Em Campina Grande, durante o período chuvoso, o trânsito costuma ser alvo de muitas reclamações — e elas não partem somente dos condutores de veículos. Os cidadãos que utilizam o transporte público da cidade também se queixam, pois a maioria das paradas de ônibus não tem cobertura. Eles precisam aguentar a chuva ou correr para algum lugar protegido, enquanto esperam o coletivo que os levará ao destino desejado.
A cozinheira Alcicleide Ferreira, por exemplo, que trabalha em uma escola municipal do bairro do Cruzeiro, utiliza o transporte urbano todos os dias, tanto para chegar ao trabalho quanto para retornar à sua casa. Não é incomum ela precisar se abrigar em outros locais, durante a espera por sua linha. “Quando é um dia de sol, até dá para ficar esperando aqui mesmo. Mas, quando chove, eu tenho de correr para me proteger embaixo da proteção de alguma loja ou casa”, contou. Para ela, o principal motivo de não haver mais pontos de ônibus cobertos na cidade seria a depredação desses equipamentos, causada pela própria população. “Eu vi vários sendo colocados. Pouco tempo depois, já estavam todos quebrados. Então, ou é isso ou é descaso da prefeitura, mesmo”, disse.
Motivo
De acordo com a STTP, as principais razões para não existir mais pontos cobertos na cidade são os custos elevados para a instalação e a infraestrutura urbana
Em Campina, as paradas e os abrigos (nomenclatura dada quando eles possuem assentos e cobertura) são responsabilidade da Superintendência de Trânsito e Transportes Públicos (STTP). Ao todo, são 1.912 paradas de ônibus e 470 abrigos administrados pelo órgão. Conforme Araci Brasil, gerente de transportes na STTP, as principais razões para não existir mais pontos cobertos na cidade são duas: os custos elevados para a instalação do abrigo e a infraestrutura urbana. “Há alguns anos, o preço para colocar um abrigo de ônibus era metade do que é hoje. Além disso, há a depredação do espaço. Nós instalamos uma cobertura e, no dia seguinte, algum cidadão passa e cola propagandas, picha, quebra ou rouba”, argumentou.
Além de fatores financeiros, ela disse que nem todo lugar comporta a instalação de abrigos. “A calçada não pode ser estreita. Também acontece de a parada ser na frente de uma casa, e o morador não querer o abrigo ali, pois alguém pode subir e pular para dentro da sua residência. Já quando a casa é muito pequena, o abrigo pode prejudicar a entrada do veículo na garagem. Nós precisamos entender que, às vezes, o proprietário é desfavorecido. Tudo isso precisa ser pensado”, ressaltou. Ela ainda acrescentou outro motivo: a recomendação do sistema de transportes do país para não colocar abrigos em todas as paradas, por causa da poluição visual. “Então, colocamos os piquetes amarelos, indicando ao morador que ali passa ônibus”.
Ainda de acordo com a STTP, para determinar quais pontos terão apenas um piquete e quais receberão um abrigo completo, são analisados os dados de embarque e desembarque de passageiros na região. “Na Avenida Almirante Barroso, por exemplo, temos um piquete num local em que o fluxo não chega a 60 passageiros, e um abrigo num ponto que atende mais de 500, diariamente”, explica Araci. Por fim, o órgão informou que nenhuma parada ultrapassa a distância de 500 metros de uma para a outra.
Estudantes reivindicam ônibus e lombada
Em João Pessoa, os alunos da Escola Técnica Estadual Pastor João Pereira Gomes, localizada em Mangabeira, reivindicam a instalação de uma faixa de pedestre e de uma lombada eletrônica na Av. Hilton Souto Maior, para melhorar a segurança viária no local. Essas reivindicações foram solicitadas à Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob-JP), por meio de um protocolo administrativo no site da Prefeitura de João Pessoa e por um requerimento que tramita na Câmara Municipal de João Pessoa, de autoria do vereador Marcos Bandeira.
Segundo o requerimento, a referida avenida necessita desse serviço, pois a colocação de faixa para pedestres e lombada eletrônica ajudará os pedestres na travessia da via, evitando que ocorram atropelamentos e acidentes de trânsito. Além do requerimento, foi enviado um abaixo-assinado ao prefeito Cícero Lucena, com 678 assinaturas de alunos, professores e pessoas que moram e trabalham no entorno, solicitando essas melhorias.
Agenda 2030
De acordo com o professor de Educação Tecnológica Midiática, Manoel Messias, lutar por melhorias no acesso à escola estimula o protagonismo dos alunos. “Estamos trabalhando a educação no trânsito desde o Maio Amarelo, então, criamos um projeto para melhorar a segurança viária no acesso à escola. Eu apenas direciono os caminhos, mas o protagonismo é todo deles”, explicou. Intitulado “No Trânsito: Somos Todos Condutores da Paz”, o projeto se baseia no quarto objetivo para o desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 da ONU, que é a educação de qualidade, cujo objetivo é assegurar uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade.
"Nenhum dos nossos 500 alunos é beneficiado com essa parada. O ideal seria que existissem opções de ônibus que passassem pela escola"
- Manoel Messias
Além dessas solicitações, o professor Manoel acrescenta que o único ônibus que passa em frente à escola não atende os alunos, que moram nos bairros Muçumagro, Valentina, Paratibe e Mangabeira 5. “Nenhum dos nossos 500 alunos é beneficiado com essa parada. O ideal seria que existissem opções de ônibus que passassem pela escola e que tivessem um retorno próximo à escola. Parte dos alunos tem que ir até o Mangabeira Shopping, para pegar ônibus”, contou.
Ana Beatriz da Silva, 15 anos, é uma das alunas que moram no bairro Paratibe. Para chegar à escola, ela precisa pegar dois ônibus. Para isso, tem que sair de casa às 6h, ou não consegue chegar a tempo. Ela vai acompanhada da sua mãe, que também trabalha na instituição. “Antes, eu vinha sozinha, de ônibus. É muito desgastante, os ônibus estão sempre lotados”, disse.
Já a estudante Dafne Rodrigues, moradora do Geisel, é levada pelo pai, de carro, mas ainda enfrenta complicações, devido ao congestionamento do trânsito. “Meu pai tem que sair de casa mais cedo, para me deixar na escola. No entanto, como é horário de pico, acaba congestionando. Se tivesse um ônibus direto, facilitaria o acesso à escola”, analisou.
Semob-JP
O professor Messias informou que abriu uma solicitação administrativa na plataforma da Prefeitura de João Pessoa, cujo número de protocolo é 79.995/2024. O último despacho ocorreu no dia 7 do mês passado, com a seguinte observação: “Ciente, em agendamento para análise técnica”. A Semob-JP informou que a solicitação se trata de uma faixa de pedestre e lombadas eletrônicas; mas ambas existem a 60 m do local solicitado. Mesmo assim, uma equipe vai avaliar a situação. A demanda de solicitações é alta e segue a cronologia dos pedidos.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de julho de 2024.