Notícias

penha

Refúgio para uma vida tranquila

publicado: 16/07/2024 09h14, última modificação: 16/07/2024 09h14
Conhecido pela praia de mesmo nome e sua tradicional romaria, bairro satisfaz moradores por calmaria e segurança
1 | 3
Além da pesca, as principais atividades comerciais do local incluem restaurantes à beira-mar e passeios de barco | Fotos: Leonardo Ariel
2 | 3
Romaria atrai 300 mil fiéis
3 | 3
2024.071111.jpg
333.jpg
2024.074.jpg

por Samantha Pimentel*

Quem chega à Praia da Penha encontra um cenário tranquilo e paradisíaco. As pessoas que residem no local dizem que é como morar no interior, só que em plena capital paraibana.

A região é vista como um refúgio para quem busca tranquilidade e qualidade de vida, onde grande parte de seus mais de 800 moradores vive da pesca ou de atividades comerciais ligadas ao turismo — já que, nos fins de semana, a praia costuma atrair um intenso movimento de banhistas.

O bairro da Penha abriga, ainda, o Santuário de Nossa Senhora da Penha, que organiza uma tradicional romaria, tombada como Patrimônio Cultural Imaterial de João Pessoa.

Ofício de tradição

O pescador e presidente da Cooperativa de Pescadores do local, José Paulino de Lima Filho, conhecido como Zeca, diz ter nascido na área e aprendido o ofício da pesca com seu pai. Residente do bairro há mais de 50 anos, ele comenta o trabalho dos 11 pescadores cooperados do lugar, que tiram seu sustento do mar. “Tem épocas em que o vento não permite que a gente vá pescar de jangada, porque é arriscado; quem vai de barco maior, vai e pesca. E, os peixes, a gente já vende por aqui mesmo, todo mundo compra. Tem gente que vem de fora e compra peixe aqui”, relata.

Além da pesca, segundo Zeca, os habitantes da Penha sobrevivem do turismo, incluindo o comércio de artesanato ou artigos religiosos, venda de comidas e bebidas em barracas e restaurantes à beira-mar, ou mesmo a oferta de passeios de barco para as piscinas naturais da região. Para o pescador, “a Penha é como um ‘interior’ dentro de João Pessoa”, apesar de ele reconhecer que o bairro cresceu bastante nas últimas cinco décadas. “Você mora aqui e se acostuma com a rotina, e eu mesmo torço para não mudar — mesmo sabendo que vai mudar, amanhã ou depois —, porque se passar disso, para mim, é exagero”, destaca.

Entre as mudanças trazidas pelo tempo, Zeca lembra que, antigamente, havia mais pescadores no local, mas o número se reduziu, com o passar dos anos, porque, enquanto a atividade perdeu parte de sua lucratividade, os filhos desses trabalhadores não quiseram seguir no ramo e preferiram morar em outros lugares. “Eles foram buscar uma vida melhor. Hoje, muitos aqui não querem mais pescar, e a gente entende. A pesca não rende tanto quanto rendia antes e os filhos veem os pais naquela dificuldade. Eles querem ganhar mais dinheiro, e a pesca não dá tanto dinheiro”, avalia.

Comércio integra laços comunitários na região

O comerciante Agnaldo Cavalcanti de Oliveira é outro típico morador da Penha. Filho de Zé do Peixe, que teria fundado a primeira peixaria do local, ele assumiu o negócio da família e vive no bairro com boa parte dos parentes. Agnaldo diz manter clientes tradicionais e abastecer seu comércio com produtos dos próprios pescadores dali, elogiando a integração comunitária: “As pessoas são as mesmas; claro, os mais velhos vão falecendo, aí ficam as gerações novas. É uma comunidade simples, mas é bom. É tranquilo demais, não penso em sair daqui”.

Genival Viana Silva tem uma história diferente: ele revela ter vindo de Salvador, Bahia, para trabalhar em uma empresa de construção civil na Paraíba, e, após terminar os serviços, há cerca de 30 anos, decidiu adquirir um ponto comercial e ficar na Penha. “Morar aqui é muito bom, gosto demais. Eu trabalho no comércio. Vendo lanches, santos e terços, e a movimentação é boa por aqui”, afirma Genival, que também constituiu família no bairro.

Outra comerciante que escolheu a Penha para morar é Aline Gouveia, proprietária de um restaurante à beira-mar. Segundo ela, viver no local era um sonho de sua falecida mãe. “Minha mãe amava esse lugar e eu não tive condição, na época, de realizar o sonho dela. Então, como ela partiu, hoje eu vivo esse sonho”, explica Aline, que vive no bairro há 16 anos e, atualmente, ainda trabalha como presidente da Associação Comunitária dos Moradores da Penha e como Coordenadora do Projeto Sereias da Penha — voltado à produção de peças de artesanato feitas por sete mulheres, a partir de escamas de peixe.

Aqui, todo mundo se conhece e as crianças podem ir à escola sozinhas   --   Aline Gouveia

Em seu restaurante, Aline emprega oito pessoas e também oferece passeios às piscinas naturais da região. Assim como Agnaldo, ela compra, no próprio bairro, grande parte dos ingredientes utilizados em seus pratos (como peixes, camarões, frutas e coco verde) e frisa a segurança e a tranquilidade como grandes vantagens do local: “Hoje, a Penha é um dos poucos lugares em que você pode viver tranquila. Você vê outras regiões de João Pessoa que estão muito violentas, e, aqui, pode deixar seu filho brincar, todo mundo se conhece. As crianças podem ir para a escola sozinhas, não tem perigo, é um lugar calmo para se viver. Eu não deixo isso aqui por nada na minha vida”.

Devoção

Além da praia, outro atrativo local de destaque é a Romaria de Nossa Senhora da Penha. Realizada há mais de 250 anos, a celebração é um dos mais antigos eventos católicos de João Pessoa, reunindo cerca de 300 mil romeiros, que visitam a região para pedir graças, pagar promessas ou agradecer bênçãos recebidas.

O nome da praia, a propósito, se dá em homenagem à santa, cuja devoção começou em 1763, quando o português Sílvio Siqueira teria feito um apelo à Virgem Maria. Junto à tripulação de sua embarcação, que enfrentava uma grande tormenta no Litoral paraibano, Sílvio rezou, pedindo que todos aportassem em segurança. Retribuindo a graça alcançada, ele ergueu uma capela no lugar onde desembarcou — a então Praia de Aratú, hoje chamada Praia da Penha.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 16 de junho de 2024.