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Censo do IBGE

Paraíba tem maior alta de pardos do Nordeste

publicado: 26/12/2023 08h58, última modificação: 26/12/2023 08h58
Levantamento de 2022 mostrou que a população que se autodeclarou parda no estado cresceu 11,1% em 12 anos
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Número de pessosas que disseram pertencer à cor amarela saiu de 48.487, em 2010, para 4.912 no ano passado, queda de 89,9% - Foto: Ortilo Antônio

por Alexsandra Tavares*

A Paraíba registrou a maior alta do Nordeste no crescimento da população que se declarou parda na pesquisa do Censo Demográfico 2022, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que fez um recorte étnico-racial dos brasileiros. No Censo de 2010, 1.986.619 paraibanos tinham se declarado pardos, e no levantamento de 2022 esse número passou para 2.207.880, refletindo uma alta de 11,1%.

A predominância mais elevada da população parda foi observada no município de Santana de Mangueira (72,1%), seguido por Cacimbas (71,9%) e Riacho de Santo Antônio (70,3%).
Por outro lado, o Estado teve queda de 89,9% no volume da população que se declarou amarela, saindo de 48.487 pessoas (em 2010) para 4.912 no Censo 2022. Juntamente com a Bahia, essa foi a terceira maior queda entre os estados da região nessa cor/raça. Veja o quadro com índices do Nordeste por cor/raça.

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Foto: Arquivo Pessoal
As pessoas ainda guardam a questão de serem ou se sentirem pertencentes a algo ao qual elas não pertencem. Isso é uma realidade e já está sendo estudada na sociedade. É como alguém que é um assalariado, compra um carro em 60 parcelas, um imóvel financiado em 30 anos, e já se considera rico. É a condição psicossomática dele em se considerar de uma classe que não é de fato - João Damaceno

O professor de Geografia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) João Damaceno, que trabalha com geoprocessamento e análise de dados espaciais e censitários, explicou que os dados do IBGE consideram o sentimento de pertencimento da população, ou seja, vale como as pessoas se enxergam na sociedade.

“No Nordeste, o cruzamento das raças fez com que houvesse uma reestruturação no contingente que viria a ser a população paraibana. Então, temos há algumas décadas uma grande população de pardos. Esse termo pardo é o intermediário entre o que você é, pela condição da cor da pele, e o que você aparenta. Isso porque, antropologicamente falando, se você tem traços indígenas, de afrodescendentes, isso vai se manifestar na cor da pele ou, vulgarmente falando, na fibra do cabelo, que também é um identificador”, disse o professor.

E acrescentou: “As pessoas ainda guardam a questão de serem ou se sentirem pertencentes a algo ao qual elas nem pertencem. Isso é uma realidade e já está sendo estudada na sociedade. É como alguém que é um assalariado, compra um carro em 60 parcelas, um imóvel financiado em 30 anos, e já se considera de classe média ou alta, rico. É o sentimento dele, é a condição psicossomática dele em se considerar de uma classe que não é de fato”, frisou Damaceno.

Segundo o professor, há muitas pessoas que não conseguem se ver da raça parda. Por outro lado, a população paraibana tem uma interferência grande do fluxo migratório de pessoas que vêm de outras regiões para morar no estado. Ainda vale considerar aqueles que estão retornando para a terra natal. “Porque a Paraíba é um estado muito atrativo”, disse o professor.

Com relação à queda de 89,9% na quantidade de pessoas que se consideram da raça amarela, o professor disse que no passado houve um período longo de migração de orientais no país, mas esse fluxo foi diminuindo, depois se estabilizou. Nesse processo, e com o passar dos anos, houve o cruzamento de pessoas consideradas amarelas com outras de pele parda ou preta, por exemplo.

“É essa situação que o Darcy Ribeiro (antropólogo, sociólogo, historiador) diz que não há como evitar, não há como não reconhecer e fortalecer esse cruzamento de raças que dá as características do povo brasileiro. O que vai ser maior ou menor vai depender da condição com a qual esse fenômeno está se dando. É por isso que a gente precisaria ver, numa escala temporal de, pelo menos 30 anos, qual está sendo a tendência”.

Análise por sexo
O levantamento do IBGE ainda mostrou que, segundo o sexo, mais mulheres paraibanas (18,8%) do que homens (16,9%) se autodeclararam como pessoas brancas. Os números se invertem para a cor/raça preta, com mais homens (4,2%) do que mulheres (3,8%) se autodeclarando como pessoas pretas. Para os que se consideraram pardos, obteve-se um maior percentual de mulheres (28,7%) que de homens (26,9%). Em 2010, já ocorria a mesma tendência para essas raças/cores no estado.

Vale ressaltar que as populações preta e parda ganharam participação entre as pessoas de todos os recortes de idade, assim como também ocorreu com a população indígena.

Enquanto população branca reduz, a negra registra alta de quase 50%

No retrato atual da Paraíba, dos 3.974.687 de habitantes do estado, 35,72% (1.419.778) se declararam brancos; 7,96% (316.572) pretos; 55,54% (2.207.880) pardos; 0,12% (4.912) amarelos; e 0,75% (30.140) indígenas. Nos últimos 12 anos, a pesquisa mostrou que a população negra teve queda de 48,6%. Veja tabela abaixo.

Em um país historicamente conhecido pela mistura de raças como o Brasil, o Censo 2022 apontou que em todos os estados da Federação, a incidência da população declarada como branca supera a de preta. A única exceção foi a Bahia, onde 2.772.837 de pessoas declararam ser pertencentes à cor branca e 3.164.691 à cor preta.

Para o professor da UEPB, João Damaceno, apesar do volume considerável de pessoas que se audeclararam brancas, há municípios que concentram habitantes negros. “É uma realidade diferente daquela da Bahia, mas temos uma população considerável de negros. Tudo isso são elementos que nos fazem refletir sobre a condição do ser e não do ter, ter a cor branca ou ser preto. Então, isso é relativo”, declarou.

Distribuição

O IBGE ainda mostrou a predominância da população por raça/cor dentro dos municípios. Na Paraíba, apesar da população parda ser maioria no somatório total de habitantes, há cidades que concentram, individualmente, pessoas de determinada etnia.

Em 217 municípios do estado predominam aqueles pertencentes à cor parda, já em quatro cidades têm mais habitantes declarados brancos. São elas: Carrapateira (61,0%), Várzea (48,6%), Parari (48,6%) e Coxixola (46,8%). Em relação à população preta, temos as maiores proporções nos municípios de Conde (16,6%), São Domingos (15,9%) e Pitimbu (14,9%).
Em dois municípios houve o registro de mais moradores que se autodeclararam indígenas: Marcação (8.999 indígenas) e Baía da Traição (9.224 indígenas). Na primeira cidade, a população indígena representa 88,1% dos moradores e na segunda 86,6%.

Mudança em 12 anos

Variação da população do Nordeste por cor ou raça (2010-2022)

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 Saiba Mais

No Censo Demográfico de 2010, a população paraibana era de 3.766.528 moradores e nessa atualização do Censo Demográfico 2022, o número passou para 3.974.687, alta de 5,52%. Já a população do Nordeste saiu de 53.081.950 habitantes (em 2010) para 54.658.515 (em 2022), um aumento de 3%. 

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 23 de dezembro de 2023.