João Pessoa está crescendo. Não há dúvidas. O Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que das 20 cidades com as maiores populações do Brasil, é a que teve o maior aumento populacional, com 15,3% a mais em relação a 2010, sendo também a cidade nordestina com maior crescimento da população. Entre todos os municípios do país, é o quarto que mais ampliou o número de habitantes. A capital paraibana soma 833.932 pessoas em 2022, ou seja, 110.417 a mais do que em 2010. Esse crescimento tem levado a cidade a se espalhar, principalmente para a Zona Sul.
Bairros como Gramame, Cuiá, Valentina têm se destacado pelo grande número de construções de novos prédios e a tendência é confirmada pelo arquiteto e urbanista Marco Suassuna, professor do Centro Universitário Unifacisa, em Campina Grande. Ele observa que essa inclinação de crescimento para a Zona Sul se explica pela grande área livre nesses territórios.
“Nós trabalhamos com dados reais e mapeamentos. Atualmente, o Plano Diretor de João Pessoa está sendo revisado e o consórcio - uma empresa de técnicos, com especialistas, que venceu a licitação – produziu um documento, hoje na Câmara dos Vereadores. O relatório tem um mapa mostrando que João Pessoa tem 4.584 hectares de lotes desocupados e grande parte desses lotes, em torno de 70%, está na região Sul, principalmente em Gramame e Cuiá. Então, realmente, é uma área que chamamos de expansão urbana”, explica.
O urbanista afirma que esse crescimento está previsto no planejamento da cidade e ressalta que a questão é como crescer para que tenha, de fato, o desenvolvimento sustentável. “O relatório não deixa muito claro quanto desses hectares é do poder público, porque ficaria mais fácil o poder público gerenciar esse crescimento, dar diretrizes um pouco mais ordenadas, adequadas”, observa.
Ele confirma que a cidade tem, de fato, avançado para a Zona Sul e conta que está divulgando, nas redes sociais, uma previsão da arborização juntamente com aprovação dos projetos de loteamento. “O poder público, em relação ao uso e ocupação do espaço, se ficar só nas mãos do mercado imobiliário especulativo, a cidade perde. Não pode aprovar tudo”, alerta. Além disso, orienta: “Não se deve aprovar loteamento sem o empreendedor apresentar juntamente um plano de arborização porque aí condiciona essa aprovação a um projeto de árvores”, destaca.
Suassuna enumera que árvore é vida, purificação do ar, gera sombra, amenização climática, conforto para o lazer e convívio, e reforça que os benefícios da arborização para a qualidade de vida das pessoas são inúmeros. “Na previsão legal, existe percentual mínimo e algumas atribuições para o proprietário do lote, mas são situações pontuais, não é um planejamento integrado”.
Cidade compacta e dispersa
Existem, basicamente, dois modelos de cidade, a compacta e a dispersa. A dispersa, conforme Marco Suassuna, cresce mais horizontalmente, de uma forma mais espraiada, como se fosse um pingo de óleo no mar, cuja mancha se espalha. “A cidade dispersa é muito cara, e esses impactos, em relação a João Pessoa, também estão acontecendo”.
Exemplificando, ele lembra que quando os primeiros conjuntos habitacionais foram construídos em João Pessoa, não foi um ao lado do outro de forma que a mancha urbana fosse compacta, contínua. Veio primeiro o Castelo Branco, em função, nos anos 1970, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Depois veio Costa e Silva, Bancários, Mangabeira e Valentina. “Aí, vemos um espaço vazio que chamamos vazios intersticiais, vazios do entre. Esses conjuntos ocupam um espaço, um pedaço de terra, mas o ideal seria que fosse tudo juntinho, um seguindo a vizinhança do outro para que a estrutura ficasse mais barata. Na região Sul está acontecendo a mesma coisa. Se pegar um mapa de Geografia sobre o uso e ocupação do solo de 1985, Gramame não existia, não havia nada. A cidade está crescendo, mas não de forma compacta e sim dispersa”, diz.
