Três meses após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) referente à Covid-19, a pandemia ainda provoca uma série de mudanças na vida da população mundial. Na Paraíba, mesmo com o fim das restrições rígidas, há quem ainda mantenha hábitos como o uso da máscara em ambientes coletivos e fechados, como ônibus e salas de aula, esteja gripado ou não; do álcool em gel ou a 70% para limpar as mãos e o ambiente, reforçando o processo de higienização.
A estudante do Ensino Médio Larissa Santos não abre mão dos cuidados. Para ela, a máscara é item fundamental e não sai de casa sem o acessório. Ela diz que se sente muito mais protegida contra a Covid e também outras doenças, a exemplo da gripe. “Não custa nada usar a máscara. Muito pior é estar perto de muitas pessoas, exposta a doenças que a gente não conhece. Prefiro ser prevenida”, justifica.
O uso frequente da máscara, segundo ela, tem uma explicação simples. “Eu uso máscara em locais com muita gente e, às vezes, quando estou na rua. Na verdade, desenvolvi uma paranoia, principalmente perto de pessoas desconhecidas. Se elas espirrarem ou tossirem e eu estiver de máscara, não vou ficar vulnerável às gotículas que se espalham. Me sinto bem mais segura usando a máscara. Se estudarmos o básico de Biologia, vamos saber que esses respingos podem causar doenças graves, embora o acessório não tenha 100% de eficiência”.
A estudante de Jornalismo Rebecca Narriê tem a mesma opinião. Mesmo com um cenário mais tranquilo em relação à doença, ela explica que prefere se precaver.
“Eu ainda tenho muito medo. Não só de me contaminar, mas de contaminar outras pessoas. Durante o período da pandemia, eu estava em um intercâmbio na Espanha e longe da minha família. Tinha muito medo de não conseguir vê-los outra vez e também de contaminar a família espanhola que me acolheu. Embora eu saiba que não é somente a máscara que impede a contaminação, me sinto mais segura com ela”, justifica.
Rebecca diz que usa máscara em todos os lugares e só retira quando vai se alimentar e quando chega em casa. “Tive Covid uma vez. Meus sintomas foram leves, só tive dor no corpo e dor de cabeça. Meus familiares tiveram sintomas um pouco mais fortes”, conta ela, que tomou todas as doses da vacina.
Para a estudante, apesar da queda no número de casos, as pessoas deveriam continuar usando máscara. “Embora o período de contaminação em massa tenha passado, esse vírus é relativamente novo e ainda está sendo estudado”, observa. Além da máscara, Rebecca sempre utiliza o álcool em gel e lava as mãos com frequência.
“Sei que usar máscara não é nem um pouco confortável, principalmente para pessoas que possuem alguma doença respiratória. O uso de máscara, principalmente em lugares fechados e com pouca ventilação, é muito importante”, considera. Ela diz que vai continuar usando porque ainda não se sente segura.
O aposentado José Malaquias Neto e a filha, a dona de casa Lúcia Malaquias, também não saem de casa sem máscara. “Eu uso pela idade. Tenho 78 anos e não posso brincar com minha saúde. Graças a Deus, não tive a Covid e estou me cuidando para não ter”, afirma. Para Lúcia, o uso da máscara quando está em contato com outras pessoas na rua ajuda a se sentir segura. “Não custa nada prevenir”, completa.
Evitar aglomerações também virou costume
A experiência da pandemia da Covid-19 deixou uma consciência coletiva de se evitar grandes aglomerações quando existem surtos de outras doenças respiratórias, assim como quando alguém está doente evita se aglomerar para não transmitir. O infectologista Fernando Chagas ressalta que é importante criar o hábito também quando aumentarem os casos de doenças respiratórias, manter janelas abertas para circulação de ar e para que os microorganismos não permaneçam no ambiente, o que ofereceria risco às pessoas. Também é importante higienizar os ambientes, as mãos e os alimentos. “A pandemia nos escancarou esses problemas e nós temos visto hoje uma maior conscientização das pessoas quanto a isso, embora, por exemplo, tenhamos acabado de sair de uma emergência de saúde pública de doenças respiratórias em crianças, com o vírus sincicial respiratório, adenovírus, que foram muitos casos, mas foi uma situação peculiar, de um momento em que várias crianças voltaram aos colégios”.
Ele constata que ficou muito tempo sem a circulação desses vírus, e a queda da cobertura vacinal de algumas doenças levou a uma maior quantidade de pessoas adoecendo por conta da diminuição da cobertura vacinal. Tudo isso, segundo ele, se somou a esse momento de emergência em saúde pública vivido recentemente por conta dos vírus respiratórios que não tinham relação com o SARS-CoV-2. Mas, ficou o alerta.
