por Mayra Santos*
Hoje (13) é celebrado o Dia Nacional da Cachaça - patrimônio do Brasil -, sendo conhecida como “pinga” ou “branquinha”, entre outras denominações. A data foi instituída em 2009 pelo Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac) e é uma homenagem ao dia em que a bebida passou a ser oficialmente liberada para a fabricação e venda no Brasil, em 1961. No ranking nacional, a Paraíba ocupa o sétimo lugar, por estado, na produção de cachaça por alambique e industrial e é o primeiro no quesito produção total, ficando entre 22 a 25 milhões de litros de cachaça por safra.
Os dados constam no Anuário da Cachaça de 2021. De acordo com Marise Barreto, diretora executiva da Associação Paraibana dos Engenhos de Cachaças de Alambique, a cachaça é um produto sazonal, fabricado nos engenhos, sendo o melhor período para sua produção depois do inverno e pode ir até novembro; em alguns casos, até dezembro, sendo em torno de três a quatro meses de produção. Ela informou que a Paraíba é um estado peculiar por produzir cachaça do Litoral ao Sertão, “desde a Zona da Mata até o alto Sertão paraibano”.
Ela explicou como funciona todo processo de produção da “pinga”. que começa desde a colheita da cana-de-açúcar, passando pela moagem, em seguida pela fermentação, para prosseguir com a destilação. Feito isso, inicia-se o processo de envelhecimento, fundamental para garantir a qualidade do produto. Por fim, ocorre o engarrafamento para venda.
No processo de produção de cachaça, segundo Marise Barreto, primeiro acontece a colheita da cana in natura, isto é, sem ser queimada. Ela explicou que a cana é colhida e levada para o pátio de engenho, tendo que ser moída dentro do prazo de 24h, para garantir a qualidade final do produto. Em seguida, é feita a moagem, processo em que é extraído o caldo da cana, que vai para umas dornas - as chamadas dornas de fermentação. Nesse processo, o açúcar da cana vai ser convertido em álcool e gás carbônico.
Feito isso, a etapa seguinte é a destilação. Nela, o caldo da cana que estava nas dornas de fermentação vai para o destilador, que é o alambique. Ali, o produto vai ser aquecido, constituindo num destilado com teor de álcool muito maior do que o produto inicial.
O processo de envelhecimento da cachaça é feito por meio de armazenamento em madeiras nobres, que podem ser importadas ou nacionais. “As importadas são os carvalhos, que são os mais utilizados para o envelhecimento do produto. Esse processo também pode acontecer em um material de inox, numa madeira neutra, sem cor nem sabor, sendo que a mais utilizada na Paraíba é o Frejó do Pará, porque justamente não altera a cor e o sabor, garantindo a qualidade”, ressaltou Marise.
Ela informou ainda que esse processo de envelhecimento pode durar em torno de seis meses a um ano, dependendo do produtor. Entre os tipos de madeiras utilizados estão: o carvalho, podendo ser o americano, o francês ou outro europeu; a madeira umburama, jaqueira, amendoim, bálsamo e jequitibá rosa.
Municípios que mais se sobressaem na produção
As cidades paraibanas que mais se destacam nesse cenário são Areia, Cruz do Espírito Santo, Alagoa Grande, Bananeiras, Guarabira. Toda a região do Brejo possui uma significativa representatividade nesse ramo. Areia é reconhecida por lei como a Capital Paraibana da Cachaça, e Cruz do Espírito Santo é o maior produtor de cachaça de alambique do Brasil, com o engenho São Paulo.Thiago Baracho, presidente da Associação de Produtores de Cachaça de Areia, afirmou que o título adquirido pela cidade não foi só pela quantidade de estabelecimentos produtores, mas por possuir a maior arrecadação de ICMS da Paraíba sobre o produto. “Hoje são 11 produtores de cachaça que fabricam legalmente, mas, de acordo com dados da Receita Estadual, Areia representa 45% da arrecadação estadual sobre o produto”, informou.
Marise Barreto acrescentou ainda que são 40 o número de engenhos de produção de cachaça registrados, mas ultrapassa o número de 100 engenhos na informalidade. Além disso, ela informou que a produção de cachaça gera aproximadamente 20 mil empregos de forma direta e indireta. Diante disso, ela ressalta que fica constatado que a cachaça é muito mais que uma bebida para entretenimento. Trata-se da cultura de um povo, que promove a economia e o turismo da Paraíba.
História
A trajetória da cachaça é de longa data, coincidindo com a história do país. De acordo com o Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), a história da bebida está vinculada à colonização do Brasil. Não se sabe ao certo quando ocorreu a primeira produção, mas afirma-se que foi em algum engenho situado no Litoral do país, por volta de 1516 e 1532. Há várias histórias com relação ao surgimento da cachaças, mas só duas delas são aceitas pela relação lógica.
A primeira hipótese é de que os portugueses teriam improvisado uma bebida a partir da fermentação e destilação de derivados da cana-de-açúcar, que produzia o mesmo efeito prazeroso do destilado português: o destilado de uva. Já a outra versão conta que nos engenhos de açúcar, durante a fervura da garapa, surgia a espuma que era retirada dos tachos e jogada nos cochos dos animais.
Com o tempo, o líquido fermentava e se transformava num caldo a que se dava o nome de “cagaça”, que parecia revigorar o gado. Percebendo esses efeitos, os homens escravizados na época experimentaram e passaram também a bebê-lo. Como os portugueses já conheciam a técnica de destilação, começaram a destilar o mosto fermentado da cagaça.
Instituto brasileiro vai participar de evento em JP
O 2º Seminário e Feiras de Cachaças do Brasil será lançado hoje, às 17h30, no terraço do Hotel Litoral, em João Pessoa. O evento contará com a participação de representantes do Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), Associação Paraibana de Produtores de Cachaça de Alambique (ASPECA) e Associação de Produtores de Cachaça de Areia (APCA). O evento ocorrerá nos dias 20, 21 e 22 de outubro, no Espaço Cultural José Lins do Rego, com objetivo de promover a cadeia produtiva com exposição e comercialização dos produtos.
Consumo
Para Fernanda Melo, promotora do evento, “a cachaça é a bebida mais consumida no país, o que representa um grande desenvolvimento no setor econômico, além de toda sua cadeia produtiva, porque não é só o líquido cachaça, mas as garrafas, enfim, todo o mercado que envolve a bebida. O Brasil Cachaças vai mostrar as bebidas não só do estado, mas do Brasil inteiro, como também enaltecer o quanto as cachaças da Paraíba estão bem posicionadas, não só em quantidade, mas em qualidade”, ressaltou.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 13 de setembro de 2022.