A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro. Tal singularidade, no entanto, nunca foi suficiente para que, no decorrer da história, recebesse a devida atenção do Poder Público. De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), 34 milhões dos seus 82,6 milhões de hectares já foram perdidos para o desmatamento e as mudanças climáticas. Na contramão disso, a Paraíba, cujo território é coberto majoritariamente pela Caatinga (cerca de 90%), tem adotado medidas importantes para a preservação e a recuperação desse ecossistema, incluindo ações de educação ambiental, fiscalização e monitoramento do território.
Esses esforços acontecem em oposição à desertificação, que avança por todo o Nordeste, como alerta a secretária estadual do Meio Ambiente e Sustentabilidade, Rafaela Camaraense. Segundo ela, o processo ora em curso é um problema grave, que precisa ser combatido de forma estratégica, com ações específicas. Um exemplo disso é a criação do Fundo Caatinga, sugerida pelo Consórcio Nordeste ao Ministério do Meio Ambiente, que prevê a destinação de recursos para a conservação e o desenvolvimento sustentável do bioma. “A Caatinga é um tema prioritário, para nós. Em todos os estados, há uma zona de desmatamento. Precisamos de união, para agirmos com o mesmo objetivo”, enfatiza a secretária. Esse trabalho conjunto, de acordo com ela, busca não apenas mitigar a quantidade de áreas desmatadas no estado, mas restaurar o que já foi perdido.
Quando se fala em desmatamento, é comum pensar na derrubada de árvores frondosas e associar o problema à exploração ilegal de madeira por grandes empreendimentos. No entanto, esse processo também ocorre no dia a dia do pequeno e médio produtor, que, ao cultivar ou criar animais, acabam suprimindo partes consideráveis de um ecossistema, sem reconhecer a sua importância. “Quando veem a mata seca, as pessoas acham que ali não tem vida, só enxergam aquela vegetação como lenha. E isso não é verdade. Basta cair uma chuvinha, para tudo ficar verde”, reflete Rafaela.
Fiscalização e educação
Na Paraíba, o desmatamento que avança pelo interior está intimamente ligado à produção de móveis e lenha, práticas ilegais que estão sendo combatidas com o apoio da Polícia Ambiental e da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema). Conforme Rafaela, há um esforço significativo, em todo o estado, para extinguir essas atividades, como também uma forte preocupação em proporcionar educação ambiental para os produtores rurais. “Com conhecimento, conseguiremos mitigar a degradação ambiental. Assim, as pessoas entenderão como deve ser feita a retirada da madeira, quando for necessário, e como evitar práticas prejudiciais”, explica.
Além do combate direto ao desmatamento, com ações de fiscalização, a secretária destaca a importância de conscientizar a população sobre a relevância da Caatinga, em termos de biodiversidade. “Quando conhecemos algo, tendemos a protegê-lo melhor. Precisamos mostrar toda essa riqueza à população”, ressalta.
Ela lembra que, no interior paraibano, não é raro o produtor praticar a coivara, que consiste em limpar o terreno e atear fogo nos restos de madeira e vegetação, sem a noção de que está prejudicando a natureza e todo o entorno, já que as chamas podem se alastrar para outros lugares. No entanto, embora isso faça parte do repertório cultural de muita gente, é preciso remediar a falta de informação com educação, despertando o senso ambiental nas pessoas. “Não adianta chegarmos com a mão forte do Estado e apenas punir as pessoas. Muitas vezes, elas não sabem o que está acontecendo”, analisa.
Juventude empoderada
Como parte desses esforços, o Governo do Estado lançou, recentemente, o Projeto Agente Jovem Ambiental, com o objetivo de envolver a juventude paraibana em ações ligadas ao meio ambiente e à sustentabilidade. Ao todo, dois mil estudantes da Rede Estadual de Ensino serão beneficiados com bolsas de incentivo, a partir do segundo semestre deste ano, com o intuito de empoderá-los no campo ambiental.
Para Rafaela Camaraense, não basta somente fiscalizar; é preciso criar uma consciência coletiva, e isso começa com a juventude. “Vamos transmitir diversos conhecimentos. Se o estudante estiver inserido no Semiárido, terá mais conteúdo sobre a Caatinga”, exemplifica. O edital para a inscrição será aberto no próximo mês, conforme ela adiantou.
Desertificação na Paraíba
Para garantir a preservação da Caatinga e evitar ações ilegais que comprometam o bioma no estado, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Sustentabilidade mantém áreas prioritárias, sujeitas à desertificação, em constante monitoramento. A fiscalização é feita via satélite, permitindo que qualquer interferência humana seja rapidamente coibida. Para este ano, devido à possibilidade de a Paraíba enfrentar períodos mais quentes e secos, a pasta já está em contato com o Corpo de Bombeiros, para antecipar as estratégias de combate às queimadas. “Vamos monitorar, durante as 24 horas do dia, o que está acontecendo em nosso estado, para nos precavermos o máximo possível”, diz Rafaela.
Além desse monitoramento, ela considera essencial avaliar, de forma mais assertiva, as condições do bioma no território paraibano, pois cada situação pode demandar uma solução diferente. “No Alto Sertão, entre os municípios de Aguiar e Carrapateira, temos uma Caatinga muito densa. Já perto de Remígio, a vegetação é mais baixa”, ilustra. Desse modo, cada região requer uma abordagem específica para restabelecer o bioma.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 17 de junho de 2024.