A Paraíba contará em breve com o Museu da Diáspora Negra, das Etnias e das Comunidades Tradicionais no estado. O memorial consta no Plano Estadual de Promoção da Igualdade Social, aprovado em novembro de 2021 e está contido no eixo de políticas afirmativas da equidade racial.
A Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana (SEMDH) está na fase de planejamento do memorial, que será permanente com o propósito de resgatar a diversidade étnico-cultural como fonte de memória e resistência da população negra, indígena, quilombola e religiões de matriz africana no estado.
Nesta primeira fase a Secretaria faz um diagnóstico, dialogando com entes governamentais que podem contribuir para definição do processo e aglutinação de acervos, como Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep), Casa de José Américo e Secretaria de Cultura. “Nós estamos na fase do pré-projeto, mas já dialogando com os entes governamentais e também a Universidade Estadual da Paraíba para que a gente possa depois fazer o diálogo com a sociedade civil”, explicou a secretária da Mulher e da Diversidade Humana, Lídia Moura.
Ideia surgiu de demanda da sociedade civil
A proposta de criação do museu surgiu a partir de demanda apresentada pela sociedade civil sobre a necessidade de instalar o equipamento na Paraíba. A demanda foi inserida no Plano Estadual de Promoção da Igualdade Social, que se tornou uma lei estadual. “Essa é uma reinvindicação antiga do movimento social, do movimento negro, sobretudo, dos segmentos que querem resgatar essa memória, efetivamente trabalhar para que nós tenhamos então esse resgate, essa preservação da diversidade étnico-cultural do povo paraibano”, ressaltou a secretária.
O museu será instalado em João Pessoa, em um prédio próprio que ainda será definido. A ideia, no entanto, é que haja representações do memorial em outras cidades da Paraíba para que ocorra uma maior circulação do acervo de história e memória. “Vamos criar um mecanismo para termos extensões desse projeto em outras cidades, mas inicialmente a principal base, o museu que a população, a sociedade, os turistas, estudantes possam visitar e compreender esse processo, será em João Pessoa”, disse Lídia Moura.
Na Paraíba, conforme a secretária, estão os Potiguara e Tabajara, além dos Kariris, Taradiriús e Xucurus, que buscam a aglutinação dos seus povos. Hoje existem pouco mais de 20 mil Potiguaras, vivendo na Paraíba e cerca de dois mil Tabajaras. O território potiguara paraibano, se estende desde o município de Rio Tinto e Marcação, até a Baía da Traição, sendo dividido em 33 aldeias. O território Tabajara está localizado no Litoral Sul, principalmente no município de Conde, contando hoje com três aldeias. Já a comunidade cigana na Paraíba é composta por quase cinco mil integrantes, em 27 municípios.
“Em relação ao povo negro, nós queremos mostrar que a Paraíba tem essa origem. A Diáspora Negra também aportou aqui na Paraíba. Dos indígenas nós temos duas etnias, mas também temos outras etnias que estão buscando reaglutinar seu povo, refazer um território. Nós estamos com esse olhar também para que a gente tenha, não apenas os povos que já estão em território já aglutinados, mas também os povos que buscam a reaglutinação”, comentou a secretária.
Espaço para pesquisar e manter memória ativa
Um espaço que surgiu a partir do pedido feito por lideranças de movimentos sociais, a construção do Museu da Diáspora Negra, das Etnias e das Comunidades Tradicionais da Paraíba é aprovado por representantes do movimento negro. O espaço será o primeiro no estado destinado à preservação da memória e representação cultural dos povos.
“Tem o intuito de preservar a memória da população negra no estado e dos povos tradicionais além de ser um espaço de pesquisa, que terá exposição. As escolas, universidades e a população em geral poderão, além de visitar, usar o espaço como pesquisa, para conhecimento relacionado à temática”, avaliou o ativista negro Roberto Silva.
Para Danilo Santos, pesquisador colaborador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Afrobrasileiros e Indígenas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e ativista do movimento negro, um equipamento dessa envergadura, quando bem utilizado, pode ser importante para um processo de reconhecimento da importância da população negra, dos povos originários e comunidades tradicionais.
“Também bem trabalhada pode ser um instrumento para produção de conhecimento e ensino voltado para uma perspectiva antirracista, pluriétnica, que respeita as diferenças. Pode ser um instrumento de aproximação e reconhecimento do que a gente chama de atlântico negro. De fazer a conexão entre Brasil e o continente africano a partir do que a gente chama da afroparaibanidade. Se for bem trabalhado pode cumprir um papel importantíssimo na sociedade paraibana”, afirmou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 14 de maio de 2023.