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“Maria” e “José”

Nomes que atravessam gerações

publicado: 05/11/2025 08h32, última modificação: 05/11/2025 08h32
Pesquisa revela mudanças nas tendências ao longo das décadas e inclui, pela primeira vez, o ranking de sobrenomes
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Maria Luiza homenageia, com seu nome, tanto personagens bíblicos quanto seus antepassados | Foto: Arquivo pessoal

por Pedro Alves*

Os nomes bíblicos “José” e “Maria”, respectivamente, seguem sendo os mais populares nos homens e nas mulheres da Paraíba. A informação foi publicada na nova edição do projeto Nomes no Brasil, iniciativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir dos dados do Censo Demográfico 2022.

Segundo a publicação, os nomes “Maria” e “José” lideram com folga os rankings feminino e masculino na Paraíba. No estado, “Maria” aparece em 442.358 registros, o que corresponde a 11,13% de todos os nomes atribuídos a pessoas do sexo feminino. Bem atrás, em segundo lugar, está “Ana”, com 82.911 registros (2,09%).

Entre os homens, “José” ocupa o topo da lista, com 210.814 registros — o equivale++nte a 5,30% dos nomes masculinos no estado. Em seguida vem “João”, com 84.009 registros, representando 2,11%.

Uma dessas Marias é Maria Luiza Félix Pessoa, conhecida como “Malu”. Profissional de Educação Física, ela quase recebeu o nome de “Ana”, mas acabou seguindo a tradição familiar.

“Minha mãe queria que eu fosse ‘Ana Luiza’, mas minha avó preferiu ‘Maria’. Ela realmente gostava de ‘Maria’”, conta. O nome é praticamente uma marca registrada da família: “O nome da minha mãe é ‘Maria Risomar’ e ainda tenho três tias com o mesmo primeiro nome — ‘Maria Célia’, ‘Maria Elza’ e ‘Maria Vilma’”, acrescenta.

Religiosidade

Uma das principais influências na escolha de nomes no Brasil é a devoção a personagens bíblicos. Embora o nome “Jesus” não esteja entre os mais registrados — são apenas 248 pessoas com esse nome no estado —, outros nomes de origem cristã são amplamente populares, tanto localmente quanto nacionalmente.

Entre os 10 nomes masculinos mais populares na Paraíba, cinco são de origem apostólica: “José”, “João”, “Pedro”, “Lucas” e ‘Paulo”. Dos outros cinco, ao menos dois também mantêm relação com a tradição cristã — “Antônio” e “Francisco”, ambos nomes de santos e frequentemente escolhidos como forma de homenagem ligada à fé.

Um exemplo dessa influência religiosa é o de José Gercivaldo, que recebeu o mesmo nome do pai, entre outros motivos, pela devoção da família. 

José Gercivaldo também homenageiatanto personagens bíblicos quanto seus antepassados | Foto: Arquivo pessoal

“A devoção por José e Maria é inevitável no Nordeste. Meu avô escolheu o nome dos filhos todos com ‘José’ e ‘Maria’ na frente. Minha bisavó era chamada ‘Gercina’. Então meu pai homenageou minha bisavó, colocando ‘Gercivaldo’, mas homenageou também meu avô, que tinha essa prática de colocar ‘José’ e ‘Maria’ nos nomes dos filhos”, explicou José Gercivaldo, que é mais conhecido como “Geri”.

Populares no passado, “Josefa” e “Severino” foram perdendo espaço

Enquanto alguns nomes  mantêm-se entre os preferidos dos paraibanos ao longo do tempo, outros ganham e perdem espaço conforme as décadas passam. Um exemplo é “Josefa”, prenome que, da década de 1940 à década de 1970, figurou, de forma contínua, entre os cinco mais escolhidos na Paraíba, mas que, a partir dos anos 1980, começou a perder espaço entre as escolhas, sendo gradualmente substituído por nomes como “Ana”, “Adriana” e “Jéssica”, conforme os levantamentos do IBGE.

Apesar da queda, até o Censo de 2022, o nome “Josefa” só foi ultrapassado, na lista geral, por “Ana”, mantendo-se como um dos nomes femininos mais presentes no estado. “Josefa”, portanto, ocupa o terceiro lugar no ranking, com 27.669 registros, o equivalente a 0,70% das denominações femininas paraibanas.

Algo semelhante acontece em relação ao nome masculino “Severino”, que ainda ocupa a sexta posição entre os mais frequentes na Paraíba. De 1960 a 1969, o prenome era bastante escolhida, tendo em vista que no período foram registrados 6.937 novos Severinos no estado. O cenário modificou-se, no entanto, de 2010 e 2019, quando o número despencou para 111 registros.

O movimento oposto pode ser observado com o nome “Lucas”. De 1940 a 1949, apenas 19 pessoas receberam esse nome na Paraíba; porém, de 2010 a 2019, houve um crescimento vertiginoso para 5.805 registros, que se manteve de 2020 a 2022, quando foram identificados, pelo censo, mais 1.972 novos Lucas.

