O recente caso de infecção por HIV em seis pacientes que receberam órgãos transplantados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Rio de Janeiro, acendeu um sinal de alerta sobre a segurança desses procedimentos em todo o país, mostrando que o sistema, embora robusto, não é infalível. No entanto, apesar da gravidade da situação, a diretora da Central de Transplantes da Paraíba, Rafaela Dias, assegura que o processo, no estado, é seguro e monitorado de perto pela Secretaria de Estado da Saúde (SES). “Nossos exames de sorologia são realizados com total segurança, pelo Hemocentro e pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), seguindo todos os protocolos de qualidade e vigilância”, garante.
O que aconteceu no Rio de Janeiro foi resultado, segundo ela, de “falhas gravíssimas” no controle de qualidade, durante o processo de captação dos órgãos. Nos testes realizados pelo laboratório privado PCS, contratado pela Fundação Saúde — ligada à SES daquele estado —, para realizar a sorologia, não foi identificada a presença do vírus nos doadores, resultando na contaminação posterior de seis receptores. Inédito no país, o caso surpreendeu não apenas os pacientes envolvidos, mas o próprio Ministério da Saúde, que reafirma que o Sistema Nacional de Transplantes é reconhecido como um dos mais seguros e transparentes do mundo.
De acordo com Rafaela, antes mesmo de o caso vir à tona, representantes dos dois órgãos convocaram uma reunião com todas as centrais estaduais para discutir o ocorrido e solicitar informações detalhadas sobre a logística dos transplantes e os procedimentos de testagem realizados em cada localidade. A Paraíba, de acordo com a diretora, foi rápida em fornecer as notas técnicas, reforçando que esse tipo de risco não existe aqui. “Nós não dependemos de laboratórios terceirizados para realizar os exames. Tudo é feito pela rede estadual, o que nos permite o controle direto e rigoroso. Temos relatórios mensais e acompanhamento constante de qualidade”, afirma.
Sistema é seguro
Com 227 transplantes realizados apenas neste ano — e 649 pessoas aguardando na lista de espera —, a Paraíba precisa que as doações continuem sendo feitas. Mesmo diante do receio causado pelo caso carioca, a diretora enfatiza que é fundamental. “O que aconteceu no Rio nunca aconteceu na Paraíba. A doação de órgãos aqui é criteriosa, pois temos um sistema de transplantes sólido e seguro. As pessoas podem confiar”, enfatiza Rafaela, ressaltando que um único doador pode salvar até seis vidas.
No estado, o processo de doação segue um protocolo rigoroso, desde o momento em que a família autoriza a doação até a realização dos transplantes. De acordo com ela, assim que a doação é autorizada, a equipe da Organização de Procura de Órgãos (OPO) coleta as amostras de sangue, que são enviadas ao Hemocentro e ao Lacen, onde são realizados exames para detectar HIV, hepatites, sífilis e outras doenças, assegurando que não haja riscos para o receptor. “A repetição das sorologias acrescenta uma camada extra de segurança ao processo”, diz.
Além disso, ela reforça que todos os serviços de transplante no estado são submetidos a uma vigilância austera e contínua. “Contamos com um acompanhamento cuidadoso, desde o Hospital Metropolitano, que realiza transplantes de coração, até as clínicas e hospitais que fazem transplantes de córnea, fígado, rim e medula óssea”, explica. Outro ponto importante mencionado por ela é que, durante o período crítico no Rio de Janeiro, nenhum órgão proveniente daquele estado foi transplantado na Paraíba, reforçando ainda mais a segurança dos procedimentos realizados no estado.
Com 649 pessoas na lista de espera, estado precisa que as doações continuem; um só doador pode salvar até seis vidas
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 15 de outubro de 2024.