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Igreja de São Francisco tem o mais perfeito barroco-rococó

publicado: 24/12/2017 00h05, última modificação: 24/12/2017 18h46
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Frontispício do convento, cercado de 2 muralhas antigas, com 6 painéis representando as estações da Paixão de Cristo - Foto: Ortilo Antônio

tags: igreja de são francisco , são francisco de assis , barroco-rococó , ponto turístico , patrimônio histórico


Carlos Cavalcante

Em se tratando de monumentos históricos, um dos orgulhos dos moradores da cidade de João Pessoa é, sem dúvida, o conjunto arquitetônico e histórico franciscano, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1952. “A sua construção foi uma iniciativa dos frades franciscanos que vieram à Paraíba para ajudar os jesuítas na catequização dos índios, sendo sua edificação iniciada em 1589 e só concluída completamente em 1788, pois na primeira metade do século XVII chegou a servir de residência a diretores holandeses durante a invasão flamenca, período no qual teve suas obras interrompidas”, relata a arquiteta e restauradora Piedade Farias.

Segundo esclarece a arquiteta, os franciscanos viveram no convento até 1885. E de 1885 a 1894, o mesmo foi tomado pelo império, que instalou no convento uma escola de aprendizes de marinheiros e um hospital militar. “Posteriormente, com a criação da Diocese da Paraíba, o primeiro bispo da Paraíba, dom Adauto de Miranda Henriques, conseguiu reavê-lo com a finalidade de iniciar seminários e um colégio diocesano”. Ela afirma que por 70 anos o convento foi casa de formação sacerdotal. Depois, foi local de funcionamento de algumas instituições do estado e, em 1979, todo o conjunto foi fechado para restauração. Finalmente, a 6 de março de 1990 foi reaberto como Centro Cultural São Francisco.

O conjunto é composto principalmente pela Casa de Oração dos Terceiros e pelo Convento e Igreja de Santo Antônio. A fachada da igreja apresenta um estilo fiel ao barroco-rococó e é considerada “a mais harmoniosa do Brasil” pelo pesquisador Germain Bazin, porém o que mais chama a atenção dos visitantes é o monumental adro, guarnecido pelo cruzeiro em cantaria de calcário.

“O adro deste primoroso monumento é cercado de duas grandes muralhas antigas e azulejado, com seis painéis representando as estações da Paixão de Cristo. Esses azulejos, de autoria do artista português Policarpo de Oliveira Bernardes, são de grande importância histórica e artística. Já a parte superior das muralhas é trabalhada em pedra. Por sua vez, o piso do adro é todo em lajes antigas e o cruzeiro, que está entre os mais importantes cruzeiros da América Latina, é elaborado em cantaria e ornado com águias bicéfalas”, explica Piedade Farias.

Na avaliação da restauradora, “todo o conjunto é considerado um dos mais representativos equipamentos em estilo barroco do Brasil”. Segundo ela, “esse adro da igreja franciscana é um dos poucos adros existentes atualmente no país, já que muitos dos adros de igual valor artístico-histórico foram demolidos, principalmente na década de 1920, para que ruas fossem abertas nos seus espaços físicos. Poucos são os que restam e nenhum com tal monumentalidade”.

"O adro", continua Piedade, “tem uma função religiosa muito interessante, pois ali está reproduzida a Via Sacra. Ou seja, a pessoa que for adentrar à igreja conventual é convidada a refletir sobre o sofrimento de Jesus Cristo preparando-se para entrar no templo”, esclarece ela, afirmando que “muito aprendi sobre a arte sacra com o padre Ernando Teixeira, que alertou sobre essa função que tem o adro na preparação para a passagem do espaço profano para o espaço sagrado. E, no caso deste adro, o caminhar pelo sofrimento de Cristo”. O religioso foi o primeiro diretor do Centro Cultural São Francisco, em João Pessoa.

Os habitantes de João Pessoa podem se orgulhar desse portento conjunto arquitetônico histórico e religioso, já que os adros desapareceram no Brasil em nome da modernidade. Piedade afirma que “como ocorreu com outras cidades brasileiras, a cidade de João Pessoa também foi atingida pelo gosto de modernização. Nas décadas de 1920 muitos imóveis sofreram demolições. Em 1929, há o registro da demolição de 45 prédios nesse mesmo ano, incluindo a lamentável perda da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, erguida junto ao Palácio da Redenção. Nessa mesma década perdemos também as igrejas de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, demolida em 1923, e a Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, demolida em 1924. Tal informação consta no livro do professor José Flávio, intitulado 'Progresso e demolição na cidade da Parahyba – Cidade dos Jardins'.

“Enfim, o adro da igreja franciscana permaneceu e continua com sua originalidade preservada, apesar de ter sofrido, possivelmente na década de 1940, uma ação de vandalismo que danificou irreversivelmente os rostos dos soldados romanos representados na Via Sacra e uma intervenção técnica inadequada que removeu parte dos azulejos do lado esquerdo do adro”, ressalta Piedade Farias. Atualmente, todo o conjunto da igreja franciscana encontra-se aberto à visitação, contando mais especialmente de turistas. A obra é dona de uma riqueza artística distinta, em todos os seus detalhes.