No cenário nacional, os dados mostram uma tendência semelhante. Pelo levantamento do IBGE por décadas de nascimento, é possível observar o declínio de nomes tradicionais, como “Osvaldo” e “Terezinha”, que possuem idades medianas elevadas (62 e 66 anos, respectivamente). Ao mesmo tempo, nomes considerados mais recentes, como “Gael” e “Helena”, aparecem com idades medianas baixas — um ano e oito anos, respectivamente —, evidenciando sua ascensão entre as escolhas atuais dos brasileiros.

Sobrenomes

Além das mudanças nas tendências das escolhas de nomes, a pesquisa divulgada ontem apresentou, como novidade, a inclusão dos sobrenomes, permitindo uma análise mais completa da identidade da população brasileira e paraibana. Os principais sobrenomes paraibanos figuram também no que foi observado nacionalmente, conforme divulgado pelo projeto Nomes no Brasil. “Silva” com 1.120.148 registros (28,18%) aparece em primeiro lugar, seguido de “Santos” (11,02%), “Oliveira” (5,87%), Lima (5,46%), “Pereira” (4,58%) e “Sousa” (4,01%).

Nacionalmente, o estudo do IBGE indica que o nome “Terezinha” foi ultrapassado por “Helena” | Foto: Divulgação/IBGE

Página interativa reúne mapa global e frequência por década

O acesso aos dados do projeto Nomes do Brasil pode ser feito pelo endereço eletrônico. A plataforma disponibiliza nomes e sobrenomes organizados por gênero, período de nascimento e letra inicial. Também é possível gerar rankings conforme a área selecionada pelo usuário — Brasil, estados ou municípios.

Segundo Rodrigo Rego, gerente de Inovação e Desenvolvimento do IBGE, e responsável pelo projeto, a versão anterior do site, lançada em 2016 com dados do Censo 2010, foi “um sucesso absoluto e inesperado de público”. Ele explica que, diante do grande interesse da sociedade, a nova versão não apenas atualiza as informações com os dados do Censo 2022, como amplia as possibilidades de consulta: “Agora que temos a real dimensão desse interesse, quisemos acrescentar mais dimensões para explorar”.

Ao clicar em cada nome, o usuário pode consultar o número total de registros, a concentração por localidade e uma linha do tempo que mostra a frequência do nome por década. A plataforma também apresenta a idade mediana relacionada a cada nome próprio, indicador que divide o grupo entre os 50% mais jovens e os 50% mais velhos.

Internacional

Outra novidade da plataforma é o mapa-múndi “Nomes no Mundo”, que permite navegar por diferentes países e descobrir quais são os nomes e sobrenomes mais comuns em cada local. A ferramenta também compara essas informações com a quantidade de brasileiros que possuem essas mesmas denominações, com base no banco de dados atualizado pelo Censo 2022.

É possível, por exemplo, selecionar a China e verificar que o sobrenome mais frequente no país, “Wang”, aparece em 1.513 registros no Brasil. Ou visitar a Bolívia e descobrir que os nomes próprios mais comuns são “Juan” e “Juana”. Ao lado das informações, o site apresenta também o número de brasileiros registrados com esses nomes: 67.908 e 3.113, respectivamente.

Metodologia

O Nomes do Brasil utiliza como base as listas de moradores dos domicílios em 1o de agosto de 2022, data de referência do Censo 2022. Durante a coleta, foram registrados — em campos separados — o nome e o sobrenome completo de cada morador informado pelo entrevistado. Para a divulgação, considerou-se apenas o primeiro nome no campo “nome”. No caso do campo “sobrenome”, foi calculada a frequência de cada sobrenome, independentemente da ordem em que aparecia.

As variações de grafia dos nomes foram contabilizadas separadamente. Assim, versões como “Ana” e “Anna”, “Ian” e “Yan”, “Luis” e “Luiz” foram tratadas como nomes distintos.

Da mesma forma, não foram considerados sinais diacríticos (como acentos, cedilha ou til), o que padronizou nomes como “Antônio”, “Cauã”, “Luís” e “Luísa” sem esses sinais.

O sexo dos moradores reflete exclusivamente a informação declarada no momento do preenchimento do questionário. Por esse motivo — além das diferenças metodológicas e das variações de grafia —, podem existir alterações entre os dados coletados em 2010 e os registrados em 2022.

Para garantir o sigilo estatístico, nomes com menos de 20 ocorrências podem ter os dados ocultados, e a divulgação por município só é feita quando há pelo menos 10 registros. Todas as informações foram coletadas com base na lista de moradores existente na data de referência do Censo.

É possível, também, que parte das informações referentes ao nome seja disponibilizada, mas o mapa ou gráfico estejam incompletos. Isso é uma garantia do sigilo dos dados, evitando qualquer tipo de identificação: na distribuição geográfica, os nomes só poderão ser divulgados quando apresentarem incidência maior do que 15 por unidade da Federação e 10 por município. Essa proteção também acontece quando os resultados forem filtrados por década.

Através deste link, acesse o site de nomes mais populares no Brasil 

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 5 de novembro de 2025.