Dessa forma, foi possível identificar o problema rapidamente e já começar com ações e medidas para diminuir a proliferação dos vírus e bactérias. Ele ressalta que são importantes medidas como adoção de máscaras, orientação das pessoas para evitar grandes aglomerações, aumento dos atendimentos para evitar que mais pessoas fiquem doentes e evoluam para a forma grave, e até mesmo, se possível, o bloqueio vacinal, ou seja, fazer vacinações de urgência contra doenças para as quais existem imunizantes.
A gerente operacional do Núcleo de Vigilância Epidemiológica da Paraíba, Talitha Lira, diz que é inegável a redução de óbitos por Covid-19 com a chegada da vacina. “Mas, também é uma realidade que muitas pessoas ainda não aderiram à vacinação, bem como o fato de muitos dos óbitos após a implantação terem comorbidades que complicam a resolução do caso. A vacina tem como foco evitar o agravamento e óbitos da maior parte dos casos e tornar o sistema imunológico da população mais apto para responder às infecções pelo vírus”. Ela afirma ainda que o hábito de pessoas adultas procurarem o posto de vacinação para manter a carteira vacinal em dia fortalece a prevenção da Covid-19 e de outras doenças.
Mais de 10,5 mil mortes na Paraíba
A Covid surgiu mundialmente como uma doença avassaladora que matou, na Paraíba, 10.575 pessoas desde 2020, segundo o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), da Secretaria de Estado da Saúde (SES-PB). A chegada da vacina foi uma esperança de continuar vivo para uma grande parcela da população, contribuindo para proteger as pessoas, reduzir a gravidade da doença e o número de óbitos. Muitos, porém, ainda resistem ao imunizante e, por isso, estão mais vulneráveis às complicações. Isso porque a doença, apesar de aparentemente controlada, ainda está presente e continua contaminando.
O infectologista Fernando Chagas afirma que a doença ainda é, de fato, perigosa e que o risco permanece, embora com menos intensidade. Ele ressalta que a vacina proporcionou uma tranquilidade se comparado o cenário de hoje ao de 2020 e 2021, mas lembra que não se pode atribuir as mortes que ainda estão ocorrendo à falta de vacina. Por outro lado, Chagas reforça que quem não está vacinado tem mais chance de evoluir para a forma grave da Covid-19. Ele explica que essa chance diminui para próximo de 0% a 1%, no máximo, para quem tomou a vacina.
Hábitos para não passar à frente
Os hábitos mais importantes para evitar a doença, de fato, são os que diminuem as chances de passá-la à frente, não necessariamente as chances de pegarmos, conforme explana o infectologista Fernando Chagas. Ele explica que a máscara tem um impacto muito maior na diminuição da probabilidade de passar à frente quando a pessoa com sintoma gripal está usando. “O uso diminui as chances, óbvio, de pegar, mas o impacto maior é de não passar à frente. Para não pegar, além da máscara, a lavagem das mãos e diminuir o hábito de passar as mãos nos olhos e na boca também têm um impacto muito grande”, ensina.
Assim, os grandes hábitos consistem em, quem tem qualquer sintoma gripal, um quadro que sugira doença respiratória, utilizar máscaras caso saia de casa, evitar aglomerar-se e ter os cuidados em separar os utensílios - prato, copo, garfo – e não compartilhar objetos de uso pessoal.
A pandemia, segundo ele, impôs novos hábitos e considera o uso da máscara fundamental. Outro hábito importante é lavar as mãos. A expectativa é que conforme as pessoas vão sendo orientadas, desenvolvam esses hábitos.
Hábitos Para Prevenir a Covid-19
- Manter o cartão de vacina em dia, principalmente com as vacinas da influenza e Covid-19
- Higienizar as mãos com frequência, utilizando água e sabão ou álcool;
- Evitar levar as mãos sujas aos olhos e à boca;
- Recomenda-se utilizar regras de etiqueta respiratória, quando necessário;
- Manter alimentação saudável e balanceada, além de exercícios físicos;
- Grupos de risco devem utilizar máscara em locais de aglomeração de pessoas.
Fonte: Gerência Operacional do Núcleo de Vigilância Epidemiológica da Paraíba.
Casos e óbitos por Covid-19 (Paraíba)
Ano | Casos | Óbitos |
2020 | 189.499 | 3.709 |
2021 | 278.249 | 5.893 |
2022 | 237.025 | 929 |
2023 | 5.060* | 44* |
TOTAL | 712.733 | 10.575 |
Fonte: Painel de Monitoramento Covid-19/SES-PB.
*Dados até 29/07/23.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 6 de agosto de 2023.