Impactos negativos
Os impactos negativos são o encarecimento da implementação e manutenção da infraestrutura; impactos ambientais porque tem as áreas que estão sendo desmatadas sem a fiscalização adequada e sem um planejamento de recomposição dessa vegetação, em alguns casos, resquícios da Mata Atlântica; aumento das distâncias porque o transporte público tem que chegar lá longe e, às vezes, quando não dá retorno lucrativo para as empresas, demora uma hora para chegar. Quem mora nas áreas mais periféricas sofre muito com os problemas de transporte público, conforme enumera Suassuna.
“Fora isso, tem um dado que nós estudamos e trabalhamos em relação ao planejamento urbano. É que os conjuntos habitacionais precisam vir acompanhados de comércio e serviços. Não só escola, creche, mas também a padaria, o mercadinho ou mercado, a farmácia, entre outros usos de bairro. Tudo a distâncias caminháveis, de 500 a 800 metros, no máximo. É muito complicado quando não ocorre isso”.
Ele continua, observando que, quando não se tem, é preciso dar condições para que, num futuro próximo, se tenha exatamente previsão de terra ou de espaço para que o próprio morador possa abrir o seu comércio com financiamentos favoráveis para isso. “Às vezes, a prefeitura não prevê espaço, o morador reforma sua própria casa de forma improvisada. Tem toda essa questão que chamamos de conjunto habitacional monofuncional, que não funciona na vida das pessoas”.
Pontos positivos
O crescimento da cidade para a Zona Sul é visto pelo urbanista como uma oportunidade de incremento de arborização para a cidade a partir da relação do planejamento da arborização com o planejamento da ocupação do solo. Este, segundo Marco Suassuna, é um ponto positivo, desde que se tenha planejamento. “Trabalhamos no indicador de quantidade de árvores por hectare. Se pegarmos 24 árvores por hectare, multiplicamos, em média, por 3 mil hectares, vai dar uma quantidade absurda de árvores. Isso vai favorecer a questão climática da cidade, a questão da paisagem, de áreas favoráveis ao lazer e ao descanso”.
Esse crescimento é bom. Temos o condomínio Irmã Dulce, o Vista Alegre, isso tudo nos últimos 10 anos e, nos últimos cinco é que cresceu. - Flávio Raniery
Essas árvores, de acordo com ele, podem ser também frutíferas, se relacionando ainda com a questão da alimentação saudável. “Tem uma série de benefícios. Tem também a questão de uma moradia digna para todos de uma forma geral e não só, de novo, a especulação do mercado imobiliário”, frisa.
Outro aspecto observado por ele é que a classe alta precisa dos serviços da classe baixa renda, do jardineiro, da empregada doméstica, da babá. Por isso, moradia e trabalho devem ser o mais próximo possível. “Se não for tão perto, é preciso dar qualidade para que tenha o transporte público de qualidade ou outros modais não poluentes como a bicicleta”. Ele constata que este é um ponto positivo que João Pessoa tem a seu favor porque possui espaço ainda para crescer de forma compacta e planejada.
Saiba Mais
Sobre o crescimento de João Pessoa, principalmente a Zona Sul, o secretário municipal de Planejamento, José William Montenegro, destacou que um dos pontos que vai permitir à Prefeitura colocar em prática o planejamento para o futuro da cidade é o Plano Diretor, que está para ser votado na Câmara Municipal. “O Plano Diretor vai nos permitir cuidar da cidade, principalmente do ordenamento e sustentabilidade para que possamos continuar a ter qualidade de vida”, disse.
José William falou de obras importantes, com as quais a Prefeitura vem dando estrutura para a Zona Sul. Ele citou obras de mobilidade como a finalização do Terminal de Integração do Valentina, construção de escolas, unidades de saúde, pavimentação, urbanização e drenagem de vias. E ainda falou de projetos que em breve devem sair do papel como a licitação da ampliação da Avenida Hilton Souto Maior, reforma da Juscelino Kubitschek e obras estruturantes com o Terminal de Integração da Pedro II, entre outras. Em conjunto com o estado, o secretário citou a parceria com a Cegepa na ampliação do esgotamento sanitário, que hoje está em 81% na região e deve chegar a 86%.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 9 de julho de 2023.