No primeiro dia de provas do Enem 2023, a Paraíba registrou uma das menores médias de faltosos do país. Dos 124.519 inscritos, 26,7% não compareceram ao local de provas, o que corresponde a 33.246 faltosos. Em todo o Brasil 28,1% dos candidatos faltaram, 4.293 candidatos foram eliminados e 905 participantes foram afetados por problemas logísticos, tais como: emergências médicas, interrupções temporárias de energia elétrica e problemas com abastecimento de água.
De acordo com a Polícia Militar, oito ocorrências foram registradas durante a aplicação do primeiro dia de provas na Paraíba, sendo sete delas de perturbação do sossego, que é o acionamento de autoridades por causa de som alto perto dos locais de prova. Todas elas foram resolvidas pela PM. Os casos foram em João Pessoa (4), Bayeux (2) e Rio Tinto (1).
Na cidade de Campina Grande, um candidato que estava fazendo prova na Universidade Estadual da Paraíba foi preso pela Polícia Federal, após a conclusão da prova. De acordo com a PF, o candidato tinha um mandado de prisão em aberto por descumprimento de pensão alimentícia, expedido pela Vara da Família de João Pessoa. Não houve casos de irregularidades ou de fraudes no Estado.
O segundo dia de prova ocorrerá domingo (12), quando os estudantes terão de resolver questões de Ciências da Natureza e Matemática. Segundo o Inep, o gabarito oficial com o resultado das questões será divulgado até 24 de novembro.
Candidatos reclamam
No primeiro dia de prova, os candidatos responderam 90 questões de múltipla escolha, além de escrever uma redação sobre o tema “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. A prova foi considerada cansativa pelos alunos. O estudante Pedro Sales, do Liceu Paraibano, disse que iniciou pela redação. “ Só depois fui para as questões. Como eram muito longas, não deu tempo revisar, por causa do tempo. Eu cheguei em casa exausto”, comentou.
A candidata Yasmim Lorrany é aluna da Rede Estadual de ensino na cidade de Condado e realizou a prova no município paraibano de Patos. Ela destacou que, além da prova ser cansativa, o calor aumentou o cansaço. “Fiz prova numa escola que não tinha local adequado pra os alunos ficarem. Só havia uma tenda e a maior parte dos estudantes teve que ficar no sol, o que contribuiu para o cansaço na hora do exame, mas ,no geral, eu gostei da prova. Diria que algumas questões pareciam muito mais difíceis do que realmente eram, porque eu estava cansada no fim da prova”.
Tema da redação aborda universo feminino
Assim como acontece todos os anos, a divulgação do tema da redação foi bastante esperada. Logo após o início da provas, às 13h30, o Inep divulgou o tema da redação em suas redes sociais: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Muitas pessoas comemoraram a escolha do tema, porém ele pegou de surpresa alguns candidatos e até professores”, declarou o professor de Português e Redação, Édito Romão.
A prova do Enem 2023 comprova o fato de que o conhecimento está diante dos nossos olhos, não apenas nas teorias - Wilka Barbosa
Para ele, o tema foi, totalmente, inesperado e o fez refletir muito sobre o que a população valoriza no país, enquanto sociedade, educação e professores.
“Sei que deve ter um monte de gente dizendo que acertou o tema, eu jamais imaginaria que fosse cair um tema desse na redação do Enem, e eu adorei. A primeira coisa que me veio à cabeça foi a seguinte: que bom que o tema foi esse. Porque vai fazer com que as pessoas olhem para suas mães com mais respeito. E é claro, que como a educação não está dissociada da política, enquanto organização social. A troca de um governo de extrema direita para um governo progressista, possibilitou que temas de invisibilidade pudessem ser discutidos”, revelou Édito.
Para a aluna Yasmim Lorrany, o tema da redação foi muito pertinente, “entretanto, foi apresentado com uma frase que poderia ser facilmente resumida. “Tive dificuldade na estruturação do texto, mas foi fácil achar repertórios para introduzir e desenvolver. Infelizmente diria que é muito fácil tangenciar, então fico ansiosa para o resultado”, frisou. O tema foi tratado no último Censo do IBGE, que divulgou dados acerca da carga horária dedicada por mulheres, durante a semana, aos afazeres domésticos ou a cuidado de pessoas.
Questão fez referência ao pôr do sol de Jacaré
Pouco tempo depois que terminou a prova, uma questão começou a circular nas redes sociais dos paraibanos. A questão 17, referente ao conteúdo de linguagens, códigos e suas tecnologias, trouxe uma referência ao saxofonista Jurandir do Sax e ao pôr do sol na Praia do Jacaré. O texto da questão foi publicado no Jornal Folha de São Paulo em 2005 e escrito por um paraibano, o jornalista Augusto Pinheiro.
A questão pegou de surpresa professores, alunos e até o próprio Jurandir do Sax. Mas, foi muito bem recebida e elogiada. “Confesso que fui pega de surpresa ao vê-lo na prova de linguagens, mas não pelo fato de encontrá-lo no Enem. Já fazia um tempo que sentia falta da Paraíba nas provas, então, já esperava sua presença de alguma forma na prova de Humanas, precisamente história ou geografia. Jurandir do Sax canta para o sol dormir há mais de 20 anos. Durante a pandemia não parou, hoje, é conhecido mundialmente”, comentou a professora de Sociologia, Wilka Barbosa.
Segundo ela, o pôr do sol na Praia do Jacaré não é apenas um ritual realizado pelos turistas, como também por muitos paraibanos, ou seja, estamos falando de um ritual cultural significativo da Grande João Pessoa. “De toda forma, a prova do Enem 2023 comprova o fato de que o conhecimento está diante dos nossos olhos, não apenas nas teorias. Conseguir refletir sobre o cotidiano social se torna cada vez mais necessário para ter um bom desempenho”, ressaltou Wilka.
Para Jurandir do Sax, ser citado em uma prova de Enem é uma forma de reconhecimento ao seu trabalho que se mantém ao longos dos anos como atrativo turístico paraibano. “Quem elaborou essa questão foi muito feliz, me senti prestigiado e reconhecido. O sentimento é de gratidão por poder fazer um trabalho que é importante para o nosso Estado”, frisou o saxofonista.
Em relação à referência musical nas suas apresentações, citada no texto, ele conta como se deu a escolha desse repertório. “O Bolero de Ravel representa uma crescente de vida e traz essa atenção para o ápice, que é o momento do pôr do sol. Asa Branca é uma música que para mim representa o nordestino, as nossas raízes, toco ela em todos os lugares onde vou. E Meu Sublime Torrão é uma canção que caiu na graça do paraibano, e que muita gente acha que ela é o Hino da Paraíba”, afirmou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 07 de novembro de 2023.