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Consumidores não conseguem pagar contas básicas mensais, como a de energia

Paraíba tem 1,1 milhão de pessoas negativadas

publicado: 27/06/2022 09h01, última modificação: 27/06/2022 09h01
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Foto: Pixabay

por Thadeu Rodrigues*

O aumento da inflação e dos juros, o alto índice de desemprego e a perda de renda do trabalhador criam um cenário econômico que propicia o crescimento da inadimplência, no Brasil. Conforme o Indicador de Inadimplência da Serasa Experian, em abril deste ano, 1.161.347 pessoas estavam nesta situação, na Paraíba. O valor médio das dívidas por CPF é de R$ 1.218,68. O país alcançou o número recorde de 66.132.670 pessoas com o nome negativado, o maior da série histórica, iniciada em 2016. As dívidas são referentes aos setores de bancos e cartões (28,1% do total), financeiras (12,4%) e itens básicos como contas de água, energia elétrica e gás (22,9%).

O economista e professor da UFPB, Cássio da Nóbrega, afirma que o valor médio dos débitos evidencia que a situação é mais preocupante sobre as pessoas com menores rendimentos. “São consumidores que não conseguem pagar contas básicas mensais, como a de energia elétrica”, destaca.

Cássio da Nóbrega explica que o contexto econômico do Brasil propicia a inadimplência do consumidor. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, é de 11,73%, no acumulado dos últimos 12 meses. A Taxa Selic continua subindo, alcançando o índice de 13,25%. O desemprego no Brasil foi de 11,1%, no primeiro trimestre de 2022. Já o rendimento médio mensal por pessoa caiu 6,9% em 2021 e passou de R$ 1.454 em 2020 para R$ 1.353, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua.

“A população perde poder de compra e a inflação corrói o consumo das famílias. Quem utiliza o crédito rotativo e não consegue pagar, arca com juros de 300% ao ano. Muitos consumidores não se dão conta e pagam o mínimo do cartão de crédito, em uma situação que se transforma numa bola de neve”, comenta o economista.

Foi o desemprego na família que desarrumou o orçamento da servidora pública Denise Araújo. Quando o marido perdeu o emprego, em 2019, ela teve de arcar com as contas e, com a redução de renda familiar, o cartão de crédito não foi pago. “Atrasamos uma fatura de R$ 500, mas os juros eram muito altos e demos prioridades a outros débitos, como a compra de itens alimentícios”, explica.

A situação não ficou mais fácil e Denise Araújo ainda não conseguiu regularizar sua pendência. “Estamos sem crédito, o que é muito ruim para nosso consumo. Utilizamos o cartão de minha mãe e o de minha sogra para comprar o que precisamos. Mas, a inflação, principalmente a dos alimentos, ocupa grande parte de nossa renda familiar”, lamenta.

Planejamento

O economista Cássio da Nóbrega recomenda que as famílias façam um planejamento do orçamento familiar para quitar as dívidas e eleger as prioridades de consumo. “É preciso ter ciência de sua receita e despesas. No caso de uma dívida de cartão de crédito, vale buscar um financiamento. Mas, antes, é preciso pesquisar as taxas de juros do empréstimo e o tempo de pagamento”.

Ele recomenda que o recebimento de valores nesta época do ano pode ajudar no processo de quitação das dívidas, a exemplo do pagamento do 13º salário aos servidores públicos, no caso do Governo da Paraíba e de diversas prefeituras; ou do saque extraordinário do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Desde 20 de abril, o pagamento é de até R$ 1 mil e tem ocorrido conforme o mês de nascimento do trabalhador.

No recorte por faixa etária, a pesquisa da Serasa mostra que os inadimplentes estão, em sua maioria, nas faixas de 26 a 40 anos de idade (35,2%) e de 41 a 60 anos (34,8%). Na comparação com abril de 2021, o setor de Financeiras apresentou o maior crescimento na representatividade do total de inadimplência, passando de 9,6% para 12,4%.

Negociação

O consumidor também pode negociar seus débitos. A Serasa Experian realizou um levantamento de todas as ofertas disponíveis na plataforma Limpa Nome com as mais de 100 empresas parceiras e contabilizou mais de 15 milhões de ofertas que podem ser quitadas por até R$ 100 em bancos, financeiras, securitizadoras, empresas de telefonia, varejo e universidades, que oferecem descontos diferenciados.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 25 de junho de 2022.