a imunidade em 50%. E mais: pessoas que frequentam espaços verdes de três a quatro vezes por semana têm chances 33% menor de usar remédios para saúde mental, 36% menos chances de usar remédios para pressão arterial e uma chance 26% menor de usar remédios para asma.
Prescrição
O benefício é tão impactante que o contato com a natureza se tornou prescrição médica em diversos países, a exemplo de Escócia, Coreia do Sul e Japão, onde ganhou até nome próprio: shinrin-yoku (ou “banhos de floresta”). Por isso, não é de se estranhar que Maria tenha, realmente, conseguido enxergar os problemas do dia por uma perspectiva mais simples. “O contato com a natureza ajuda a controlar a respiração e, consequentemente, diminuir a ansiedade. Mais tranquilos, conseguimos olhar as situações por outro ângulo e até diminuir o seu peso”, destaca a psicóloga Maria Elizabeth Costa.
A profissional ressalta, ainda, que não são apenas as paisagens verdes que têm um impacto profundo em corpos e cérebros. Os sons da natureza também podem mudar nossa atividade cerebral também. “Cada vez que você ouve os sons suaves do canto dos pássaros ou de um riacho, a atenção se desvia naturalmente para fora, você fica menos envolvido com seus próprios pensamentos — e isso ajuda a reduzir os níveis de ansiedade”, diz.
Espaços propiciam socialização e integração com a natureza
Além dos benefícios para a saúde, os parques são pontos de encontro onde pessoas de diferentes idades e culturas se reúnem. As áreas de lazer, como playgrounds, campos de futebol e espaços com animais, promovem a interação entre famílias e amigos. “Adoro trazer meus filhos ao parque, nos fins de semana e durante as férias. Eles brincam com outras crianças e eu ainda aproveito para socializar”, relata Alina Barros.
Os ambientes repletos de vegetação também são cenários perfeitos para a realização de eventos e festas. Aniversários, piqueniques e encontros comunitários ganham um charme especial, quando realizados ao ar livre. Jéssica Lacerda que o diga. Ao lado de familiares e amigos, ela celebrou, no Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Bica), o primeiro aniversário do seu filho, Joaquim, e garante que foi uma festa inesquecível. “O ambiente natural fez toda a diferença. Todos se divertiram muito”, relembra.
Só em João Pessoa, são mais de 14 espaços à disposição de quem deseja dar uma pausa na correria cotidiana para “recarregar as baterias”. Gente como a empreendedora Juliana Carvalho, frequentadora assídua dos parques da cidade. Ela e o pequeno Gael, de cinco anos, colecionam excelentes momentos na Lagoa, na Bica e no Parque Parahyba (que conta com quatro espaços em várias ruas do bairro do Bessa).
“O contato com a natureza fortalece o nosso vínculo e cria memórias incríveis. É um dos passeios que me fazem esquecer a correria e focar no meu filho, naquele momento, nas brincadeiras. Parece que o mundo para, quando estamos juntos em um dos parques”, conta Juliana. Ela acrescenta que os dois conseguem fazer vários tipos de exercícios e brincadeiras — nas quadras com areia ou com tabela de basquete, na pista de bicicleta, no gramado, no parquinho. “Cada dia, a gente faz uma atividade diferente. E a gente adora! É bom pra ele e é muito bom pra mim, também, sair um pouco desse dia a dia de muita correria, de trabalho, de responsabilidades. E quando a gente para um tempo e foca nas crianças, na brincadeira, acaba também fazendo bem pra gente, né?”, sorri.
Segundo o secretário de Meio Ambiente da capital, Welison Silveira, cuidar das áreas verdes e parques da cidade é um dos desafios da gestão ambiental. “Sabemos o quanto os nossos parques são importantes para quem mora em João Pessoa e para quem visita a cidade. Manter as áreas bem cuidadas exige atenção diária e sintonia entre diversas secretarias. A Semam não faz nada sozinha”, diz.
Entre os parceiros, o secretário cita a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedurb) e a Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana (Emlur), entre outros. Ele destaca ainda a importância da preservação das áreas verdes da cidade. “Trabalhamos diariamente na recuperação e na preservação do nosso patrimônio ambiental”, conclui.
Iluminação e segurança
Recém-chegado a João Pessoa, o carioca Diego Fernandes não perdeu tempo e já tratou de conhecer os parques públicos da cidade. “São passeios que não deixo de fazer com a minha família”, conta, encantado. Entretanto, dois motivos têm limitado os horários das suas visitas aos parques públicos: falta de iluminação e de segurança. “Quando começa a escurecer, nós voltamos para casa”, complementa.
É o mesmo caso da aposentada Lígia Camargo, que sai para passear com as suas duas cadelas na Lagoa, diariamente. Basta o sol se retirar que ela logo volta à segurança do lar. “À noite, aqui fica muito escuro, com alguns usuários de droga”, diz.
De acordo com a equipe da Secretaria de Infraestrutura (Seinfra), João Pessoa vem sofrendo com furtos de cabos elétricos, em diversos espaços públicos. Para solucionar o problema da falta de iluminação, o órgão intensificou as fiscalizações e agilizou a reposição das lâmpadas. “Dispomos de equipes todos os dias da semana, para a manutenção da rede de iluminação da capital”, destaca a engenheira civil Joyce Alves, diretora de Iluminação Pública.
Já em relação à segurança, os parques contam com rondas em todos os espaços públicos, por meio da Guarda Municipal e de grupos especializados, como o Grupo de Operações Táticas (Gote), o Pelotão Ambiental (na Bica), a Ciclo Patrulha (na orla) e o Núcleo de Inteligência, que monitora as ocorrências. As ações de segurança contam, ainda, com a parceria da Secretaria de Segurança Pública do Governo do Estado.
Saiba Mais
A população também pode colaborar com a prefeitura e com os órgãos de segurança pública para tornar os parques públicos mais seguros e iluminados. Ao perceber alguma atividade suspeita, pode procurar uma das viaturas policiais, que realizam as rondas nos locais, ou acionar a Polícia Militar (190) ou a Guarda Civil Metropolitana (193).
Já em relação aos serviços de manutenção de iluminação pública, a solicitação pode ser feita pelo número 0800 031 1530, da Seinfra, que funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h. A ligação é gratuita. Quem preferir, pode entrar em contato pelo aplicativo João Pessoa na Palma da Mão, disponível nos sistemas operacionais Android e IOS.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 14 de julho de 2024.